O Brasil vive um dos períodos políticos mais conturbados de sua história, e entre o desenrolar do processo de impeachment e as denúncias quase diárias que dominam os noticiários do país, quase todo mundo se esqueceu de que, em poucos meses, teremos um dos eventos mais decisivos para o futuro da política nacional: as eleições municipais de 2016.
Para um período diferente, regras diferentes. O cenário político atual é diferente de qualquer um já visto anteriormente: parece dominar as ruas o sentimento de falta de identificação com a classe política. O país aparenta, finalmente, estar saturado de tudo o que está “disponível pra consumo” em Brasília, ou em qualquer câmara ou assembleia legislativa estadual ou municipal. Dessa vez, o sentimento me parece ter extrapolado, pela primeira vez, preferências partidárias. É como se ninguém acreditasse mais num “partido salvador da pátria”.
Ao mesmo tempo em que nada do que está “no mercado” político empolga muito, nenhum produto novo chegou de imediato para ocupar seu lugar. E temos um fato: em outubro desse ano, pessoas serão escolhidas para substituir as que estão no poder hoje. E, mesmo que engatinhando discretamente, se escondendo por trás das sombras do noticiário político turbulento, não faltam pretendentes a essas vagas.
Em São Paulo, a maior cidade do país, o número de pré candidatos de peso à prefeitura assusta: 11, entre ex-prefeitos, deputados, e um grande empresário. Esse último chama atenção, e pode antecipar um padrão do futuro político próximo: gente bem sucedida, que “deu certo” na vida e nunca antes havia participado do jogo político, se elegendo para cargos importantes. Esse perfil é uma aposta minha em particular, e teremos textos só sobre esse assunto em breve.
No Rio de Janeiro, são pelo menos 7 pré candidatos, todos notórios. Nomes que qualquer carioca já escutou em eleições anteriores: Crivella, Jandira Feghalli, Alessandro Molon, Indio da Costa, Marcelo Freixo, Pedro Paulo… Todos tentando aproveitar o momento político para surgir como grande nome de peso na política nacional. Com tantos candidatos fortes disputando a mesma vaga, os votos serão divididos e pulverizados. Os percentuais serão menores.
E é aí que surge a chance de uma surpresa aparecer. Talvez a figura que o país busca para romper com as amarras políticas que a população já não parece mais suportar. As barreiras aos novos candidatos são menores, o déficit eleitoral a ser vencido também é. Ao mesmo tempo, com tanta gente conhecida concorrendo, o nível de exigência também aumenta: para se destacar, o candidato precisará ser muito bom. Acabou o bipartidarismo; em 2016, a lógica eleitoral é muito diferente dos anos anteriores.
Precisamos, assim, torcer para que o país ganhe com esse cenário. A política nacional, em outubro, deve passar por uma drástica renovação, com novos nomes e novos rostos despontando pelo país, ou, pelo menos, por uma reorganização, com nomes antigos, mas de influência apenas localizada, emergindo como os novos controladores da cena política do país. Há muito tempo busco um nome que consideraria “ideal” para assumir a presidência do Brasil. Ainda não encontrei, mas as eleições de 2016 podem nos mostrar o caminho.
Daqui para as eleições de outubro, teremos mais políticos denunciados e, provavelmente, uma presidente definitivamente impedida. Até lá, enquanto a pauta dos noticiários continua sendo o caminhar ébrio do país, sugiro que fiquemos ligados, nos bastidores, ao pleito que está para acontecer e cujo desenrolar já está sendo traçado. As próximas eleições municipais serão mais decisivas do que podem parecer.