Por: Mariana Fontoura Lana Nascimento
Assim como o futebol, a política foi dita por anos como assunto que não era para mulheres, tanto para discussão quanto para atuação. Em 1932 começava a jornada que dura até os dias atuais em busca de representatividade e igualdade de gêneros no cenário político do país.
Ainda que aquele ano fosse tido como o de conquista das mulheres ao seu direito de voto, o código eleitoral era claro e estabelecia que o voto era obrigatório para homens alfabetizados, e colocava como facultativo o voto para mulheres em todas as idades e homens maiores de sessenta anos.
A constituição de 1946 definiu que o voto era obrigatório exceto para mulheres que não exerciam atividades remuneradas e só em 1965 que os direitos eleitorais se tornaram iguais para homens e mulheres.
A primeira mulher na política foi Luiza Alzira Soriano Teixeira, eleita como prefeita representando a cidade de Lages no Rio Grande do Sul, no ano de 1928, antes mesmo de legitimado o direito de voto feminino. Poucos anos depois, assumindo sua candidatura como deputada federal, Carlota de Queiros ocupava o Congresso. Eleita a partir do voto popular como chefe de estado Roseana Sarney foi a primeira mulher a ocupar o senado do estado Maranhão. A única representação feminina na presidência foi em 2011, fruto da eleição que concedeu à Dilma Roussef o título de Presidente da República.
Se a história já diz muito da configuração desse cenário os números só reafirmam algumas certezas, segundo dados da Procuradoria de Mulher no Senado Federal, os partidos brasileiros apresentam grande dificuldade para preencher a cota mínima de 30% de candidaturas por sexo, o que significa não registrar o mínimo de candidatas mulheres previsto por lei. Outra pesquisa feita pelo mesmo órgão revelou que 70% das pessoas já votaram em mulheres para exercerem cargos políticos e a eleição de uma Presidenta influencia 65% dos eleitores a votarem mais em mulheres.
Se de fato existe essa aceitabilidade de representação política da mulher, porque ainda nos sentimos tão distantes desse assunto?!
O baixo envolvimento da mulher na política se deve a uma série de fatores limitantes a começar pelo resgate histórico do lugar de submissão ao qual a mulher era colocada pelos seus pais, maridos e familiares. Condicionada apenas ao trabalho estritamente doméstico, sem poder exercer alguma atividade profissional ou ter o acesso à educação, a política era algo inatingível e com o pouco conhecimento passou também a ser um assunto tido como desinteressante.
Atualmente, é inegável permanência da cultura machista, inclusive dentre os partidos políticos, o que impacta na falta de visibilidade e de investimento em candidaturas femininas. O assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, apenas confirmam um cenário de segregação de gênero na política, que tanto teme mulheres no poder. Marielle foi eleita como vereadora representando o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) com mais de 46 mil votos. Representou também a presidência da Comissão da Mulher da Câmara, na qual desenvolveu um importante papel pela valorização dos direitos da mulher em várias esferas que vão desde segurança, saúde à acessibilidade de serviços.
Não podemos nos esquecer também de questões do cotidiano familiar, como a distribuição desigual de tarefas da vida privada que sobrecarregam as mulheres, emocionalmente e fisicamente, tomando-nos o tempo disponível para atividades relacionadas à política. Todas essas variáveis impactam na menor presença feminina no cenário governamental.
A inserção da mulher na política, não só apenas é justa por entregar seu lugar de fala e de direitos, mas também oportuna e de grande benefício social. O olhar feminino tem foco variado e detalhista, afinal desde a infância sem licença alguma nos deram o título de ser multitarefas. Sabemos de tudo um pouco: educação, saúde, orçamento, segurança e com atenção, dedicação e sensibilidade nos preocupamos em sempre achar soluções para as adversidades. Somos governantes das nossas vidas e de tantas vidas alheias. Quem é que vai dizer que não damos conta de gerenciar um país?!
Pois chegou a hora, de construirmos e contarmos nossa própria história. Mostrar que de ferro e flor somos feitas, nos apoiarmos e criarmos uma rede de conhecimento compartilhado, porque política é sim assunto de mulher. Aliás, assunto de mulher será sempre o que ela quiser dizer!