Na última terça-feira, 16, a desocupação do prédio na São João chamou a atenção da cidade pelo confronto entre ocupantes e a PM. Diversos locais têm sido palco de ocupações e a Vila Prudente não é diferente.
Dois terrenos foram ocupados na avenida Doutor Francisco Mesquita que faz divisa com São Caetano desde agosto. Pessoas que nasceram e que ainda residem nas favelas do bairro reclamam dos altos valores cobrados nos aluguéis, inclusive nas favelas. Para fugirem da alta especulação que se instalou no bairro nos últimos anos, esses moradores consideram as ocupações como a única solução que restou diante do descaso do governo do Estado e da Prefeitura quanto a ausência de projetos por moradia para pessoas de baixa renda na região.
Em São Paulo, é comum ver favelas nascendo ou terrenos sendo ocupados, como na própria av. São João, isto está relacionado à especulação imobiliária a que nossa cidade está sujeita. Lucimara, de 36 anos, está em uma das ocupações da Vila Prudente desde o dia 16 de agosto, no momento desempregada e sem condições financeiras para comprar sua casa ela se articula com outras pessoas e conta que “Nossos órgãos públicos não pensaram no futuro das próximas gerações e não pensam. Eles não querem, né? Mas, a ocupação foi a única coisa que restou”. A ocupante conta ainda que atualmente mora de aluguel em uma das favelas com o marido e filhos e está pagando R$ 800,00 e completa, “Aqui, só aconteceu porque na Vila Prudente faz muitos anos que não tem projetos de habitação”.
O bairro passa por mudanças e a mais impactante tem sido a obra do monotrilho e suas indefinições. Moradores da favela da Vila Prudente se mobilizam em diversas ações para pressionar o governo, de modo a destinar e garantir moradia para todas as famílias que serão removidas devido às obras de interligação entre o monotrilho (Linha 15 – Prata) com a estação de trem do Ipiranga, a qual se encontra há dois quarteirões da favela.
Cleison, que também está em uma das ocupações conta que trabalhou durante anos aqui em São Paulo e não conseguiu construir uma casinha para ele e a família, viveu e vive de aluguel, e no momento está desempregado “Já vi gente dizer que só porque não estou trabalhando eu não sou digno de ter uma moradia. Eu perdi o emprego não foi eu quem pedi para sair e não encontro outro e agora com o pessoal eu falei: vou procurar uma moradia pra mim, porque trabalhando não consegui”, disse ele.
Depois da desocupação na São João ouviu-se dizer que movimentos que lutam por moradia seriam “oportunistas”, Lucimara no entanto garante que não há “A Frente de Luta por Moradia não tem ligação nenhuma com política, nós não temos. O MDF (Movimento de Defesa dos Favelados) também. A gente só luta por uma casa para nós e nossos filhos”.
Essas ações de ocupação apoiam-se em nossa Constituição Federal de 1988 que garante no seu artigo 5º, inciso XXIII que “a propriedade atenderá a sua função social” o que diz respeito à moradia. Os terrenos atualmente ocupados na Vila Prudente encontravam-se vazios, inabitados e inutilizados, estão agora, portanto, cumprindo o que diz a Constituição.
Com base em dados do Censo de 2010, em São Paulo havia 290 mil imóveis inabilitados e uma demanda de 130 mil famílias sem moradia. Entretanto, casos como o de Cleison e Lucimara não são os únicos e milhares de famílias não têm outra saída senão ocupar imóveis e terrenos para assim tentar equilibrar a conta a qual o Governo caminha a passos de tartaruga para resolver.