A gente nasce, cresce e morre. E nem sempre é necessariamente nessa ordem. E então se nem essa certeza temos, com o que podemos contar? Eu diria: Escolhas. Porque não são nossas palavras que definem quem somos, mas sim nossas escolhas. Nem sempre são fáceis, mas igual nossa mãe costuma dizer: Um dia você vai entender. Isso aconteceu comigo antes e durante as minhas viagens para a Ásia.
Na verdade tenho duas histórias diferentes para um mesmo continente. A minha primeira viagem para a Ásia já foi arrebentando a boca do balão, direto pra Índia. Já a segunda viagem foi para a Tailândia, paraíso do turismo no mundo.
Minha primeira viagem sozinha no estilo mochilão foi para a África do Sul em 2013 e logo que voltei já comecei a planejar uma viagem para a Índia, o que era o meu sonho. Fiquei mais de um ano planejando e aprendi até a desenhar o mapa do país. A Índia é um país muito grande e por isso concentrei meu roteiro no norte e deixei para outras oportunidades ir para as outras regiões.
Com a Tailândia foi o contrário, vi uma promoção maluca em um site de passagem aérea em Setembro e comprei meio que por impulso já para Fevereiro do ano seguinte quando seriam minhas férias. Depois de comprar as passagens que comecei a me planejar para conhecer e fazer tudo que sempre tive vontade na Tailândia, incluindo abraçar um elefante.
Já dando um spoiler do que vem a seguir, quando me perguntam sobre esses dois países eu já jogo de cara que a Tailândia eu recomendo pra todo mundo: casal, casal com criança, sozinho ou com amigos. Já a Índia é hardcore, precisa ter sangue nos olhos, não é pra qualquer um.
A Índia é o país com a maior imersão cultural do mundo, nada que você já viu ou verá será igual a Índia. Eu falo isso porque como disse antes, me planejei por mais de um ano, e quando digo me planejar é mergulhar em blogs de viagens, artigos e comentários de quem já foi. E mesmo assim quando cheguei lá levei um banho de agua fria do rio ganges, foi uma surpresa a cada esquina.
Para começar temos um transito maluco cheio de tuk tuks e buzinas, muita, mas muita buzina. Depois as roupas, o idioma, os cheiros, a comida e os temperos. O que mais te deixa chocado é o contraste, barracos muito humildes do lado de palácios exuberantes. Um belo exemplo é o Taj Mahal que tem um dos jardins mais lindos que já vi na minha vida, é simplesmente encantador. Mas fica ao redor de uma cidade afundada em lixo.
Como era o meu sonho ir pra Índia decidi conhecer os lugares e não fazer trabalho voluntário – que é algo que eu amo – mas de qualquer forma, fiz uma campanha no facebook antes de ir e consegui arrecadar alguns brinquedos e roupas para doar em um hospital infantil de lá. As crianças foram uma das minhas partes favoritas nessa viagem. Não só no hospital, mas nas ruas e em todos os lugares. Me planejei para ir durante o Holi festival, que é um festival onde todo mundo joga pó colorido no outro, dança e se diverte. Nessa festa não existe rico ou pobre, empregado ou patrão, são todos iguais compartilhando a celebração. É algo encantador.
Mas não só de festa e pó colorido vive o homem, e nas minhas últimas semanas na Índia caí de doente, só conseguia comer batata frita e milk shake. Não sei dizer ao certo o que me deixou assim, se foi a agua, a comida, ou um chai que tomei na rua (gênia). E mesmo quanto a água que é regra universal da índia “Jamais tomarás agua da torneira”, uma coisa é você ficar atento ao que vai beber, mas você também vai precisar escovar os dentes e tomar banho, então nunca estará 100% seguro.
Grande surpresa eu tive na Tailândia. É muito semelhante a Índia com seu transito semi-maluco, seus tuk tuks e comidas exóticas. Diferente da Índia, a Tailândia tem uma cultura um pouco mais ocidental e por isso você ainda consegue encontrar supermercados e se virar com um croissant pra matar a fome (supermercado não existe na Índia). Eu acho que se fosse colocar em escala de loucura o Brasil seria nível 2, a Índia nível 10, e a Tailândia seria nível 6. Tendo isso em mente, dá para entender porque me adaptei tão rápido na Tailândia.
Na Tailândia o que eu mais queria era ver elefantes então com um mês de antecedência já reservei uma visita a um parque de elefantes. Antes de escolher esse local eu pesquisei muito porque não queria cair no risco e visitar um local que maltratam os elefantes. No meio da viagem fui para essa reserva e foi mágico, entrei no rio com os elefantes, dei fruta na boca deles, e ainda descobri que eles têm programa de voluntário. Quem sabe da próxima!
A religião predominante na Tailândia é o Budismo e na Índia o Hinduísmo. Não sei se tem alguma influência dessas religiões no comportamento das pessoas, mas eu passei a amar o budismo por causa dos tailandeses. São absolutamente educados e isso me conquistou. Os templos são lindos assim como os do Hinduísmo na Índia, mas é tudo mais limpo e organizado. Por falar em limpo, essa é outra diferença entre os dois países, os hotéis na Tailândia são muito limpos. Fiquei em um hotel em Chiang Mai no norte da Tailândia por 25 reais a diária, e se eu quisesse poderia comer no chão de tão limpo.
Por mais que as praias da Tailândia sejam famosíssimas (e com toda a razão, porque são lindas), o que mais me encantou foi o norte. Andar de bicicleta e me perder pelas ruas da cidade velha cheia de seus templos foi uma experiência que acho que todos deveriam ter uma vez na vida, e por isso recomendo absolutamente separar alguns dias para conhecer o norte.
Em um mesmo continente os dois países têm diferenças muito distintas e semelhanças muito gritantes. Acredito que sofri mais na Índia porque quis fazer um roteiro muito minucioso, o oposto do que aconteceu na Tailândia, ou talvez nós é que nunca estamos 100% preparados para aquilo que buscamos. Uma pessoa pode ser considerada rica porque tem roupas de marca e eletrônicos de última geração, ou uma pessoa pode ser considerada rica porque atravessou o mundo em uma viagem fora do normal. Eu fico com a segunda opção, mas não por achar que quem faz isso é rico, na verdade você sempre tem que abrir mão de algo, independente da escolha. Mas acredito que a experiência que você adquire viajando é impagável, e a única coisa negativa que vejo em viajar é que deveria ser proibido voltar com a bagagem cheia de saudade.