Como dizia o rapper Sabotage “O rap é compromisso, não é viagem”. A junção do ritmo e da poesia deu origem a um dos gêneros musicais mais conhecidos do mundo. Sempre revolucionário, o rap aponta os problemas sociais, as desigualdades, combate o racismo, também fala de amor e da realidade na periferia. Ele resiste! Por isso, não é viagem.
O compromisso é dos rappers que, de certa forma, influenciam e salvam a vida de inúmeros jovens, principalmente negros, e dos fãs. Emicida, Karol Conka, Rincon Sapiência, Criolo, são apenas alguns dos artistas que fazem sucesso no país e levam a sério o compromisso, com letras profundas e necessárias.
Em 1992, os Racionais Mc’s participaram do projeto “RAPensando a Educação”, idealizado pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. O grupo visitava as escolas públicas da capital para discutir, com alunos e professores, assuntos relacionados ao tráfico de drogas, pobreza, violência, enfim, conteúdos que, infelizmente, fazem parte da rotina periférica. O Racionais Mc’s, criado no final dos anos 80, sempre combateu o racismo e a opressão do Estado. O grupo é referência quando se fala em compromisso.
“Ao menos seja verdadeiro. O mais perto que cês chegaram do morro é no palco favela do Rock In Rio”. Essa letra, da música “Ladrão”, do Djonga, mostra que a responsabilidade também envolve as pessoas privilegiadas, que se definem como desconstruídas e revolucionárias, mas não contribuem para as causas defendidas pelo gênero.
O Djonga, além de apontar certos comportamentos, no mínimo inadequados, dá uma aula de história em suas músicas. O mineiro, de Belo Horizonte, representa o estado no cenário nacional, mas retrata assuntos comuns no país, como o preconceito, a violência contra os jovens negros, a miséria nas regiões marginalizadas e a luta diária pela sobrevivência.
Se você não reconhece os seus privilégios, não adianta gostar de rap. Se você acha normal a cada 23 minutos um jovem negro ser assassinado no Brasil, se é contra as cotas e defende o discurso de “bandido bom é bandido morto”, não adianta gostar do gênero. Os indivíduos que têm pensamentos como estes não compreendem a essência do movimento, nem o que os artistas, geralmente, defendem em suas canções.
Em 2017, o rap foi o gênero mais popular nos EUA, com 24,5% do total de música consumida no país, de acordo com um relatório divulgado pela consultoria Nielsen. Ele também é o gênero musical mais ouvido na hora de fazer exercícios físicos, segundo um relatório do Spotify.
Como dizem por aí “Está na moda ser preto, desde que você não seja preto” e aproveitar o conteúdo produzido pelos negros sem nenhuma responsabilidade. No último show de rap que fui, do Baco Exu do Blues, fiquei impressionada com a empolgação do público, visivelmente rico (e branco). Até aí, nada demais. Mas, quando o Baco cantou “Preto e Prata”, me perguntei: Será que eles sabem o que esta música significa ou só estão cantando por que acham maneiro?
Em um país onde determinados grupos precisam exigir todos os dias os seus direitos e batalhar diariamente por melhores condições de vida, é preciso muito mais do que apenas cantar as músicas e seguir os rappers nas redes sociais.