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Cidade de Deus: Além das telas do cinema

Foto: Renato Moura/Voz Das Comunidades

Um pouco da história da comunidade mais conhecida do mundo

Passado mais de meio século desde o seu surgimento, muitos mitos foram criados em torno da Cidade de Deus. A comunidade ficou conhecida internacionalmente, a partir do filme de mesmo nome produzido em 2002 por Fernando Meirelles, inspirado no livro de Paulo Lins. A obra abordou questões polêmicas como uso de drogas e a violência extrema em uma área totalmente vulnerável e ignorada. Como qualquer adaptação, muito se comenta sobre a legitimidade dos dilemas dos diversos personagens e seus eventos entrelaçados no decorrer da trama, que tem como pano de fundo o bairro carioca. Deixando a ficção de lado, nada melhor do que ouvir a história através da própria comunidade.

Para entender um pouco melhor a história da CDD, é necessário analisar o contexto histórico do período do planejamento, na década de 60. Com o êxodo rural a todo vapor, milhares de famílias vindas especialmente do Nordeste acentuaram ainda mais o crescimento populacional. Foi então que, em 1962, foi criada a Companhia de Habitação Popular do Estado da Guanabara (COHAB – GB) começando assim um intenso programa de casas populares. Inicialmente, a ideia era de que essas unidades recebessem famílias retiradas de comunidades do entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas.

Surgimento

Existem duas versões para a origem do nome Cidade de Deus. A primeira seria uma sugestão de Dom Hélder Câmara para o então governador da Guanabara, Carlos Lacerda. A segunda e mais aceita (se assim pode-se dizer) é atribuída à visita da secretária de Estado de Serviços Sociais, professora Sandra Cavalcante. O projeto foi aprovado em 1964, e o início das obras se deu no ano seguinte.

Em 1966, o Rio foi castigado com uma das piores catástrofes de sua história. Foram cinco dias de temporal, deixando mais de duzentos mortos e cinquenta mil desabrigados. Essas famílias foram redirecionadas de imediato para escolas, para o estádio do Maracanã e para a Vila Kennedy. A Cidade de Deus estava em plena construção: 1.200 翻墙 casas de um total de 1.500 já estavam prontas, porém sem as devidas obras de infraestrutura. Foi necessária a criação de baterias de banheiros coletivos, além dos vagões de ocupação transitória, em estado bem precário para que fosse possível fazer a transferência daquelas famílias, em caráter emergencial, para as casas inacabadas.

Muitos desses desabrigados eram moradores de favelas da Zona Sul, como Catacumba, Parque Proletário da Gávea e Praia do Pinto. Conversamos com Maria Alice Pereira de Moraes, 59 anos, que hoje está na Cidade de Deus, exatamente por causa desse remanejamento. “Eu vim da Ilha das Dragas, no Leblon, perto da Cruzada São Sebastião: era uma pequena favela ao lado do Clube de Regatas do Flamengo. Depois daquela enchente, todas as famílias daquela região vieram para a CDD”. Segundo a moradora, o começo foi bastante difícil por serem apenas casas sem asfalto, e por haver apenas três linhas de ônibus.

Moradora, Maria Alice Pereira de Moraes - Foto: Renato Moura/Voz Das Comunidades

Moradora, Maria Alice Pereira de Moraes – Foto: Renato Moura/Voz Das Comunidades

Por uma infeliz coincidência, em 1996, uma enchente avassaladora atinge a Cidade de Deus. Até hoje o dia 13 de fevereiro daquele ano nunca foi esquecido pelos moradores. Ainda há pessoas desaparecidas desde a tragédia. A causa: o rompimento das comportas de uma represa. Especula-se que o lixo acumulado tenha contribuído para o aumento das proporções do ocorrido.

Foto: O Globo

Foto: O Globo

Hoje a Cidade de Deus cresceu é um polo de comércio e empregabilidade, além de ser referência em questões sociais e culturais. Mas os desafios ainda são grandes nesta comunidade que, para além do filme conhecido por todos, tem muitas histórias para contar.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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