Uma pesquisa recente intitulada “Favelas na Mira do Tiro: Impactos da Guerra às Drogas na Economia dos Territórios”, realizada pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), revelou as profundas consequências econômicas e sociais nas favelas do Rio de Janeiro. O estudo concentrou-se em duas das principais comunidades do Rio, o Complexo da Penha e o de Manguinhos, ambas localizadas na Zona Norte da cidade. Os resultados destacam como os moradores dessas áreas enfrentam perdas financeiras significativas e desafios cotidianos devido às frequentes operações policiais.
Prejuízos Financeiros Expressivos
Segundo a pesquisa, os moradores desses complexos de favelas perderam, em média, 7,5 dias de trabalho ao ano devido às ações policiais, o que se traduz em uma perda de impressionantes R$ 9,4 milhões anualmente. Esse impacto financeiro resulta da interrupção das atividades remuneradas de quase 61% dos residentes que souberam de uma ou mais operações policiais na região. O estudo também apontou que os prejuízos não se limitam ao campo financeiro. Os danos materiais causados pelas ações da polícia representam uma carga adicional para os moradores das favelas. O custo estimado para reparar bens danificados, como estruturas de casas atingidas por tiros, janelas quebradas e portas arrombadas, chega a R$ 4,7 milhões anualmente nos dois complexos de favelas estudados. Apenas para consertar danos às estruturas das residências, estima-se um custo de R$ 1,1 milhão.
Impactos nos Serviços Básicos
Além das perdas financeiras e dos danos materiais, a pesquisa demonstrou que as ações policiais frequentes afetam gravemente o acesso a serviços essenciais. Nos 12 meses anteriores à pesquisa, 44,9% dos moradores ficaram sem energia elétrica, 32,1% sem internet e 17,3% sem água devido às operações policiais. Essas interrupções, por vezes prolongadas, causam transtornos significativos, incluindo a deterioração de alimentos e a interrupção de tratamentos médicos de pessoas com necessidades especiais. Além dos danos materiais e financeiros, as operações policiais também têm impactos sociais profundos nas comunidades estudadas. Cerca de 56,6% dos moradores ficaram impedidos de usar o transporte público, 42,8% não puderam desfrutar de atividades de lazer, 33,3% não receberam encomendas, 32,3% perderam consultas médicas e 26% tiveram suas atividades educacionais interrompidas. Essas interrupções afetam profundamente a qualidade de vida e o acesso a oportunidades para os residentes das favelas. O Voz das Comunidades realiza a consulta com serviços públicos essenciais quando ocorre operações policiais nas favelas. Setores de educação e saúde são os mais afetados.