Se o sucesso está escrito nas estrelas, o talento do cantor IZRRA já está traçado nos pontos luminosos do céu. Dono de uma voz lapidada e uma simpatia gigante, o artista se identifica e representa, ao trazer um olhar cuidadoso em suas letras, ao falar sobre amores, significados e sentimentos.
É numa manhã de um início de inverno carioca que entrevistamos o cantor, no bairro do Catete, zona sul da cidade do Rio de Janeiro. Quem nos recebe primeiramente é Bia Cavalcanti, assessora e empresária do cantor. Ela desce do carro e me cumprimenta gentilmente e anuncia a chegada do artista. “Daqui a pouco ele está chegando”, relata. Em uma rápida conversa, falamos sobre agendas, shows e tocamos no assunto Rock in Rio. “Está sendo uma correria essas últimas semanas. Mas está sendo muito bom! Ah, olha quem chegou!”. Izrra aparece do meu lado, com óculos escuros de lentes finais e o sorriso que me remete rapidamente ao The Voice, nas vezes que o vi se apresentar. Trocamos cumprimentos e ele convida todos para entrar. Eu ainda aguardo a Nathalia Pires, nossa fotógrafa, para participar da entrevista, que já estava a caminho. Mas combinamos de entrar no estúdio até que ela chegasse.
Dentro de uma arquitetura sábia de utilizar um espaço pequeno, surge uma sala silenciosa, cheia de microfones, equipamentos de luz e um grande computador sobre a mesa. Na parede, instrumentos musicais de corda enfeitam o lugar que condensa o ar com música e criatividade. O diretor do estúdio dá as boas vindas a todos nós e nos ajeita em um sofá grande e confortável. Após alguns minutos de conversa entre o artista e o diretor, Nathália chega, nos organizamos na sala e começamos a entrevista.
Confesso que estava momentaneamente despreparado. Tinha esquecido o bloco de notas com as perguntas em casa na hora da pressa (ainda que tivesse sido o primeiro a chegar) e só levei comigo, metalmente, algumas perguntas chaves e toda a expectativa de amigos e familiares que criaram ao saber que eu iria entrevistar o cantor. Ainda assim, Izrra expressa toda a tranquilidade do mundo.
Trajetória
Mesmo que seu talento tenha sido “descoberto” no MetrôRio e muito conhecido através da sua participação no The Voice, IZRRA possui trajetória rica no cenário musical. Ele conta. “Tudo começou quando eu cantava na igreja aos 4 anos de idade. Meus pais viram que eu levava jeito para a música e que eu gostava muito. Então fui desenvolvendo esse lado musical. Isso, para mim, foi a abertura dos portões de tudo. , aos meus dezenove anos de idade, tive a oportunidade de entrar para a escola de música Villa-Lobos.” Ele faz uma ressalva, relembrando do vídeo que fizeram dele no Metrô que o tornou conhecido. Só que antes disso, em 2016, gravaram um vídeo dele cantando no metrô. O vídeo, de 53 segundos de duração, mostra o cantor sentado no vagão cantando um trecho da música Final Feliz, de Jorge Vercillo. Com um casaco marrom e bermuda preta, o tímido Israel (IZRRA) entoa a canção. “Pode vir me abraçar sem medo. Pode encostar tua mão na minha”. Ao entrar no terceiro verso do refrão, a plateia o acompanha, batendo palmas ritmadas. Ele leva uma das mãos ao rosto, tímido, mas permanece com a sua voz firme até o final do vídeo, que termina com os aplausos empolvorosos do vagão todo.
O vídeo, postado na internet, viralizou e chegou em Jorge Vercillo, autor e cantor da música… “Postaram na internet e chegou até o Jorge Vercillo né? Aí ele (Jorge) me convidou pra fazer uma participação do show dele. E eu fiz”, conta animado. Não demorou muito para que o jovem menino ganhasse uma bolsa para estudar na Escola de Música Villa-Lobos e, conforme o próprio cantor relata, “…Foi onde eu vi que queria música para a minha vida. Na verdade, eu sempre soube que queria música. Mas quando você vive num lugar que você não tem muita esperança, é difícil de você acreditar”. Assim como muitas realidades negras da cidade do Rio de Janeiro, Izrra é natural da Baixada Fluminense e cresceu vendo trajetórias que continuaram e foram interrompidas por questões que atingem a estrutura social como um todo. Diante de uma cruel realidade onde a expressão “virar estatística” se tornou algo naturalizado, IZRRA foi centrado e continuou seguindo seu caminho dentro da música. Como consequência do seu vídeo, o convite para cantar com Jorge Vercillo veio rápido e ele conta que cantou para 13 mil pessoas. “Eu já tenho experiência com o público, mas naquele show foi um público completamente diferente.”
