O Complexo do Alemão não é o Egito, mas a quantidade de pirâmides encontradas pela comunidade é impressionante. E enquanto no país do norte da África são feitas de pedras e areia, aqui elas são feitas de sacos de várias cores, pedaços de vidro, sofás velhos, móveis e até animais. Sim, estamos falando do lixo que se acumula e se espalha pelas ruas da favela.
“Isso aí está sempre sujo!”, foi assim que Dona Marília, de 65 anos, respondeu quando questionamos sobre a quantidade de lixo na Rua Austregésilo, no Complexo do Alemão. No final da descida que termina em um entroncamento, sacos rasgados tomam conta da calçada e invadem a rua aos poucos. “Todo dia é isso! É tapuru, mosca, rato…! Está um absurdo isso aqui!” reclama Dona Marília.
Na tarde da última terça-feira (7), o Voz das Comunidades fez um tour pelo Complexo do Alemão para ver como estava a situação de descarte e recolhimento de lixo no morro. Se fosse só a Rua Austregésilo, seria o menor dos problemas, mas por onde passamos, as imagens eram sempre as mesmas: montanhas de resíduos, moscas e mau cheiro.
Na Fazendinha, a chamada Rua dos Cornos, localizada atrás do Campo do Seu Zé e próxima à Associação de Moradores da Fazendinha, está se formando um bolo de lixo. Dona Maria Conceição, de 61 anos, mora bem em frente e reclama. “Toda hora eu tenho que ficar limpando aqui o meu portão de casa porque sempre está com tapuru. Não era assim antes!”. A dona de casa relata que sempre que sai para caminhar, descarta seu lixo no local adequado e também menciona que o descarte acontece a qualquer hora do dia. “Eles só vêm e jogam de qualquer lugar. É da escada, é dali de cima… Eu já falei com o presidente da associação dos moradores várias vezes, mas nada é feito.” Dona Conceição aponta que a população também não se ajuda. “Precisa manter limpo. Parece que ninguém tem educação. Só jogam a sacolinha aqui e vão embora”.
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades
A Praça do Samba e a curva de entrada do Inferno Verde não ficam de fora. Sacolas tomam a calçada e as moscas reinam. Além de sacolas, animais mortos também são encontrados entre os montantes. Mau cheiro e moscas tomam conta do local. No Inferno Verde, moradores relatam que não viam a Comlurb há uma semana. “Vieram aí, mas não levaram tudo. Pegaram um pouco e foram embora.”
A Praça do Cruzeiro é um local histórico para o Voz das Comunidades. Em 2018, moradores denunciavam a sujeira do local, que não recebia a limpeza da Comlurb. Em 2022, a Praça do Cruzeiro virou um “Lixão a céu aberto que causava infestação de bichos“. Com denúncias e queixas de moradores, a Comlurb limpou o local e deixou caçambas para o descarte de lixo. Mas parece que tudo retrocedeu e passar hoje pelo local, é encontrar aquele mesmo lixão a céu aberto.
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades
“Botaram até o carro no lixo”
Moradores brincam com a situação de um carro dentro do montante de lixo que se acumula na entrada da Matinha, próximo ao Largo das Kombis. Junto a um Chevette, uma pirâmide de sacolas, caixas de papelão e galhos se forma aos poucos. O morador Marcelo Silva, 38 anos, mora bem próximo e relatou que mesmo com a passagem da Comlurb, lixo sempre se forma. “Estiveram hoje aqui. Mas não juntaram tudo. Pode ver que estão até as marcas de pneus no chão. Mas é uma situação preocupante. Isso aí dá rato, gambá… É difícil!”. E quando chove? “Isso aqui entope tudo. Fica tudo alagado e boiando”, detalha Marcelo.
O Voz das Comunidades também flagrou montantes em áreas próximas ao Teleférico e Campo do Sargento. Nesta área, existe até um ‘Beco do Lixo’ que, segundo relatos, às vezes os moradores precisam pular por cima do lixo pra acessar o local.
Confira fotos:
E a Comlurb?
O Voz das Comunidades entrou em contato com a assessoria de imprensa da Comlurb. Além de citar os locais onde foram encontrados os materiais descartados, fotos foram enviadas. Até o fechamento deste material, a Comlurb ainda não tinha respondido.
Atualização
No dia 8, a coordenação da Comlurb respondeu ao nosso contato. Na nota, responderam que “houve um problema pontual na coleta de lixo em alguns locais do Complexo do Alemão. A coleta de lixo e o serviço de remoção dos resíduos acumulados já estão sendo regularizados” na noite do dia 7 de maio.