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Era uma quinta

Era uma quinta-feira, final de tarde. Eu saía da Canitar no Complexo do Alemão e estava indo para Laranjeiras, cruzando da zona norte para a zona sul no Rio de Janeiro. Primeiro passo, se aventurar de carona no moto taxi, depois, pegar o metrô na estação Inhaúma e descer no Largo do Machado.

A movimentação das pessoas dentro do vagão, o embarque e desembarque, vai trazendo novas histórias que ali observo. Na estação da Cinelândia sobe um grupo de adolescentes uniformizados, a logo na blusa era de uma escola de referência na zona sul do Rio de Janeiro. O papo sobre as provas e o medo de não passar de ano, a angústia de perder seu lugar naquela escola, faziam parte dos assuntos. Durante o momento em que escutava as matérias que estavam sendo revisadas por esse grupo de adolescentes, que deveriam ter por volta de 15 anos, percebi o quanto nossa educação pública é tão escassa.

Matérias como química, espanhol, alemão e matemática, tomavam uma forma jamais vista por mim. Eu que fui estudante de colégio particular da classe média, nunca ouvi falar naqueles conteúdos de forma tão profunda.
Um dos adolescentes se queixava dizendo estar muito cansado, que não tinha mais tempo para nada em sua vida, todo o horário estava preenchido. Uma agenda que além da escola, precisava dar conta da natação, do inglês e do piano. Realmente, não sei como ele dava conta.

Além dessas matérias, um dos estudantes, para tentar acalmar aquele que se queixava, começou a fazer algumas reflexões impressionantes sobre a vida, de como era importante estudar naquela escola e de como era tão cobrado e não havia mais tempo ocioso na agenda. A falta do lazer era uma marca naquele grupo.

Foto: Reprodução/Internet

Fiquei imaginando aqueles adolescentes daqui a dez anos, sem dúvida todos graduados, talvez até mesmo trabalhando na área que se propunham durante a graduação. Não fazer faculdade num grupo como esse é impensável.

No Alemão atendo jovens. Grande parte não está na escola porque tiveram problemas com professores, diretores, não veem uma importância nesse espaço e dizem que é um lugar chato de estar. Alguns falam que cansaram de ir para escola e o professor não estar na sala. Passam anos fora da escola. Os mais velhos começam a sentir a necessidade do estudo para conseguir melhores trabalhos, às vezes buscam um curso de qualificação profissional. Os cursos mais oferecidos e acessíveis são de mecânico, padeiro, manicure e cabeleireiro.

De um lado, a ociosidade pela falta de ofertas e a escola precária impera, enquanto do outro, a angústia pela falta de tempo livre é uma questão para os jovens da escola da zona sul. Cadê o equilíbrio?

Meu maior desejo é que todos nessa história possam alcançar seus sonhos, independente de tão altos possam ser. Gostaria que todos tivessem as mesmas oportunidades, que todos tivessem acesso a mesma educação e que acima de tudo, se realizem.

monique_novaimagem-colunista

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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