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Um outro olhar – Por: Nathália Rodrigues

Nathalia rodrigues
Nathalia rodrigues

Nathália Rodrigues

Estudante de jornalismo, Repórter do G1 e produtora do programa Esquenta!


Tudo o que eu mais queria, era ser vista como uma menina normal. Tenho 22 anos, trabalho, namoro, faço faculdade e saio com meus amigos. Coisas que qualquer pessoa acharia normal para uma menina da minha idade, se eu, é claro, não fosse cega.

Há algum tempo desistir de querer ser rotulada como uma pessoa igual a qualquer uma outra, afinal de contas não sou, e ninguém é. Me convenci que ser preta, favelada, mulher, pobre e cega, e ainda por cima fazer tudo faço, não é para qualquer um.

Nasci na cidade alta, morei lá durante 16 anos, onde fui bem feliz. Minha infância foi igual a de qualquer criança que vive em uma favela, cheia de brincadeiras, mas também com dificuldades. Nunca passei fome, mas também não tive tudo o que gostaria. Atualmente moro no Complexo da Penha a um pouco mais de 6 anos.

Eu já passei por quase tudo nessa vida, sei que essa frase é bem clichê, mas é a minha cara. Estou acostumada a matar um leão por dia. Não é fácil depender de todo mundo para fazer tudo o tempo todo, por exemplo: não consigo ir ao banco sozinha, pegar ônibus, super mercado nem pensar. Caminhar com essas calçadas emburacadas e sem manutenção do Rio de Janeiro é quase suicídio! Mas como sou um pouco louca, as vezes, saio por aí. Na verdade, não sou louca, só busco minha independência.

A vaidade é algo que está sempre comigo, não é porque sou cega que tenho que andar largada e desarrumada, amo cores, brincos e acessórios. Minhas unhas estão sempre pintadas e minhas roupas sempre combinando. É imprescindível pra mim.

Além de fazer faculdade, trabalhar em dois lugares, fazer cursos, namorar, estar com minha família e amigos, gosto de andar de bicicleta, surfar, andar de skate, ir a praia, ao shopping, sambar… Inclusive, amo a festa que é o carnaval! Enfim, eu amo viver a vida como se não houvesse amanhã, mas não deixar de planejar o futuro, e não dou muita bola para a minha cegueira, muito menos para o preconceito. Sou eu quem a guio, e não ela que faz de mim o que bem quer.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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