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“Lazer e Capão: duas palavras que precisam combinar!’

Apresento-lhe o Capão. Ou “Esquecidão”, como preferir chamar

O Voz da Comunidade retornou ao Capão, a pedido dos moradores, após a capa de edição 46, que apresentou uma matéria sobre o terreno que virou lixão, falando também sobre situação precária do local, que é claramente abandonado. O terreno reclamado foi limpo e voltou a ser um espaço vazio, o que tem preocupado os moradores e inquietado as crianças.

“A vida não tem sido fácil, somos abandonados. Nossa rua é toda quebrada, cheia de esgoto, é isso aí que vocês estão vendo. Lixo, tudo acabado, muito mosquito, mau cheiro, canos que estouram a toda hora. Esse é o nosso dia-a-dia. Criei essa vendinha para me distrair, tirar a cabeça dessa situação. Eu não posso sair de casa sozinha, corro risco de me machucar ou até coisas piores. Aqui é íngreme, só saio para ir ao médico e acompanhada. É muito dicil! Graças a Deus, sempre aparece uma alma boa para me ajudar.” Denunciou Maria da Penha Leonel Silva, um senhora de 70 anos que não pode sair de casa sozinha, devido à falta de asfalto nivelado e ao excesso de buracos e esgotos.

Ao ser questionada sobre o lazer, que é mais um dos problemas recorrentes do Capão, dona Maria também pede que o espaço seja usado para a distração das crianças: “Aqui deveria ser construída uma pracinha, fazer um investimento. As crianças não tem onde brincar, tem que jogar bola no portão de outras pessoas, quebram vidros… Se existisse um espaço, isso não aconteceria com tanta frequência e elas poderiam brincar com mais segurança.”

Foto: Bento Fabio
Foto: Bento Fabio

Andréia Soares, personagem que foi destaque na matéria anterior, pediu para falar novamente com o Voz da Comunidade. Mais uma vez, indignada com a situação, afirmou que as coisas parecem piorar a cada dia: “A COMLURB, junto com o presidente da Associação da Nova Brasília, fizeram a limpeza. Porém, nada mais foi feito. Na maioria dos terrenos em torno do teleférico, o espaço é utilizado. Temos certeza de que, se isso ficar sem nenhuma atividade, o local volta a ser lixão.’ Guilherme, de 10 anos, um dos filhos de Andréia, emocionou a equipe ao responder do que sente mais falta em sua comunidade. “Conforto” foi a palavra usada por uma criança que desconhece o que é ter o mínimo. Acompanhado dos amiguinhos, Guilherme pediu que uma quadra seja construída no local.

A chegada do Voz da Comunidade ao Capão atraiu muitos moradores. Entre eles, estava Cristiane Regina Costa de Maurício, 40 anos, que nos contou um pouco de sua vivência na comunidade: “O Capão foi feito todo em cima de valas. Quando entope algo, são os homens que moram na comunidade que precisam resolver. Agora resolveram criar uma mureta no barranco, para servir de lixeira, o que é uma tragédia anunciada na primeira chuva. Eu tenho um trailer ali perto, mas como vou vender comida ao lado do lixo? A única coisa que fazem no Capão é maquiar. Além da falta de lazer, não tem um curso, uma formação para os nossos jovens.”

Os relatos de moradores, as fotos e toda a situação do Capão não é novidade para ninguém. A reivindicação continua a mesma: o básico de qualidade de vida a cada morador. Sabemos que existem muitos lugares abandonados no Complexo do Alemão e no resto da cidade, mas a cada problema resolvido, é um passo dado para a melhoria do lugar onde vivemos. Queremos pracinha, queremos biblioteca, queremos andar pela comunidade sem ver um esgoto a céu aberto e um fuzil a cada esquina. Nós queremos muito e repetiremos os problemas até serem resolvidos.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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