Em meio à quarentena, o Coletivo Alcoolismo Feminino, que está prestes a completar 3 meses de existência, ganha força. Na maioria dos grupos de ajuda a dependentes do álcool, a presença do público masculino é sempre maior, e muitas mulheres não conseguem compartilhar suas dores e culpas de forma mais confortável, o que acaba levando-as novamente para um lugar de isolamento.
Dessa maneira, Grazi Santoro, idealizadora do conjunto, viu a necessidade de criar um ambiente apenas para mulheres, com base nos princípios dos 12 passos. Apesar de os homens ainda serem os maiores consumidores de bebidas alcoólicas, o número de mulheres que bebem aumentou significativamente.
Em geral, as mulheres são mais propensas ao efeitos devastadores do álcool em comparação aos homens, devido a sua composição corporal. Como as mulheres têm mais gordura no corpo e menos água, o álcool demora mais tempo para metabolizar, facilitando o estado de embriaguez e causando consequências físicas mais danosas do que nos homens (uma mulher comum pode consumir a mesma quantidade de álcool que um homem comum, mas sofre impacto maior). O homem possui um índice metabólico maior do que o da mulher e em função disso geralmente o tempo para atingir o inebriamento na mulher é bem menor que nos homens, fora as questões hormonais e emocionais que acabam predispondo a mulher a um desenvolvimento mais rápido de um quadro de alcoolismo.
A pesquisa Vigitel 2018 mostra que, de 2010 a 2018, o índice de mulheres de 18 a 24 anos que bebem além do recomendado cresceu de 14,9% para 18%. Na faixa etária dos 35 aos 44 anos, esse índice passou de 10,9% para 14%. Chama atenção também o consumo de bebida alcoólica entre mulheres idosas: 11,3% daquelas com idades entre 55 e 65 anos bebem além do recomendado, de acordo com o III Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira, realizado pela Fundação Oswaldo Cruz.
Com todos esses dados é comprovado a importância de um olhar diferenciado para as mulheres que lutam contra a dependência do álcool e o quanto esse ambiente feminino ajuda na recuperação. “as salas de Álcoólicos Anônimos tem muitos homens, principalmente em comunidades, e ter um lugar onde você pode falar tudo aquilo que te faz mal, se identificar com outras mulheres, falar sobre situações como violência sexual por exemplo, a gente fica bem mais a vontade.” disse Elaine que tem 42 anos e começou a beber com 16 anos. Ela, que é uma alcoolista e mora no Vidigal, faz parte do Coletivo e está há 2 anos e 6 meses sóbria.
O Coletivo tem representantes em vários estados do Brasil e mantém um grupo no whatsapp de mulheres no propósito de não beber mais. Além disso, há uma psicóloga que acompanha e propõe algumas atividades de autoconhecimento e empoderamento. Duas vezes por semana há encontro no Meet para quem quiser participar, além do chat e o Instagram @alcoolismo_feminino onde são realizadas lives informativas e conteúdos sobre o transtorno são disponibilizados.
O apoio de uma mulher para com a outra é importantíssimo. Essa é mais uma luta que muitas mulheres têm travado. Mas, juntas, podem alcançar a superação e vencer.