Na Rocinha, construção de planos inclinados, creches e mercado está parada.

RIO – Do asfalto, a passarela com as curvas de Oscar Niemeyer e o Centro Esportivo, na Autoestrada Lagoa-Barra, podem dar a impressão de que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Rocinha já é um projeto consolidado. Mais de três anos depois do início dos trabalhos, porém, as obras pararam. A construção de dois planos inclinados e de um mercado popular, a finalização de uma creche e a reurbanização do Largo dos Boiadeiros ficaram pelo meio do caminho. A Secretaria estadual de Obras informou que aguarda uma verba de R$ 51 milhões do governo federal para a conclusão. Fora do PAC, outro projeto importante para a comunidade também está emperrado: o Parque Ecológico, que inclui a instalação de ecolimites para coibir o crescimento irregular.

Até agora, verbas de R$ 219,3 milhões

De acordo com a Secretaria estadual de Obras, dificuldades encontradas na abertura da Rua 4 – viela de 60cm de largura transformada num novo caminho, de até 12 metros de largura – foram o imprevisto que causou o pedido de mais verbas. Ali, segundo o órgão, ficou constatado que eram necessárias obras adicionais, principalmente de contenção, para evitar que as casas remanescentes pudessem levar risco aos moradores da parte baixa, em caso de chuvas fortes. Até agora, já foram gastos no PAC da Rocinha R$ 219,3 milhões, sendo R$ 120,3 milhões da União e o restante dos cofres do estado.

FOTO: André Teixeira (Agência O Globo)

Os planos inclinados, projetos semelhantes ao implantado no Morro Dona Marta, são uma das grandes decepções para os moradores da Rocinha. Um ligaria o acesso principal à Rua 1. O outro, a Rua 2 à Rua do Valão. Do primeiro, até agora há apenas o esqueleto. O segundo projeto foi abortado: a Secretaria de Obras informou que está desenvolvendo a construção de um teleférico.
O clima aqui é de decepção. E, no caso das famílias que estão na área do plano inclinado que ligaria a Rua do Valão à Rua 2, o sentimento é de apreensão. Mais de 200 moradores foram notificados porque teriam de sair dali. Eles estão preocupados diante da

incerteza

– O clima aqui é de decepção. E, no caso das famílias que estão na área do plano inclinado que ligaria a Rua do Valão à Rua 2, o sentimento é de apreensão. Mais de 200 moradores foram notificados porque teriam de sair dali. Eles estão preocupados diante da incerteza – reclamou José Martins de Oliveira, morador da comunidade.

No mês passado, o estado publicou, em Diário Oficial, a suspensão temporária da contagem do tempo de contrato com a empresa Midas Engenharia para a execução do Parque Ecológico, por indisponibilidade de verbas. Ainda faltam cerca de 30% de obras a serem feitas. O plano inclinado da Rua 2, que foi abortado, incluía o parque em seu roteiro.

Outra questão que preocupa na Rocinha e ainda parece longe de solução é o saneamento, que limitou-se à Rua 4 nas intervenções do

PAC. Arquiteto que projetou o Centro Esportivo, Luiz Carlos Toledo ressalta que a comunidade ainda está carente de obras:

– Se eu pudesse escolher uma obra na Rocinha, ficaria com o saneamento básico. Falta completar a rede de esgoto e água na comunidade. O mau cheiro proporcionado pelo esgoto, é forte, por exemplo, no Centro Esportivo. As águas pluviais também precisam ser equacionadas. Há talvegues (cursos d’água) na Rocinha que precisam de canaletas, para dar segurança às casas próximas quando chove forte. A questão do lixo também precisa ser equacionada.

Além do Centro Esportivo e da passarela, já ficaram prontos uma UPA; a reurbanização da Rua 4 e da área conhecida como Valão; 144 unidades habitacionais; e um Centro de Convivência – que ainda espera por equipamentos para ser inaugurado.

De acordo com o IBGE, a Região Administrativa da Rocinha foi a segunda em aumento percentual de população no Rio entre os Censos de 2000 e 2010 (23,11%). Os números oficiais informam que a favela passou de 56.338 para 69.356 habitantes.

FONTE: Oglobo.com

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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