Recentemente, ao procurar por algum filme para assistir no Netflix, deparo-me com um documentário sobre o célebre caso de uma jovem norte-americana acusada de matar sua colega de quarto, na Itália. Chamado de Amanda Knox, mesmo nome da principal acusada do assassinato, o documentário trás depoimentos dos principais envolvidos no caso, desde jovem Amanda ao promotor responsável por sua acusação.
Amanda era apenas mais uma menina de Seattle, EUA. Decidida a se conhecer melhor, ela viaja para Perúgia, Itália, onde divide uma casa com a inglesa Meredith Kercher. Amanda conhece ainda o introvertido italiano Raffaele Sollecito, culminado em um romance entre os dois. Desde que se conheceram, eles não se desgrudaram mais.
Mas eis que Meredith é encontrada morta na casa. A principio não há suspeitos, mas pelo estranho comportamento de Amanda e Raffaele – os dois ficaram trocando caricias enquanto os policiais tiravam o corpo – e também pela figura de Amanda, descrita como enigmática e dona de um olhar evasivo e inconcluso, a culpa recai sobre eles, que são presos preventivamente.
A mídia amou aquele caso. Jornais do mundo inteiro começaram a desenhar Amanda como uma ninfomaníaca sedenta por sexo e poder, que matou Meredith em uma orgia macabra. Perfis maldosos como o supracitado permearam o mundo todo, e logo a população já tinha o veredicto: Amanda era culpada.
O julgamento em primeira instancia culpou Amanda e Raffaele pela morta da jovem inglesa, condenando – os a prisão. Os dois acabaram sendo soltos em 2011 e voltaram a ser condenados em 2014, mas foram novamente inocentados e exonerados em 2015. O processo de Amanda parecia tão confuso no que tange as decisões jurídicas da Itália, que Donald Trump, à época candidato a presidência, disse que os EUA deveriam boicotar o país italiano.
São vários pontos que necessário se faz avaliar nessa história. Um deles é o promotor. Um homem que revela no documentário ser fã de Sherlock Holmes, e que deixa implícito que sempre buscou ter o seu “grande caso”. Os indícios frágeis que condenaram Amanda, e que foram os motivos também de sua absolvição, evidenciam a mente fantasiosa de um homem que viu ali um caso para se promover.
A mídia teve um papel fundamental no caso também. Culpando Amanda antes mesmo de ela exercer o princípio do contraditório, da ampla defesa, e da presunção de inocência nos tribunais, jornais de vários países fizeram a festa com imagem da jovem ao vender milhões arruinando sua imagem. Por Amanda possuir um perfil tímido, sem muito que revelar, os periódicos aproveitaram para tratá-la da forma como imaginavam que ela seria. Meu palpite para esse sensacionalismo a Amanda se deve ao fato dela ser mulher, bonita e jovem. A sociedade mundial ainda é muito machista, e a forma como mulheres devem se portar ainda está muito impregnado em nosso meio. Homens podem se portar da forma como querem. Mulheres não. E Amanda foi uma vitima disso dessa visão retrógada.
Mas não podemos duvidar também do comportamento frio de Amanda e Raffaele durante a investigação. Os dois pareciam muito tranqüilos sob as câmeras policiais. Muito frios, por assim dizer. Outro ponto é a falta de manejo dos policiais italianos ao fazerem a pericia, enfraquecendo as provas coletadas pelo mal uso de equipamentos e pelo controle de entrada e saída de pessoas do local do crime.
Amanda hoje está livre. Ela jura que não matou Meredith. Seu semblante triste no documentário evidencia uma jovem angustiada, com resquícios de medo no olhar. De ter matado? De ter ido para a Itália? De ter conhecido Meredith? Talvez ninguém saberá.
Por fim, uma frase de Amanda: Ou eu sou uma psicopata em pele de cordeiro, ou eu sou você.