Com uma câmera na mão e muito criatividade, Anderson Valentim está mostrando a favela de um jeito diferente
Imagine acordar com a notícia de que suas fotos estão correndo o mundo, sendo compartilhadas por nomes como o ator Caio Blat e o rapper americano Snoop Dogg, ou ainda que vão virar estampa de uma grande marca de roupa masculina. Foi exatamente o que aconteceu com Anderson Valentim, 34 anos, morador do morro do Borel. Tudo começou quando ele, estudante de design, casado e pai do Ábner, de 6 anos, conheceu o projeto “Favelagrafia”, criado pela agência de publicidade NBS Rio+Rio.
Anderson foi o último fotógrafo selecionado e mergulhou de cabeça na ideia. Ele comenta que a participação no projeto mudou a sua vida, trazendo novas perspectivas. “O projeto me deu uma autoafirmação que eu não tinha. Descobri meu olhar como fotógrafo, me vi como artista. Eu não tinha isso” – declara.
As fotos que Anderson faz são publicadas em perfis no Instagram @favelagrafia e @anderson.valentim.984, além de em outras redes sociais como o Facebook. Em novembro do ano passado, ocuparam o pátio do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, com outros cinco fotógrafos de favelas da cidade. É interessante saber que, antes do projeto, Anderson estava caminhando para olhar menos a favela onde mora, “estava deixando de participar de um projeto na Jocum, querendo focar mais no meu desenvolvimento profissional, tinha entrado na faculdade”, relembra.
Para ele, o maior desafio foi voltar a visão para sua realidade e extrair dali um novo olhar. “A proposta era evidenciar a arquitetura da favela, percebê-la a partir de um novo ângulo; isso acabou me trazendo para perto do território e das pessoas”. A foto de maior sucesso tem jovens trajados como traficantes e portando instrumentos musicais. A metáfora de que, com um olhar mais atento, você supera o preconceito da superfície, está ali naquela imagem marcante.
O fotógrafo não se contentou apenas em olhar para os becos e paredes e foi em busca dos personagens de seu território. “Eu sempre pensei que não há arquitetura sem o fator humano. Comecei a fugir do que estava designado no projeto e segui o meu olhar, e fui procurando as pessoas na favela”.
Quase um ano depois e com muitos projetos em sua mente criativa, Anderson reconhece que a oportunidade abriu vários horizontes, contatos com outras pessoas e o fez sentir como um artista. Como ele mesmo relata: “É um campo que vai se expandindo e hoje tenho uma nova perspectiva de vida artística”.