OPINIÃO | Polícia de Witzel e Dória em 2019

Foto: Reprodução internet
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6.160 pessoas foram mortas por policiais civis e militares no ano de 2018, uma média de quase 17 mortes por dia. A proporção de negros e pardos entre os mortos pela polícia no Rio cresceu em 2019, com um aumento de 23% para 27%, já a de pardos cresceu de 48% para 51% (Microdados do Instituto de Segurança Pública (ISP), obtidos pelo EXTRA via Lei de Acesso à Informação). Rodrigo José de Matos Soares, policial militar, foi responsável por assassinar a menina Agatha Félix de 8 anos, aumentando a estatística de 6 crianças mortas nas favelas cariocas. Na segunda maior favela de São Paulo, Paraisópolis,  9 pessoas morreram e ao menos 20 ficaram feridas durante uma operação policial não planejada. Enquanto isso, o atual governador do Rio de Janeiro,  Wilson Witzel, afirma que “a polícia vai mirar na cabecinha” e João Dória, governador de São Paulo, diz que “vai atirar para matar”.

A carne mais matável pelo Estado é a carne negra. O que estamos vivendo hoje reforça uma lógica óbvia: o Estado é genocida, sabe onde tem que matar e quem matar. Mesmo após o fim do período escravista, a desumanização e as estratégias de eliminação continuam, ainda que de um outro modo, é claro, mas continuam. Esse resquício colonial fomenta a ideia que o destino de um corpo negro toma um outro rumo se comparado ao branco, uma morte provocada por violência racial e de modo seletivo. 

Existe um único critério para decidir quem vive e quem morre: o critério racial. Essa mesma dinâmica age simultaneamente para favorecer o grupo racial posto como hegemônico, o patriarcalismo branco,  em detrimento de um outro grupo racial tratado como inferior. 

Partindo da ideia de que o direito à vida é um direito essencial, dados mostram que o próprio Estado não cumpre com êxito tal proposta, agindo não para legitimar esse direito. Na realidade cotidiana, o Estado colabora para uma ruptura e infringe corpos sociais no contexto de desigualdade e vulnerabilidade.

Foto: Betinho Casas Novas | Fotojornalista Betinho Casas Novas | 10/10/2017

É fundamental entender também que o direito à vida não é apenas não ferir um corpo de modo físico, é também negar direitos que precisam ser garantidos por lei  independente de raça e classe: o trabalho, a saúde, a terra, o alimento, a educação. Quando direitos básicos e políticas públicas não são ofertados, sendo recursos mal investidos e não atingindo a população de modo igualitário, se tem ainda uma violação e ofensa ao direito à vida. 

O que se pode esperar de um Estado que tem ânsia para não respeitar a vida da população preta e pobre? De tudo, menos respeito. A ação do Estado produz uma série de atos  que acobertam os agressores e punem a população negra, garantem impunidade aos violentadores e aos agressores. A justiça não é cega, ela enxerga a cor da pele, quanto mais escura, mais se torna uma marca estigmatizada. 

Foto: Betinho Casas Novas

Temos duas faces de uma mesma moeda enferrujada: Wilson Witzel, um governador que celebra e comemora a morte; e do outro lado João Dória, um governador que afirma para imprensa que a atuação da polícia, após a morte de 9 adolescentes em Paraisópolis, não vai mudar.

A licença para matar pobres e favelados é uma realidade que vem sendo consolidada por sucessivos governos, inclusive em nível nacional. A própria polícia aconselha que não se deve resistir ao assaltante. E a quanto a nós, como reagir ao Estado? Estamos em 2020 e a perspectiva de uma segurança pública isenta de extermínio está longe.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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