Antropólogo americano deixa classe média para viver a cultura das comunidades
Ele tem a pele bem clara, cabelos loiros, olhos de um tom de azul vibrante e estilo próprio. Assim, não tem como passar despercebido pelas ruas do Complexo do Alemão ou qualquer outro lugar do Rio. Só de olhar, antes mesmo de ouvir o sotaque, quem vive na comunidade diz que ele não é da área. Se engana quem pensa assim. Jason Scott realmente não nasceu no Brasil, mas desde o dia em que pisou pela primeira vez neste país tropical, há dez anos, não quer mais sair daqui.
Mestre em antropologia, formado na University of Colorado Boulder, o americano de 30 anos dedica a vida hoje em dia ao projeto Oca dos Curumins, um espaço sócio cultural voltado para a comunidade e também se ocupa com a pesquisa para a tese que está escrevendo sobre inclusão digital em comunidades pacificadas.
A vontade de aprender a língua portuguesa e conhecer o Rio de Janeiro veio após assistir ao filme “The Live Aquac”, cujo título nacional é “A Vida Marinha de Steve Zissou”. A obra conta com a participação do artista carioca Seu Jorge.
“Estava assistindo a um filme com o cantor e ator brasileiro Seu Jorge e ele canta uma música do David Bowie. Eu tinha que aprender um outro idioma e decidi estudar português. Já tendo noções da língua, juntei dinheiro e planejei que faria uma viagem e escolhi o Brasil por ser rico em cultura. Posso dizer que estou aqui hoje graças a eles”, comenta.
Assim que chegou ao Brasil, antes de se encantar com a diversidade e a cultura do Complexo do Alemão, morou na comunidade do Vidigal, Zona Sul do Rio, chamada por Jason de “Gringolândia”, pela quantidade de turistas que moram no local. Lá trabalhou em um albergue para se manter.
Com o apoio da organizadora do Oca, conhecida pelos alunos do projeto como Tia Bete, conheceu o Alemão e é a ela a quem agradece a ajuda e o acolhimento que recebeu. Jason tem uma esposa brasileira e ela e os amigos do Oca dos Curumins são considerados a sua família.
Sobre o livro que está escrevendo, Scott diz que todo antropólogo do Colorado e de outras partes do mundo está falando sobre violência e marginalidade. O assunto “violência” é importante, no entanto, o americano escolheu uma visão oposta sobre as comunidades. A proposta foi escolher um assunto que não fosse violento e negativo.
“Queria falar das comunidades, mas algo além da violência. Quero mostrar que com a informação e a interatividade é possível exercer funções positivas. Busco pessoas que vivem com a tecnologia e procuro aquelas que não usam e comparo. Procuro conhecer e participar do maior número de projetos possíveis”.
O americano confessa que está ciente dos acontecimentos que ocorrem na comunidade e que evita o contato com quem transita com armas de fogo.
“Tenho medo de ofender as pessoas ou que elas me interpretem de forma errada. Procuro não ter muito contato com a polícia, assim como busco o mínimo de proximidade com o tráfico. Conheço um gringo que mora na Rocinha e gravou um vídeo de roteio. É possível ver claramente que ele estava bem longe do acontecimento e não tinha muita informação sobre o que estava acontecendo. Mas infelizmente, essas imagens estão rodando o mundo. Acredito que nós, que viemos de fora e estamos morando aqui, devemos ser humildes. A gente sabe que esse tipo de coisa acontece. Fazemos parte da comunidade e da história. Não existe necessidade de ficar negativado ainda mais a imagem da comunidade”, comenta, indignado.
“É um lugar de esperança. As pessoas tem mais esperança aqui do que qualquer outro lugar da cidade, do país e do que qualquer outro lugar que eu conheço. Sobre a violência, podemos dizer que é uma luta social, que infelizmente não vai acabar logo. Estou ficando mais militante, abracei a causa e aqui é meu lar.”