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Voz das Comunidades completa 10 anos em 2015

Foi no dia 15 de Agosto de 2005 que essa história toda começou. Nessa data foi para as ruas a primeira edição do Jornal Voz da Comunidade na comunidade do Morro do Adeus, uma das 13 que formam o Complexo do Alemão. Com muitas ideias e um caderno de anotações, Rene Silva dos Santos, que na época tinha 11 anos, começou a andar pelo morro pra saber o que estava acontecendo. Passando por vários becos, percebeu que haviam muitos problemas sociais de saneamento básico e a falta de assistência do governo também chamou atenção.

A pessoa certa no lugar certo na hora certa: esse era Rene Silva no dia da ocupação do Complexo do Alemão pela polícia. Ele começou a tuitar sobre o que estava acontecendo mais ou menos por acaso, respondendo a amigos preocupados com a sua segurança. Os amigos o retuitaram, gente de fora descobriu que havia um menino no meio do fogo cruzado e logo ele e seu jornalzinho, “Voz da Comunidade”, estavam nos trending topics, índice que mostra quais são os assuntos quentes no Twitter. No dia 29 de novembro de 2010, Rene tinha cerca de 700 seguidores, e o “Voz da Comunidade”, 180; quando o dia 30 amanheceu, os números haviam saltado para 15 mil e 30 mil, respectivamente. Da noite para o dia, literalmente, ele virou o queridinho da mídia e o representante mais fiel da comunidade. Não era nem policial, nem traficante; também não era político, nem “líder comunitário”. Era apenas um menino de 17 anos falando sobre a sua realidade. Qualquer outra pessoa teria tido aí os seus 15 minutos de fama, antes de despontar para o anonimato. Mas Rene, determinado e carismático, não saiu mais de cena.

Tudo começou quando, aos 11 anos, decidiu fazer um jornal. A inspiração veio do jornalzinho que o Grêmio Escolar da Escola Municipal Alcide de Gasperi produzia e que apontava os problemas encontrados pelos alunos: um quadro de luz quebrado aqui, uma falta de material ali… O jornalzinho ia para a Secretaria de Educação, que com frequência resolvia os casos. Digamos que esse foi o primeiro encontro de Rene com o poder da imprensa. Ele gostou do que viu, achou que podia ter uma atuação maior se ampliasse o foco do veículo e apresentou a ideia de um jornal comunitário à diretora Thalma Romero, que aprovou o projeto e ofereceu ajuda. Assim, em 15 de agosto de 2005, nasceu o “Voz da Comunidade”, com periodicidade mensal e cem exemplares, copiados na xerox da escola, distribuídos entre moradores e comerciantes.

O novo jornal foi muito bem recebido pela comunidade, que até então só tinha um canal de reclamações, a associação de moradores. O “Voz da Comunidade”, ainda que pequenino, era um bom amplificador:

— Uma reclamação fica mais clara se você identifica o problema, entrevista o morador, tira foto — diz Rene. — Havia espaço para um jornal local, porque as pessoas tinham muito medo da grande mídia, que só aparecia quando havia tiroteio e mortes. As notícias que saíam sobre a gente eram sempre ruins, notícias sobre a violência. A vida normal de todo dia era ignorada.

Ainda em 2010, o “Voz da Comunidade” ganhou uma redação completa do programa “Caldeirão do Huck”, equipada com computadores, laboratório e ar-condicionado. Ela está instalada em duas salas do AfroReggae. Só que, como o imóvel onde estão essas salas vai virar pousada, Rene busca uma casa no Alemão para realizar o sonho da redação própria. O jornal é feito atualmente por seis pessoas, contando ainda com 20 colaboradores em outras comunidades. Por causa do sucesso de Rene na internet, a versão impressa andou meio sumida em favor da edição on-line, mas volta em junho, mais bem estruturada.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/a-voz-jovem-conectada-da-comunidade-do-complexo-do-alemao-8365592#ixzz3KIyrZzrD

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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