Quem nunca viu uma sacola plástica voando? Quem nunca viu sacolas plásticas boiando em ruas alagadas? Quem nunca viu sacola plástica em cima de bueiro? Pois é… Agora no Rio de Janeiro tem a nova lei, supermercados não podem mais dar sacolas plásticas como antes, o tipo de sacola mudou pra ser usada mais vezes. Tem tanto plástico demais da conta que tá tendo essa necessidade de diminuir. A poluição dos plásticos é grave: afeta o meio ambiente, mata animais e causa problemas e prejuízos pra gente. Com menos sacolas à disposição, bora descobrir como lidar com o lixo de outra maneira.
Claro que na correria do dia a dia não sobra tempo pra gente pensar em tudo de grave no mundo. E cada um tem seus perrengues pra resolver, seus jeitos pra dar diante de tudo que continua faltando, entre engarrafamentos, tiroteios, preconceitos, negação de direitos. Sem vaga em creche, sem merenda na escola, sem sequer conseguir chegar na sala de aula, sem atendimento básico nas unidades de saúde pública, como é que a gente vai pensar na poluição dos plásticos? Difícil. Só que as consequências da poluição dos plásticos chegam na casa da gente, tão na vida da gente.
Quando a gente pega Dengue ou sofre com enchentes, pode acreditar que as sacolas plásticas tão metidas nisso aí.
Pra onde vai tanta sacola plástica?
A gente não liga pro que acontece com as sacolas plásticas depois que a gente enfia os lixos nelas e “joga fora”. Só que não existe fora quando a gente fala de lixo e de plástico. Depois que o lixo sai da casa da gente o que acontece é que o lixo e as sacolas plásticas não somem por milagre. E onde não tem coleta de lixo eficiente nem coleta seletiva, as sacolas plásticas acabam virando um grande motel pra mosquitos da Dengue, Zika e Chicungunha.
Em lixões ou em calçadas, as sacolas plásticas acumulam água. Uma gota de água basta pra nascer mais um monte de mosquitos. As fêmeas do mosquito Aedes aegypti botam ovos que secam e resistem até mais de 1 ano [450 dias], ou seja, os ovos sobrevivem até pingar. Pingou água, o embrião do mosquito se desenvolve em 2 dias [pra saber mais chega nesse link da Fiocruz].
No mundo hoje tem tanto plástico poluindo tudo quanto é lugar que dá pra achar plásticos até nas profundezas de oceanos. O plástico que a gente “joga fora” vai parar em rios, lagoas, praias, mares. O plástico que a gente “joga fora” tá pelas calçadas, praças, sai voando. Sufoca pássaros, tartarugas. E vira até comida pra bichos, porque bichos não sabem que plástico não é coisa de comer e porque agora tem muito muito muito plástico na natureza.
Exatamente por não ser de comer, plásticos não são digeridos, entopem o organismo, vários animais morrem com o estômago cheio de plástico. Até mesmo as imensas baleias tão morrendo por não conseguirem se alimentar porque tão com estômago cheio de plásticos. Plásticos que a gente usa uma única vez, plásticos que servem pra gente usar e “jogar fora”. Só que fora é o ambiente em que a gente vive.
O plástico que a gente “joga fora” entra por bueiros, tapa a tampa de bueiros, entope bueiros. Alagamentos e enchentes não são culpa da chuva, porque não tem como escoar água de chuva com bueiros entupidos. Com a nova Lei das Sacolas Plásticas, já na primeira semana 20 milhões de sacolas plásticas deixaram de ser consumidas nos supermercados do estado do Rio [informação da Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro/Asserj nessa matéria do jornal Extra]. No cotidiano da gente isso quer dizer 20 milhões a menos de sacolas plásticas em lixões, calçadas, ruas, encostas, praças, sarjetas, bueiros, rios, lagoas, praias e mares.
Deixar de usar sacola plástica uma vez só, usar mais vezes a mesma sacola plástica
O Rio de Janeiro produzia 4 bilhões de sacolas plásticas por ano, é plástico pra dedéu! A média de consumo por semana era de 77 milhões em supermercados. E tá tudo por aí ainda, em lixões, ruas, calçadas, encostas, praças, jardineiras, sarjetas, lixeiras, rios, lagoas, mares, porque sacolas plásticas duram muito tempo, demoram de 100 a 400 anos pra se decompor e deixar de existir como coisa poluente.
A nova Lei das Sacolas Plásticas no Rio entrou em vigor em 26 de julho de 2019. A sacola plástica antes era do tipo descartável ou de uso único [feita de derivados de petróleo]. A sacola plástica agora é pra ser usada mais vezes [feita de derivados de petróleo + 51% de fonte renovável, o etanol da cana-de-açúcar]. Esse novo tipo de sacola plástica aguenta mais peso e dá pra usar de novo até 50 vezes. Então, a gente vai usar menos sacolas pra carregar mais peso, deixar de usar sacola uma vez só e usar a mesma sacola plástica mais vezes.
