Rock in Rio: Mistura do funk com música clássica promete contagiar público do Espaço Favela

O grupo Funk Orquestra se apresenta neste domingo (4) e vai embalar ritmos que ainda fazem sucesso
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

A inquietude do produtor de Fabio Tabach, um dos grandes nomes do funk desde o “boom” do ritmo nas favelas e fora delas, fez com que surgisse a Funk Orquestra. A banda mistura os batidões que fizeram e fazem sucesso, com a música erudita. E, para tornar esse sonho realidade, se juntou a outra lenda, o DJ Phabyo, famoso pelos beats que transformou o Castelo das Pedras em um dos bailes mais conhecidos do Brasil. Tudo isso pensando, é claro, em homenagear os 30 anos de funk no Brasil. 

“Essa inquietude começou lá trás, no início do funk no Brasil. Eu era dono de baile e vi o preconceito que as pessoas tinham com o funk”, revela Fabio Tabach. Ele acompanhou a trajetória do estilo musical, viu dos bailes de corredor, a passagem dos bondes até a geração atual. Mas não sossegou enquanto não realizou o seu desejo. “Na verdade, naquela época, a minha inquietação era tanta de levar o funk para o Teatro Municipal e para mostrar que aquilo ali era arte, era cultura”. Que não era só aquele preconceito que as pessoas falavam”, explica Tabach.

Fábio Tabach (produtor e fundador), Eder Paolozzi (maestro) e DJ Phabyo (co-fundador e idealizador do baile do Castelo das Pedras
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Segundo Fabio, a ideia foi sendo maturada aos poucos e a procura por modelos que pudessem dar certo foi constante. Ele montou até uma grande banda que tocou no Réveillon de 2008 e o projeto foi evoluindo, até chegar o momento de ver a Funk Orquestra tocar no Palco Sunset na edição do Rock in Rio em 2019. “Foi aí que o Funk Orquestra se materializou”, diz, com orgulho das conquistas do grupo. 

O DJ Phabyo entrou de cabeça no convite do outro Fabio, pois já eram conhecidos de longa data. “A gente já fez vários remixes juntos, várias coisas, de produção musical”, explica o Dj. Ali, uniram o útil ao agradável e montaram a Funk Orquestra. “A gente vem trabalhando para que o preconceito seja quebrado. O funk combina com tudo. Seja com forró, seja com xaxado, sertanejo ou música eletrônica. E muitas surpresas vão acontecer”, afirma Phabio sobre o show no espaço favela. 

Unindo grandes nomes do funk com a juventude erudita 

O violonista Gabriel Paixão, de 20 anos e cria do Complexo do Alemão, é pura animação desde que entrou na Orquestra. Segundo o artista, ele era mais erudito, ou seja, tocava músicas mais clássicas. Mas, precisou se reinventar. Começou a tocar pagode e, um pouco depois, surgiu uma oportunidade para fazer parte do Funk Orquestra.

O convite veio pelo WhatsApp, através de um amigo que já havia feito parte do grupo. “Eu estou gostando muito. Está sendo sensacional. No meio erudito, a gente tem que estudar muito e acaba não curtindo muito o que a música traz. E na Funk Orquestra a gente ainda consegue se divertir e passar isso para o público. Vai ser uma coisa linda.”

Gabriel Paixão, violinista
Foto: Selma Souza / Voz Das Comunidades

O funk é antropofágico

Para complementar o espírito da Funk Orquestra, o Maestro Eder Paolozzi fala sobre a honra de misturar ritmos que têm a cara do Brasil. Com uma formação musical bem tradicional, ele não escapou da efervescência do funk. “Eu percebi que o funk estava no dia a dia dos músicos, dos colegas… Depois eu trabalhei com a Orquestra Jovem, todo mundo gostava de funk.” De acordo com o maestro, não há porque não juntar um estilo musical que uma grande parte do público gosta e trazer isso para o trabalho. Isso só produz a oportunidade de tocar outras linguagens. “O funk é antropofágico. Ele devora tudo. O funk hoje é o gênero que mais utiliza música clássica como o “ Bum Bum Tam Tam” e outras referências. E não há dúvidas de que essa mistura é a cara do Rio e enriquecedor para os dois lados. Quem sabe, o funk e a música clássica podem unir o Brasil, pelo menos no Rock in Rio. 

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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