Jessé Andarilho recebe homenagem da Ordem do Mérito Cultural

Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal

O MargiNow está voando!

No último dia 14, quarta-feira, Jessé Andarilho, junto com outras doze personalidades e instituições cariocas, recebeu a Ordem do Mérito Cultural. Esta homenagem é a mais ilustre premiação do município do Rio.

Apesar de nunca ter sonhado em ser uma referência, hoje já não restam dúvidas que Jessé é um exemplo para muitas pessoas. Principalmente os jovens. Jessé tem 37 anos de idade, mas, com facilidade quem o encontra poderia lhe dar uma década a menos. Não pelo estereótipo de imaturidade que aprendemos a conhecer, mas porque ele sabe se comunicar com facilidade com esse público. Durante a FLUP deste ano, só bastou Jessé chegar, fazer uma rima, anunciar a venda de seus livros, e receber de imediato o entusiasmo das pessoas com sua presença, discurso e trajetória.

Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal

“Receber a medalha foi muito bom. É tipo um reconhecimento pelo trabalho que faço. Um trabalho de formiguinha. Parece até que não tem valor, mas foi através de uma mediadora de leitura que a minha vida mudou. Tento fazer o mesmo, mas em outras proporções. E estar numa sala com gigantes da nossa cultura, como João Donato, Tia Maria do Jongo, Adailton do Ponto Cine, Edelzuita entre tantas outras pessoas e instituições que sou muito fã. Foi fantástico”, explica Jessé.

A princípio, Jessé encarou com espanto o convite. “Acho que tem tanta gente boa que faz um trabalho incrível pela nossa cidade. Ter meu nome indicado já foi uma honra”, conta ele.

Esse reconhecimento, ainda que merecido, ainda é algo com que Jessé não se acostumou. Para um aluno que deu tanto trabalho para as professoras no passado, hoje usa a sua própria experiência para ajudar professoras e professores com o seu trabalho. Foi assim que surgiu a ideia do #AndarilhoNasEscolas.

“Vou às salas de aula e troco uma ideia com os alunos. É um papo diferente. É papo de igual, pois é assim que conduzo a conversa, com as mesmas gírias, estilo de cabelo e roupas que eles usam. Conto como era bom fazer bagunça e matar aula pra jogar bola, mas depois conto como foi depois que a idade chegou e o que aconteceu quando precisei arrumar um emprego sem estudos. Aí a conversa vai para um outro lado. O silêncio toma conta das salas e os olhos ficam arregalados e aflitos. Até que conto o que aconteceu depois que comecei a ler os livros”, ele narra. Jessé também recebe muitos relatos de professores sobre a mudança no comportamento dos alunos, “isso é muito bom”.

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Depois que lançou “Fiel” (2014), seu primeiro livro, Jessé recebeu convites para entrevistas na TV e em eventos no Brasil e no mundo. O que chamava a sua atenção era a forma como o apresentavam: o escritor “marginal”, autor de “literatura marginal”.

Então ele pensou: “Se a pessoa é da favela e faz música, o Funk é chamado de proibidão. A música dos mais velhos é chamada de brega. Se a pessoa mora na periferia e tem um grupo de teatro, é chamado de teatro amador. Se a pessoa organiza eventos e não mora na área “nobre” a pessoa é chamada de agitadora cultural, ao invés de Produtora Cultural. A verdade é que eles sempre arrumam uma forma de nos rotular, nos colocar numa caixinha separada. Nos colocar às margens”.

Como conseqüência, ele criou o movimento MargiNow, “para quem veio das Margens e chegou ou quer chegar no NOW, no agora”. Jessé não quer privilégios, que abram as portas, só quer que não fechem. “Porque se fechar nós vamos meter o pé na porta e abrir. Acho importante saber de onde nós viemos, mas isso não determina ou delimita aonde vamos chegar. O céu é o limite e é por isso que estamos voando”.

A força de vontade é o que faz Jessé encarar duas horas de trem para chegar aos lugares onde a sua arte está inserida. Durante o percurso recebe estímulos de vendedores ambulantes, dos papos com passageiros, das “caozadas” quando o trem quebra e tem que passar para outro. Para ele, isso tudo é uma vantagem, lhe dá um gás. Jessé explica que não pode perder tempo, tem que fazer valer a pena. “A distância da margem é o que me move!”, conclui Jessé, que durante esses trajetos de trem escreveu dois livros – escritos pelo celular – publicados e outros a caminho.

Hoje é uma inspiração para muitos, Jessé Andarilho se inspira em pessoas que, segundo ele, fizeram (e fazem) antes o que ele tenta fazer agora. Carolina de Jesus, MV Bill, Lima Barreto, Binho Cultura, Rodrigo Felha, Fernando Barcellos, Rene Silva, Ana Paula Lisboa, Celso Athayde, Meri Onírica, Raull Santiago, Sabrina Martina, Elisabete Manja, Rafaela Silva, Lellêzinha. São alguns nomes dentre muitos outros. Quem quiser o procurar em @jesseandarilho ele passa uma lista maior de nomes.

O MargiNow venceu. E esse é só o começo.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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