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Revitalização de calçada no Morro do Adeus é feita por moradores

Após anos pedindo por obras de melhorias na Horácio Piccorelli, moradores resolveram tirar o recurso do próprio bolso e fazer com as próprias mãos.

A primeira visão que temos de uma das ruas do Morro do Adeus é uma subida extensa, que tem uma “falha” no meio. Essa é a Horácio Piccorelli. Nessa falha, há muito entulho, mas ainda em menor quantidade do que era antes. Já é possível ver a mudança na calçada que moradores resolveram construir, por não aguentarem mais o fato de não terem condições de subir até suas casas sem correr riscos.

“A ideia de fazermos a calçada derivou da necessidade de todos os moradores. Necessidade de subirmos até nossas portas com tranquilidade, dos carros poderem subir também. Aqui era tudo buraco, ninguém conseguia andar direito. Para os idosos era pior ainda. Juntamos os moradores, cada um foi ajudando como podia. Uns deram cimento, outros deram dinheiro; os maridos, filhos e todos os homens estão ajudando com a mão de obra e estamos construindo” – disse Lucinéia Veiga, 55 anos, moradora do Complexo do Alemão há 50 anos.

Já dona Ana da Silva, 60 anos, lembrou de como era a situação da rua antes de começarem as obras: “Antigamente, para subirmos até nossas casas era muito difícil. Por isso, estamos construindo uma ladeira. Não queremos escada, pois o risco de tombo para os moradores é muito maior. Finalizando a ladeira, conseguiremos uma tranquilidade maior, dá para subir cadeirante. Ali embaixo, por exemplo, tem um senhor cego: também vai facilitar para ele. Além de tudo, a construção de ladeira é mais fácil de ser feita.”

Atualmente, um número aproximado de 15 moradores estão empenhados na tarefa de construção dessa ladeira. Além dos buracos e entulhos que ainda fazem parte do local, muito mato pode ser notado. E qualquer chuva acarreta a chegada de muitos bichos, principalmente caramujos, que são poderosos transmissores de doenças, o que é mais uma preocupação para os residentes da rua.

Foto: Bento Fabio
Foto: Bento Fabio

A obra teve inicio ano passado e, segundo os moradores, todo final de semana é dedicado a ela. As vezes, até as noites dos dias de semana são utilizadas para dar continuidade à revitalização.

“Buscamos ajuda em diversos lugares, entre eles a Associação de Moradores. Porém, lá alegaram que nossa rua não faz parte do morro do Adeus. Mas como não faz parte? Quando querem votos para a presidência da associação, eles acham que aqui faz parte, batem na nossa porta. A associação não está ajudando em nada” – reclamou, indignada, dona Lucinéia, sendo completada por Ana:

– A Prefeitura até veio aqui, queriam impedir a obra. Deram diversas desculpas para não fazer o serviço. A associação embarreirou, dizendo que não fazíamos parte do Adeus. Mas se ninguém faz, nós não podemos ficar esperando sentados, não é? Continuamos a obra. O pessoal tinha medo de subir a rua. Hoje, estamos mudando essa situação.

Outro morador a dar seu depoimento é Marco Antônio de Souza, 42 anos: “Nos juntamos, demos cimento e areia e estamos fazendo. Cansamos de ouvir promessas. A rua sempre foi assim, resolvemos nos unir e fazer diferente. Não recebemos ajuda nem para capinar. Quem tem carro, tinha que deixar lá embaixo e subir a pé. Era lama, buraco e mato em todo lado. Moro aqui desde que nasci e se não fossemos nós moradores, nada ia mudar. Nossa meta é conseguir juntar a rua e finalizar essa obra” – afirma.

Procuramos a presidente da Associação de Moradores do Morro do Adeus, mas ela não foi encontrada. Não é o primeiro, segundo e nem terceiro caso de moradores que se juntam para fazer alguma melhoria que deveria partir do Estado. Os sentimentos de impotência e de esquecimento, que a favela já conhece bem, voltam à tona e é preciso fazer tudo sozinhos. Os moradores pedem ajuda e atenção através desta matéria realizada pelo Voz da Comunidade, para que a obra seja finalmente concluída.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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