Vejo nas cores da bandeira da França imputada nos perfis de tantos no face, o fechar de olhos para a nação brasileira. Ainda que mais de uma centena tenha morrido no atentado em Paris, milhares são os que morrem dia após dia em São Paulo e Rio. Paris não é só a cidade luz por ser berço do iluminismo, mas por estar anos luz à nossa frente no quesito desenvolvimento humano… Entendo a comoção que esta tragédia causa, mas não vi as cores de nossa bandeira no perfil de um brasileiro após a catástrofe de Mariana-MG e outras mais que tivemos ao longo do ano. É a síndrome do estrangeiro, vemos os países distantes como as estrelas no céu, sem saber que também brilhamos nesta constelação de nações.
Sinto-me extremamente comovido pelas mortes na França, mas não mais comovido que pelas mortes no Oriente Médio… Quer colocar uma bandeira de um país sofredor que não seja o Brasil? Coloque a bandeira da Síria, do Líbano, do Iraque, da Palestina, dos países africanos como a Nigéria, por que você não pensa neles? Eles são menos importantes internacionalmente que a França? Lá os atentados terroristas são rotina, não acontecem apenas uma vez ou duas vezes ao ano… Se queres conferir validade à tua dó, que todos sejam iguais perante a tua dó… Que a França não fure a fila…
“Grupo terrorista Boko Haram mata 2000 pessoas e toma cidade na Nigéria”.“Terroristas islâmicos matam 147 pessoas em universidade no Quênia”. “Número de mortos em ataque talibã a escola do Paquistão passa de 140”. Não vi essas bandeiras no face. Qual a diferença? Será que o valor da vida varia de nação para nação? Infelizmente é o que parece. E quanto ao Brasil, que valor tem a vida do brasileiro para o próprio brasileiro? Não é difícil responder a esta pergunta, basta ler jornais para ver o quão pouco são veiculadas notícias relacionadas às periferias brasileiras, onde o número de vítimas ultrapassa em muito o número de parisienses mortos recentemente pelo terrorismo.
Não que tragédias devam ser comparadas ou priorizadas, mas esta valoração do estrangeiro é grave, demonstra claramente uma grande baixa estima cultural e uma imensa hipocrisia virtual. Em se tratando do valor da vida brasileira, há ainda uma comprovação triste: Enquanto em Paris os taxistas estão desligando os taxímetros num ato de solidariedade aos seus compatriotas, no Brasil os comerciantes de Governador Valadares aumentaram o preço da água mineral devido à tragédia de Mariana, onde centenas de milhares ficaram sem água tratada na região. Infelizmente, se o mundo fosse um açougue, a carne brasileira seria de segunda e a francesa seria o tão famoso filé de nome francês, o mignon.
Sobre o autor:
Me chamo João Pedro Dornelles Claret, tenho 21 anos e sou estudante de Direito da Universidade Federal do Tocantins, fundador da Web-page Brasil Intelecto que reúne um grupo de jovens de destaque no intuito de difundir conhecimento e cultura. Além de músico, também sou poeta com minha obra ¨Etapas do Viver¨ prestes a ser publicada.