A inquietude do produtor de Fabio Tabach, um dos grandes nomes do funk desde o “boom” do ritmo nas favelas e fora delas, fez com que surgisse a Funk Orquestra. A banda mistura os batidões que fizeram e fazem sucesso, com a música erudita. E, para tornar esse sonho realidade, se juntou a outra lenda, o DJ Phabyo, famoso pelos beats que transformou o Castelo das Pedras em um dos bailes mais conhecidos do Brasil. Tudo isso pensando, é claro, em homenagear os 30 anos de funk no Brasil.
“Essa inquietude começou lá trás, no início do funk no Brasil. Eu era dono de baile e vi o preconceito que as pessoas tinham com o funk”, revela Fabio Tabach. Ele acompanhou a trajetória do estilo musical, viu dos bailes de corredor, a passagem dos bondes até a geração atual. Mas não sossegou enquanto não realizou o seu desejo. “Na verdade, naquela época, a minha inquietação era tanta de levar o funk para o Teatro Municipal e para mostrar que aquilo ali era arte, era cultura”. Que não era só aquele preconceito que as pessoas falavam”, explica Tabach.
Segundo Fabio, a ideia foi sendo maturada aos poucos e a procura por modelos que pudessem dar certo foi constante. Ele montou até uma grande banda que tocou no Réveillon de 2008 e o projeto foi evoluindo, até chegar o momento de ver a Funk Orquestra tocar no Palco Sunset na edição do Rock in Rio em 2019. “Foi aí que o Funk Orquestra se materializou”, diz, com orgulho das conquistas do grupo.
O DJ Phabyo entrou de cabeça no convite do outro Fabio, pois já eram conhecidos de longa data. “A gente já fez vários remixes juntos, várias coisas, de produção musical”, explica o Dj. Ali, uniram o útil ao agradável e montaram a Funk Orquestra. “A gente vem trabalhando para que o preconceito seja quebrado. O funk combina com tudo. Seja com forró, seja com xaxado, sertanejo ou música eletrônica. E muitas surpresas vão acontecer”, afirma Phabio sobre o show no espaço favela.
Unindo grandes nomes do funk com a juventude erudita
O violonista Gabriel Paixão, de 20 anos e cria do Complexo do Alemão, é pura animação desde que entrou na Orquestra. Segundo o artista, ele era mais erudito, ou seja, tocava músicas mais clássicas. Mas, precisou se reinventar. Começou a tocar pagode e, um pouco depois, surgiu uma oportunidade para fazer parte do Funk Orquestra.
O convite veio pelo WhatsApp, através de um amigo que já havia feito parte do grupo. “Eu estou gostando muito. Está sendo sensacional. No meio erudito, a gente tem que estudar muito e acaba não curtindo muito o que a música traz. E na Funk Orquestra a gente ainda consegue se divertir e passar isso para o público. Vai ser uma coisa linda.”
O funk é antropofágico
Para complementar o espírito da Funk Orquestra, o Maestro Eder Paolozzi fala sobre a honra de misturar ritmos que têm a cara do Brasil. Com uma formação musical bem tradicional, ele não escapou da efervescência do funk. “Eu percebi que o funk estava no dia a dia dos músicos, dos colegas… Depois eu trabalhei com a Orquestra Jovem, todo mundo gostava de funk.” De acordo com o maestro, não há porque não juntar um estilo musical que uma grande parte do público gosta e trazer isso para o trabalho. Isso só produz a oportunidade de tocar outras linguagens. “O funk é antropofágico. Ele devora tudo. O funk hoje é o gênero que mais utiliza música clássica como o “ Bum Bum Tam Tam” e outras referências. E não há dúvidas de que essa mistura é a cara do Rio e enriquecedor para os dois lados. Quem sabe, o funk e a música clássica podem unir o Brasil, pelo menos no Rock in Rio.