Não há dúvidas de onde veio El Pavuna. Nascido e criado na Zona Norte do Rio, o simpático jovem de 28 anos dedilhava um banjo na maior parte do tempo, enquanto acontecia a entrevista. O instrumento colado ao corpo de Tauan, nome de batismo do músico e ator, é como se fosse, naquele momento, a sua segunda pele. E foi assim que a equipe do Voz das Comunidades foi recebida para a entrevista sobre carreira e o Rock in Rio do artista. No entanto, El Pavuna tinha muito mais a contar.
El Pavuna ou simplesmente Pavuna, como comumente é chamado, vai se apresentar com a equipe de músicos no Espaço Favela, neste sábado, 10 de setembro. O show caiu justamente na mesma data que a banda Inglesa Coldplay. A banda citada nesta matéria não é à toa. Pavuna relembra a adolescência, tempo em que viu o show do Coldplay em casa, em outra edição do Rock in Rio. “Eu tinha uns 15, 16 anos. Eu lembro de assistir esse show em casa. E aí você vê, né? Coisas do destino. Eu vou estar pela primeira vez no Rock in Rio, não como público, mas como artista, no mesmo dia do Coldplay. Olha que loucura, olha como é a vida”, diz o jovem.
El Pavuna
O teatro e o apelido ‘Pavuna’, que depois virou nome artístico, caminharam juntos para formar a personalidade diversa do jovem. Em tom de brincadeira, ele fala que sempre quis ter um apelido. Se descobriu Pavuna, quando começou a fazer teatro no Tablado, tradicional escola de artes cênicas localizada na Zona Sul do Rio. “Eu sempre quis ter um apelido. Lá no Chapadão, todo mundo tinha apelido e eu não tinha. Eu sempre fui o Tauan e ficava revoltado”, explica. No entanto, quando já havia desencanado da ideia, os colegas do teatro começaram a chamar o músico de Pavuna. “Eu era o único que vinha de longe, da Pavuna. “Aí eu comecei a assinar como Tauan Pavuna”, completa.
O jovem revela ter sido bagunceiro na escola e isso, de certa forma, acabou o incentivando a fazer teatro. “Eu era muito zoador, aquele de contar piada. Tinha um amigo meu que era minha dupla dinâmica na hora da zoação e os professores falavam: vocês são muito artistas, tinham que fazer teatro”. E foi por causa desse amigo que Pavuna se apaixonou pelo teatro, onde ficou durante 6 anos. “Ele me botou essa pilha, de bora pro teatro! E eu disse: vamos! Ele me levou num dos maiores teatros do Brasil”, completa El Pavuna. Já O ‘El’ , de “El Pavuna”, veio após assumir o apelido. Para criar uma conta em uma rede social, acrescentou El Pavuna, após outras tentativas frustradas de utilizar o nome. “Uma vez eu cheguei para fazer um teste, e já tava lá, El Pavuna.”
O caminho de El Pavuna na música até chegar ao Rock in Rio
Pavuna era um adolescente como qualquer outro quando tinha 15 anos. Viu a tecnologia evoluir, “apesar de não ser muito ligado nessas coisas”, como ele mesmo diz aos risos. O jovem ouvia muito pagode na escola e as músicas eram muito compartilhadas entre os colegas pelos celulares da época. “Eu pedia aos meus amigos: coloca essa musica aí pra mim. Aí eles colocavam Exaltasamba, Sorriso Maroto, Jeito Moleque, os grupos da época”. E, após ir em uma festa na comunidade do Chapadão, o músico quis montar um grupo de pagode. “Um pegou um pandeiro velho em casa, outro pegou um cavaquinho sem corda e eu não sabia tocar nada. Ai eu disse: eu canto, então.”
Após se apresentarem em festas e outros eventos, os amigos seguiram outros caminhos, diferentemente de El Pavuna. “O meu primeiro show solo como El Pavuna aconteceu por causa do Tablado. Foi no Solar Botafogo. Porque eu já tinha as minhas músicas, arrumaram uma data lá e eu fiz. Dali começaram a me conhecer e me chamar para as coisas”, conta.
Mas o Pavuna não se limita somente à música ou ao teatro. Ele se considera um “artista brasileiro que faz arte”. Ele gosta também de desenhar e dá seus pitacos nas artes produzidas. “Tudo tem a minha participação, tudo acaba partindo um pouco da minha cabeça.” No entanto, ele afirma que não faz tudo sozinho e revela não estar na posição de “estrelismo”. “A gente precisa das outras pessoas, a gente coopera, é um trabalho em conjunto, um precisa do outro”. Além disso, El Pavuna conta que se pudesse seria um artista sem mostrar o rosto. “Eu sei que isso faz parte, mas muita gente só quer a fama”, complementa.
O primeiro álbum, chamado ‘Vide ao céu da Zona Norte às cinco e meia’, traduz o espírito do músico e do território por onde sempre percorreu. O trabalho tem a participação de Jorge Aragão e é uma homenagem ao subúbio. Hoje, morador do Salgueiro, na Tijuca, tem uma vista geral do bairro e adjacências. Do alto do terraço, o pôr do sol vira espetáculo. ‘Depois o pessoal não sabe porque eu demoro a responder o Whatsapp”, diz sorrindo. O álbum e os singles ‘Quando o amor acontece e ‘Dia Branco’ podem ser ouvidos em plataformas, como o Spotfy e Deezer.
Sobre a expectativa de tocar no espaço Favela, Pavuna é firme em dizer que quer manter a serenidade e a diversão que sempre foram o sentido do seu trabalho.”Eu tenho muito cuidado de gerar expectativa nas coisas. A gente não pode colocar isso como o show da nossa vida e colocar essa pressão nas nossas costas. É o momento de celebração por tudo que já conquistamos até aqui.”