A realidade dos estudantes que moram em comunidades muita vezes não permite que eles tenham a dedicação necessária para prestar o Vestibular. A maioria deles são oriundos de escolas públicas que há décadas sofrem com descaso e sucateamento, expressos na falta de professores, infra-estrutura precária e falta de materiais, prejudicando a rotina e a qualidade de ensino. Sem contar com os outros problemas que também dificultam a vida dos estudantes, como a violência, que mantém escolas fechadas por dias, e a situação econômica que muitas vezes demanda que os adolescentes deixem a escola para ir trabalhar, ou tenham que conciliar as duas atividades.
Como resultado, muitos alunos sequer tentam ingressar no ensino superior. Felizmente, os pré-vestibulares comunitários ajudam a amenizar esse quadro, surgindo como uma opção àqueles que sonham com uma vaga na universidade e não tiveram um bom ensino médio e/ou não tem condições de frequentar cursos preparatórios de renome. O PVCR (Pré Vestibular Comunitário da Rocinha) atua há mais de dez anos na comunidade, e em 2019 aprovou 7 alunos da favela direto para a PUC-Rio, tradicional universidade particular que ocupa a terceira posição no ranking das melhores universidades do país, e a quarta melhor da América Latina, de acordo com levantamento da Times Higher Education publicado em 2020. Localizada na Gávea, zona sul do Rio de Janeiro, a PUC-Rio é vizinha da Rocinha. Conversamos com quatro estudantes que iniciarão as aulas em março, sobre o percurso até a aprovação e as expectativas da vida de universitário.
Ana Vitória, 19 anos, irá cursar Pedagogia na PUC-Rio. Ela resolveu prestar vestibular pelo incentivo que teve de seus professores do ensino médio, e se preparou por dois anos no PVCR até ser aprovada. Ela conta que confia no trabalho do PVCR por ter em sua equipe de professores e colaboradores moradores da Rocinha que hoje cursam ou cursaram o nível superior – alguns deles ex-alunos do próprio pré vestibular. Além disso, ter um pré-vestibular dentro da comunidade dá maior segurança e conforto aos alunos.
A estudante conta que cursou parte do ensino médio em uma escola, e depois em outra, ambas da rede pública. Uma delas, o colégio estadual Ignácio de Azevedo do Amaral, no Jardim Botânico, é focado em formação de professores (antigo curso Normal), e por isso o conteúdo é diferente das demais escolas: “Meu ano do ensino médio foi meio complicado, porque eu comecei numa escola e fui pra outra. Eu fiz formação de professores no Ignácio e lá é muito pesado, pois é integral. Mas não é uma escola que te faz estudar pra prestar vestibular.” Ela trocou o Ignácio pelo colégio estadual André Maurois, na Gávea, e pegou um período confuso devido à troca na direção da escola. Apesar das turbulências, ela defende o sistema público de ensino: “A escola pública tem sim problemas e algumas dificuldades, mas quando você se esforça pra conseguir, passa. Eu consegui ter uma boa base, e o PVCR me ajudou muito com as matérias.”
Maria Eduarda Lima, 19 anos, aprovada em Design Industrial, escolheu o PVCR para se preparar para o vestibular, após terminar o ensino médio. “Na escola em que eu estudava tinha também o pré-vestibular, eu estudava de manhã e de tarde fazia o pré, só que eu percebi que não ia conseguir daquele jeito”. Ela diz que o pré proporcionou novos conhecimentos e também novas amizades.
Jefferson Souza, 24 anos, aprovado em Administração de Empresas, também tinha planos de cursar o pré-vestibular, já que fazia tempo que havia terminado o ensino médio e estava sem estudar: “Sabia que tinha que procurar um curso preparatório, por isso vim atrás do PVCR”. Com relação à experiência como aluno do pré-vestibular comunitário, Jeferson destaca a ajuda mútua entre os colegas: “O PVCR não é só aula, ele te prepara para o mundo, para relações mais humanas com o próximo”.
Aprovada em Administração de Empresas, Andreza, de 19 anos, conta que prestou vestibular quando terminou o Ensino Médio, em 2018, mas não havia se preparado durante o ano. Além disso, a escola em que estudou teve períodos de greve que afetaram o calendário escolar. Em 2019, ela resolveu entrar no PVCR para ter uma rotina de estudos mais regular, e conseguir rever todo o conteúdo. A nova universitária espera que o curso contribua para o seu crescimento profissional e também pessoal.
Os quatro esperam que esse primeiro passo na direção de suas carreiras seja bastante enriquecedor e que traga muitas oportunidades. “A PUC tem renome, é muito conhecida”, destaca Ana Vitória. O PVCR está nas redes sociais, quem quiser conhecer mais pode acessar a página do pré-vestibular no Facebook e seguir no Instagram @pvcr.rocinha.