Presença marcante nas emblemáticas prisões da Operação Lava-Jato, ele ladeou quase todos os notáveis políticos, empreiteiros e operadores financeiros no trajeto de suas residências às sedes da Polícia Federal. Ganhando fama, passou de agente federal a celebridade, protagonizando, como tema de marchinhas e motivo de máscaras e fantasias, o carnaval de 2016 em todo o país. Ontem, Newton Ishii, o famoso “Japonês da Federal”, que nos últimos tempos se tornou símbolo do combate à corrupção no Brasil, foi preso por facilitar o contrabando na fronteira brasileira. O episódio de hoje nos relembra que a moralização nacional é mais complicada do que parece.
A Lava Jato veio como um lampejo de esperança para um país em crise num momento de descrença. Num tempo em que quase todas as instituições nacionais sofrem com descrédito, a operação investigou e levou para a cadeia alguns dos homens mais ricos e poderosos do Brasil. Por alguns momentos, pareceu haver uma saída. Uma solução para a corrupção, um rumo para o país. A Polícia Federal nos estava mostrando o caminho.
Nesse contexto fugaz de aparente moralização nacional, Newton Ishii emergiu como uma personificação bem-humorada da suposta “Cruzada contra a corrupção” que tomava conta do país. Acompanhou até a cadeia figurões que vão de José Dirceu a Marcelo Odebrecht, passando por Alberto Youssef. Ele chegou a ser citado em delações e é investigado por supostamente vender informações confidenciais da operação a veículos da mídia. Mas não importava: o Japonês da Federal estava acima de qualquer suspeita.
Com a visibilidade alcançada, o agora famoso já negociava com partidos políticos sua filiação para concorrer a cargos eletivos. Parecia ser um bom negócio: em tempos de combate a corrupção, ninguém deveria ter mais votos que um dos homens que a combate. Espera-se que aquele que luta contra corrupção seja, no mínimo, incorruptível. A prisão de Ishii traz de volta à tona aquilo de que quase todos haviam se esquecido: a corrupção no Brasil é institucionalizada e altamente capilarizada e disseminada. No nosso país, quase todo mundo é corrupto.
Políticos são corruptos e aqueles que deveriam fiscalizá-los também o são. Apesar de meu otimismo me fazer supor que nem todos sejam mal intecionados, o problema é disseminado o suficiente para caracterizar e comprometer as instituiçõs. Muitos dos empresários que são grandes o suficiente para influenciar os rumos da nação, também, ou são protagonistas da corrupção ou apoiam quem a pratica. O problema inverte, no imaginário nacional, a presunção da inocência: hoje, é preciso provar ser honesto, não o contrário.
A prisão do Japonês da Federal mostra que acabar com a corrupção no Brasil é muito mais difícil do que o que a Operação Lava Jato no início pareceu apontar. O Brasil é um grande campo minado, com tantas minas que se torna impossível desarmar uma sem explodir outra.