Espaço Cultural sofre com o abandono e falta de interesse do Estado
Situado na Vila Kennedy, em Bangu, na Zona Oeste do Rio, o Teatro Mário Lago oferece uma programação intimamente ligada à comunidade, privilegiando a manutenção de cursos e oficinas, shows de música e espetáculos teatrais. Surgido a partir da movimentação dos próprios moradores, o então Teatro Faria Lima foi inaugurado em 1979 e se desenvolveu junto à comunidade. Em 2006, o Governo do Estado substituiu o antigo nome do teatro – Faria Lima, ex-governador do Rio de Janeiro – pelo nome do ator, poeta e compositor carioca Mário Lago (1911- 2002), que nos anos 40, se tornou um dos mais renomados galãs do teatro de comédia brasileiro. Mário Lago também teve a carreira marcada pela atuação política em favor de sua classe.
O Teatro Mário Lago teve o seu ápice nos anos 80, com programações intensas e lotação esgotada – o teatro de revista foi o gênero mais encenado. Artistas consagrados como Sérgio Britto, Blecaute e Zezé Motta já se apresentaram no palco do Mário Lago. O diretor Luiz Antônio Pilar e o vocalista da Banda Brasil, Nelson Kaê, iniciaram nele suas trajetórias profissionais.
Em fevereiro de 2013, em decorrência da tragédia da boate Kiss em Santa Maria, Rio Grande do Sul, o teatro foi definitivamente fechado por não se enquadrar nas relações de segurança contra incêndio e pânico, segundo o Corpo de Bombeiros. Cortes feitos no orçamento da Secretaria Estadual de Cultura também teriam contribuído para a interdição do local. Foi então que, em 2013, uma iniciativa da parceria entre a CUFA (Central Única das Favelas) com produtores culturais e artistas locais mobilizou moradores e voluntários para reabrir o teatro.
O espaço é patrimônio da Secretaria de Estado de Cultura, Governo do Estado e FUNARJ (Fundação de Artes do Estado do Rio de Janeiro) e hoje é administrado pela Associação Cultural Movimento Desabafo Urbano (MODU). O presidente e fundador do MODU, Anderson da Vila, 41, relata as dificuldades para manter o teatro com as portas abertas. “Atendemos em média 500 pessoas por semana, sem nenhum tipo de verba, ninguém ganha nada; a pintura interna e da faixada fomos nós que conseguimos”.
Após a saída da CUFA, o teatro ficou ameaçado de fechar as portas novamente. Desde então, o Movimento Desabafo Urbano faz a administração e gestão cultural do lugar. Através de cursos profissionalizantes e oficinas, Da Vila encontra motivação para continuar: “Falta apoio, infraestrutura, os equipamentos são antigos. Fazemos por amor, para manter o teatro aberto, funcionando. As pessoas já conhecem o nosso trabalho, os instrutores são voluntários. É um patrimônio da população e não pode ficar fechado”, finaliza.
A FUNARJ, por meio do funcionário José Emílio, alega que o espaço cultural continua oferecendo suas atividades normalmente. A pedido do mesmo, enviamos a pauta por e-mail e estamos aguardando o posicionamento da Fundação.
Com capacidade de até 164 pessoas, o teatro se tornou a principal opção de cultura da Vila Kennedy. Apesar das adversidades, continua com algumas das atividades a todo vapor. Atualmente, além das oficinas de teatro, grafite e de formação de DJs, o teatro oferece ainda cursos profissionalizantes de empilhadeiras e retroescavadeiras, totalmente 0800.
Quem estiver interessado só precisa comparecer na Rua Jaime Redondo, Bangu, de segunda a sexta, entre 9h e 17h. Mais informações através do telefone (21) 2405-5466.