Eita, dancei… #Opinião

Dançar é mais do que apenas movimentar seu corpo obedecendo determinado ritmo musical. Dançar é viver o momento, é escrever com o próprio corpo uma poesia com versos delicados, pensado palavra por palavra. Entender, que cada passo carrega um significado para quem o reproduz. E que sua transmissão, alcança interpretações das mais variadas formas para quem está assistindo.

A dança reflete a alma do dançarino. Uma forma de se comunicar com o outro por meio de gestos. De construir o mundo, através de movimentos que tangem o mais natural do ser humano, e que é transformado em arte. Vivemos em um mundo onde existem opiniões bem diferentes seja qual for o assunto. As perspectivas de vida e o modo como cada um percebe a sociedade se diferem de uma forma muito clara. E hoje, é perceptível que muitos de nós vivemos dentro de bolhas sociais. Ou seja, procuramos nos socializar e discutir apenas com pessoas que tem opiniões parecidas com as nossas. Deixando de lado ou até mesmo ignorando quem discorda de nossas posições.

Você já dançou? Já foi em algum espetáculo de dança? Ou conhece alguém que ama dançar? Acredito, que, pelo menos, uma das respostas seja SIM. Sou um estudante de jornalismo que aprendeu com o tempo, que conhecer coisas novas pode ser uma das melhores coisas da vida. Nunca fui um amante da dança, e até pouquíssimo tempo atrás, não enxergava este ritual como nada mais do que apenas uma forma de entretenimento.

Porém, passamos por experiências em nossas vidas, que nos fazem conhecer pareceres diferentes dos que estamos acostumados. E foi em um espetáculo de dança, no qual fui para ver meu irmão se apresentar, que consegui entender a amplitude que aquele evento trazia. A coreografia não vinha com passos aleatórios e sem sentido, tudo ali carregava um significado, por mais que a minha percepção tenha sido baseada nas minhas experiências. Mas o importante daquele dia, foi conseguir enxergar diante de uma apresentação de dança, o desenvolvimento de uma pessoa. E não apenas com relação a técnicas como dançarino, mas um crescimento como pessoa proporcionado por uma prática musical.

A dança sempre esteve presente na nossa história e hoje faz parte do nosso cotidiano, mesmo que muitas das vezes pareça ser imperceptível, acarreta um aspecto cultural muito forte. E é através da cultura, que carregamos a história de um povo. Levando nossa reflexão para um lado mais psicológico, podemos citar várias áreas na qual a dança ajuda no desenvolvimento humano. Seja ele corporal, mental e/ou comunicacional. Mas quero me aprofundar, na contribuição da dança como prática que auxilia no desenvolvimento cognitivo do ser humano. Onde traz uma carga de sociabilidade e relacionamento interpessoal muito forte, e este fator se torna ainda mais importante, quando é posto como ferramenta da educação. E é neste ponto que quero chegar. A leitura e a escrita por exemplo, são itens fundamentais para a educação. Entretanto, é importante citar que a atividade física como o próprio fato de dançar também ativa alguns processos de aquisição de conhecimento. Tais como o pensamento, a linguagem, a percepção, a memória, o raciocínio, etc., que fazem parte do crescimento intelectual.

Pude encontrar enquanto escrevia este artigo, o projeto “Favela em Dança”. O programa tem o objetivo de promover a democratização da cultura e da dança nas favelas brasileiras. Um negócio social que conecta pessoas de diferentes gêneros e classes sociais por meio da dança. Lucas Santos que é um dos fundadores e diretor artístico da iniciativa, entende a dança como uma forma de se viver, tendo como objetivo apresentar corpos que tem muito a dizer e que não costumam ser ouvidos como merecem. “Em um certo momento a gente viu nossos valores e repensou todos eles. A dança é uma saída para vida dos moleques da comunidade que já crescem com o peso de estarem para trás. Em geral somos pretos, pobres, oprimidos. O esforço é muito maior. E não é só o futebol que pode dar um futuro”, palavras de Lucas.

Dança é a arte que tem o poder de interligar as pessoas em prol de um único objetivo, se expressar através do corpo. “A dança consegue transformar pessoas de diversas formas. Ela cuida do corpo e te faz crescer mentalmente. Você consegue defender causas na dança, porque ela te coloca num grupo. Então você começa a respeitar o lugar dos outros. E começa a se pôr no seu lugar. Ela te faz um humano melhor.” – Projeto Favela em Dança.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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