Cerca de 3 bilhões de sacolas plásticas eram distribuídas pelas 1.500 grandes lojas de rede de supermercados no Rio – agora podem dar 2 sacolas do novo tipo e cobrar por cada sacola a mais de R$ 0,05 e R$ 0,08. Pequenos mercados e mercearias distribuem cerca de 1 bilhão de sacolas plásticas e vão ter até dezembro pra mudar pras sacolas do novo tipo. As sacolas passam a ser cobradas em dezembro [até R$ 0,08].
Parecia que as sacolas plásticas antes eram dadas de grátis. Só que não. O custo de produção das antigas sacolas plásticas era embutido no preço dos produtos. Quem diria, né? Essa informação foi dada pelo presidente da Asserj, tá nessa matéria do G1.
Grandes empresas lucram com sustentabilidade. Enquanto a gente repete “ainn meio ambiente não é importante”, quem continua faturando são os ricaços de sempre. Apenas uma empresa produz o novo tipo de sacolas plásticas: o polietileno verde, ou plástico verde, é produto exclusivo da Braskem [empresa petroquímica do Grupo Odebrecht], vendido pra diversos países.
O que o lixo pode fazer por você hoje?
Lixo é fonte de oportunidades quando a gente olha diferente, enxergando a horta comunitária, os catadores de recicláveis, a cooperativa de reciclagem. Lixo deixa de ser problema quando não tá espalhado pela natureza.
A nova Lei das Sacolas Plásticas pode ajudar a gente a descobrir como lidar com o lixo de outra maneira. Sabe como? Botando valor em hortas comunitárias, coleta de recicláveis e cooperativas de reciclagem. Mudando hábitos. Diminuindo a quantidade de lixo no lugar em que a gente vive em vez de “jogar fora”.
Em hortas comunitárias o lixo orgânico serve pra fazer adubo. Catadores de recicláveis tiram da natureza materiais que serviriam de criadouro pra mosquitos. Cooperativas de reciclagem são o destino certo de materiais recicláveis, que viram outros produtos e geram trabalho e renda. São 3 oportunidades de diminuir lixos espalhados pelos ambientes e em lixões.
Ué, mas dá pra fazer isso em favelas e periferias? Ô se dá! Já é feito, não é de hoje não! Clica no Mapa da Rede favela sustentável pra achar iniciativas perto de onde você mora. Daí, em vez de “jogar fora” os lixos, você participa de projetos na sua vizinhança e ajuda a cuidar do ambiente no lugar em que você vive: separa em casa o lixo orgânico do reciclável, leva lixo orgânico pra horta comunitária e entrega lixo reciclável pra catadores ou cooperativas.
Em Vila Isabel, por exemplo, moradores do morro e do asfalto separam recicláveis que vão pra Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis do Morro dos Macacos [COOPLIMPAR]. Contei sobre a iniciativa do Maurilio Birimbau, que coleta recicláveis, faz atividades educativas com crianças e adultos, cria móveis sustentáveis, no meu segundo artigo no Voz Tem jeito de diminuir o lixo no lugar em que a gente mora? [só clicar no título pra ler].
O tipo atual de sacolas plásticas [pra usar mais vezes] e a redução da distribuição [com a cobrança] são também oportunidade pra negócios de propósito social e ambiental em favelas e periferias. Meio ambiente e sustentabilidade podem render benefícios no cotidiano e servir pra fazer circular dinheiro, trampo e inovação pros moradores.
Uma oportunidade de negócio é a confecção de sacolas retornáveis [as ecobags ou sacolas ecológicas] pra comércios das comunidades, com a articulação de costureiras e comerciantes locais.
Outra oportunidade de negócio é o serviço de coleta de lixo orgânico e compostagem. Sem compostagem, restos de comida vão pros lixões e atraem animais que transmitem doenças, como ratos, baratas, moscas, urubus, pombos. Só que eles não moram nos lixões e voltam para as cidades levando doenças. A gente “joga fora” muita comida, sobras e restos de alimentos são mais da metade do lixo diário. É um desperdício duplo, de comida e daquilo que o lixo orgânico produz. Na natureza tudo se transforma. A compostagem de sobras e restos de alimentos produz adubo. Adubo faz parte da produção de alimentos.
A primeira empresa no Brasil com sistema de coleta de lixo orgânico pra compostagem [feita de bicicleta e com baldinhos] fica na cidade do Rio. É a Ciclo Orgânico, criada pelo Engenheiro Ambiental Lucas Chiabi [desde criança apaixonado por…lixo!] pra “desconstruir a mágica do lixo” que é a gente não ver pra onde seus resíduos vão e mostrar que a gente pode sim tratar os lixos e saber que com tratamento adequado se tornam fonte de vida, adubo.
Sempre que se fala sobre meio ambiente é de gente que também que se fala, porque ser humano é parte da natureza e depende dela pra viver, do ar, da água, de plantas e animais. Políticos que a gente elege não cuidam do meio ambiente, não cumprem leis ambientais. E mesmo aqueles eleitos em nome de Deus não cuidam da criação divina, a natureza. Tudo que afeta o meio ambiente também afeta a vida cotidiana da gente, é hora de somar pra cuidar. Bora?