O amor de Maria Inês, moradora da Vila Vintém, pela literatura poderia ser um daqueles impossíveis
REPORTAGEM DE: Alessandra Caldes e Jefferson Baptista
Mas não foi. Por causa da paixão pelas letras, que conheceu através da mãe que escrevia o alfabeto na terra com um graveto de goiaba quando ela tinha seis anos, hoje Maria virou Mery Onírica. É conheci- da por esse nome há seis anos, quando participou pela primeira vez da Feira Literária das Peri- ferias (FLUPP) e se reconheceu de fato como escritora. O fascínio pela leitura sempre rodeou Mery, mesmo quando ela morava na rua e não podia frequentar a escola.
Com sete anos já trabalhava em casa de família. Nessa época começou a ser desmotivada pelo pai que dizia que “mulher negra para ser alguém tinha que ser babá de filho de madame”. Mery diz que hoje sabe que sua mãe tinha razão quando respondia ao seu pai que “minha filha não vai ser babá de filho de madame, ela é inteligente”.
Nesse tempo, ainda Maria Inês, já escrevia sobre seu cotidiano em papel de pão. No entanto, só conheceu um livro com 15 anos. Anos depois, em 2012, lançou o seu próprio, o “Flupp Pensa – 43 autores”, pela editora Aeroplano.
Mery Onírica comenta que não sabia da responsabilidade de ser uma mulher negra da favela. Depois de ter sido apresentada como escritora da Vila Vintém, começou a produzir textos afirmando sua identidade. “Minha mãe sempre foi meu espelho e hoje tenho consciência que com esse espaço que venho conquistando posso ser espelho para outras mulheres”. Hoje, aos 60 anos, nunca deixa de expressar todo o seu amor pela Vila Vintém.