Relatos de um sonho em Nova York

É bem difícil colocar em um só texto tudo que vivi nos 07 dias que passei em Nova York, Estou a tempos tentando imaginar como eu conseguiria registrar isso, e sinceramente ainda não descobri! Resolvi então apenas escrever, sem regras, expectativas, obrigações, se vai ser publicado ou não, eu realmente não estou pensando nisso ao escrever esse texto, prefiro me concentrar no que eu vi, nos momentos que vivi, e o quanto eu aprendi com essa oportunidade que tivemos de conhecer outra realidade outra cultura, outras pessoas, encarando assim, outros desafios, outros medos, mas sem duvidas realizando sonhos, o meu sonho!

Essa história começa no dia 03 de janeiro, quando recebi por e-mail a notícia que havia sido selecionada para junto com o Rene Silva, participar de um intercâmbio em Jornalismo Comunitário, essa idéia era um projeto piloto, organizado pelo Consulado geral dos EUA aqui no Rio de Janeiro. Na Verdade, eu não conseguia acreditar que tudo isso estava acontecendo, fiquei com medo por não saber inglês, por não ter roupas de frio, por estar trabalhando e por toda responsabilidade que teríamos de representar toda comunidade do complexo do alemão e do Jornal voz da Comunidade, lá em Nova York.

Todos os medos se acentuaram na minha TPV, Tensão Pré Viagem! Uma semana antes eu não dormia, não comia, e quando comia tinha dor de barriga!! Foi um caos! Até um calmante homeopático eu tomei para segurar a barra! Em fim, de roupas consegui até demais! Ganhei um pré-New York, organizado pela Elaine Carrilho, que de minha chefe virou uma mãezona me dando tanto, mais tanto carinho que é difícil descrever o tamanho do amor que sinto por ela! Conseguimos tudo, botas, calças, meias, blusas, casacos, e mais casacos e mais casacos! Ela convocou as amigas e levei meus amigos e foi uma tarde muito divertida, tinha criança, jovem, adulto, homem, mulher, foi muito, mais muito legal mesmo!! Aqui no Alemão, meus melhores amigos fizeram um delicioso almoço pra mim com o meu prato predileto “suflê de cenoura” tinha cartaz, até presente eu ganhei! Todos me bajularam!! Foi legal!!

Chegou então o grande dia, minha família me levou no aeroporto a sensação era que eu iria morar nos EUA, maior clima de despedida! Afinal, eu seria pioneira na família a fazer uma viagem internacional, e eu estava morrendo de medo por nunca ter andado de avião! Encarar 10 horas de voo seria uma prova de fogo, não acha? Mas eu tirei de letra! Rsrs, saímos do galeão fazendo escala em charllote, e de lá para Nova York eu já fui na janela!! Foi incrível a sensação de liberdade que eu senti, mesmo estando dentro do avião, o sentimento era como se eu estivesse sozinha na imensidão daquele céu azul!

Chegamos em Nova York pela manha, fazia muito frio! A fumaça saia da nossa boca ao falar, eu e Rene rimos muito! E ficamos de boca aberta, sem acreditar que tudo aquilo pelo chão das ruas era NEVE!! Fomos pra casa do Jason, almoçamos com a família dele uma comida maravilhosa! Uma mistura de línguas na mesa, português, espanhol, inglês, fiquei um pouco tonta, mas tinha que me acostumar seria exatamente isso por mais 6 dias! Na tarde desse mesmo dia visitamos a instituição brotherhood-sistersol, fomos recebidos por um pessoal muito animado! E ficamos felizes demais em reencontrar com a Marsha, já que o Nick estava participando de um julgamento super importante, fiquei enviando pensamentos positivos para que ele conseguisse expressar todas as suas idéias e representasse bem a comunidade, acho que deu certo!

O Rene Silva e Daiene Mendes, encontraram o jornalista Jorge Pontual da TV Globo em Nova Iorque junto com o cinegrafista.
O Rene Silva e Daiene Mendes, encontraram o jornalista Jorge Pontual da TV Globo em Nova Iorque junto com o cinegrafista.

Conhecemos toda a instituição, as Crianças dançaram o “Harlem shake” e fizeram cartazes de boas vindas, nos fizeram muitas perguntas sobre o Rio de Janeiro. Os Adolescentes nos perguntaram sobre o nosso jornal, os problemas com a abordagem policial, e fomos identificando muitas coisas em comum entre o Harlem e com o Alemão. Os dias foram passando conhecemos muitas coisas, caminhamos pelo Harlem, visitamos a CNN, teatro Apollo, Jornais comunitários, Museus, Nações Unidas, TV GLOBO, a redação do jornal NEW YORK TIMES, a times square, caminhamos pela ponte em direção ao Brooklyn. Eram muitas atividades, e pouco tempo, então era correria!

Diante de algumas observações e conversas, comecei a pensar bastante sobre a similaridade de alguns problemas sociais entre o Harlem e o alemão, o principal entre eles, fica sendo a abordagem truculenta da policia, no Harlem os negros são o “alvo”, aqui no alemão são os pobres, a favela. Temos visto diversos relatos, vídeos deste problema grave que tem acontecido em nossas comunidades, mas me pergunto como podemos discutir isso? Como podemos fazer com que nossa voz seja ouvida? Que estratégias podemos usar?

Porque no fim das contas só mudou o “poder” se antes estava com o tráfico, e agora “está com a policia”, mas e a comunidade? Quando vai de fato, sentir-se dono do seu próprio território? Quando vamos de verdade ter PAZ, mas não essa “PAZ” sem voz que o planejamento da UPP “traz” pra gente, isso é medo! E com medo, já estamos fartos de viver. Não pela realidade que vivíamos anteriormente, mas pela realidade que toda a cidade do Rio de Janeiro viveu, e vive até os dias de hoje. Então pergunto, UPP foi a solução? O medo não existe mais? E você ai, tem Paz?

PAZ SEM VOZ, NÃO É PAZ É MEDO!

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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