Do palco do The Voice para o Rock In Rio
Predestinado a seguir a carreira artística desde o início, o cantor considera que a participação no programa The Voice é um dos grandes feitos dentro da sua trajetória. Carlinhos Brown trouxe um aprendizado a IZRRA sobre usar o seu sorriso durante as apresentações. Diante do vídeo cantando no vagão do metrô do Rio, é notável o quanto o cantor cresceu ao conceder seu sorriso ao público. E ele retrata isso em sua resposta quando questionado sobre como foi esse aprendizado de usar o sorriso na comunicação com o público. “Eu sou jovem preto da baixada fluminense, que é uma região que não fornece uma expectativa de vida muito longa. Então, cresci mantendo uma posição de cabeça baixa, ser uma pessoa fechada, na minha, com medo de conversar. E quando eu cheguei no The Voice, Carlinhos me falou sobre usar o meu sorriso como um recurso de presença de palco, já que a timidez falava mais alto. Então eu comecei a sorrir mais, a me divertir mais no palco. No programa, eu aprendi que eu tinha vivido momentos muito tristes, mas agora eu estava vivendo um momento de felicidade. E nesse momento de felicidades que tem que sorrir, né?.”
Falando do Rock in Rio, o evento é um marco na trajetória de IZRRA e encara o convite como “mais um presente esse ano”, relata ele. “Minha expectativa está lá em cima e eu estou me preparando um show bem especial e diferente, com muitas músicas autorais e algumas peças que serão fundamentais para que o público entenda de onde eu venho, como eu venho, qual a mensagem que carrego, minhas referencias… E estou muito feliz.” Izrra revela, de maneira sutil, o quanto que suas músicas trazem o peso de despertar sentimentos e também de como revê-los como método de reaprendizado. “É uma nova fase do Izrra. É essa nova fase que eu vou mostrar no palco com as minhas músicas que falam de alegria e desconstrução.”
A entrevista no sofá do estúdio no bairro do Catete seguiu em frente. O cantor revelou que seu processo criativo nasce das suas raízes. “Vem das minhas vivências, da minha história e de onde eu venho. Nasce de pessoas que são próximas a mim, de um time de pessoas, de onde eu venho e tudo mais. E o processo não é só meu. É de todos nós. Porque o processo criativo não é apenas para criar uma música, mas também envolve como ela atinge as pessoas. Uma coisa é você fazer algo só seu, outra coisa é você fazer algo que toque as pessoas. E é isso que eu busco. E eu tenho curtido bastante esse processo que não é só meu.” Fazendo uma análise de si mesmo e sua trajetória, Izrra acredita que o agora é um momento de representatividade. “É o momento de representar a Baixada Fluminense, é o momento de representar a minha família, é o momento de representar tudo que me ajuda e sempre me ajudou. E eu agradeço muito essa oportunidade. E é muito novo pra mim. É algo que Deus já tinha planejado pra mim e ele sabia que esse momento ia chegar.” Rapidamente, busca na lembrança de escola, de quando a professora perguntava à sua turma o que cada um queria ser quando crescer e ele respondia que queria ser cantor. “Meus colegas riam de mim. Mas passar pelo Rock in Rio é mostrar para eles que a semente que eu plantei lá no passado, estou colhendo agora.”
Já com os grandes feitos e grandes shows, pergunto a Izrra se existe um grande sonho que o artista ainda quer realizar. O artista nem pensa muito e responde rápido. “Meu sonho é dar uma casa para minha mãe e poder dar melhores condições para minha família.” Mas o artista revela que tem vários sonhos se concretizando. “Eu estou realizando várias coisas. Estou lançando um álbum, estou cantando no Rock in Rio, já cantei com Jorge Vercillo… Deus está com planos traçados para mim e sei que, com sabedoria, eu vou realizar todos eles. É só ter paciência.” Pergunto sobre como está sendo a construção do seu novo álbum, prestes a ser lançado e Izrra se diverte. “Ontem eu tava chorando ouvindo as músicas! (risos). Eu to muito feliz de poder estar criando algo que faz parte de mim e da minha história e as pessoas poderão conhecer. É um álbum totalmente autoral, sobre mim, pensado em mim… É como se estivesse lançando uma história.”
Sua relação com os fãs é muito próxima e o artista comenta que recebe muitas mensagens do público, principalmente pela identificação. “Algumas mensagens chegam assim ‘essa sua música é muito eu’, sabe? Então, é muito especial receber o carinho do público e dos fãs. Seja na rede social, seja na rua, as pessoas me param, falam comigo, tiram foto. É algo transformador pra mim. Antes eu era fechado, tímido, sempre no meu grupo de amigos, tinha medo. E hoje não. Hoje eles estão me ajudando muito a romper isso e poder ser uma nova pessoa. E eu fico muito feliz quando recebo isso.”
Esse é o IZRRA. Da baixada fluminense para o mundo, o cantor traz em suas músicas sua mensagem de representatividade, identidade e trajetória, tocando o coração das pessoas e expressando a simpatia por onde passa. Suas músicas, carregadas de sentimentos, trazem mensagens que envolvem os fãs e despertam variados sentimentos em cada um. O artista se apresenta no palco Favela no dia 8 de setembro e espera vocês todos lá para o que promete ser um dos grandes shows para o público.
Texto: Rafael Costa
Fotos: Nathália Pires
Edição Fotos: Selma Souza
Produção: Gustavo Eduardo
Revisão: Jonas di Andrade