Cesta básica da prefeitura: Quem espera, cansa e fica com fome

Mães de Alunos da rede municipal de ensino estão há quatro meses sem receber nenhuma assistência da prefeitura e já perderam a esperança da cesta básica ou cartão alimentação
Foto: Renato Moura
Foto: Renato Moura

A prefeitura do Rio anunciou no seu site no dia 24 de julho que desde o início da pandemia, por meio da Secretaria Municipal de Educação (SME), está entregando mais uma série de KITS MERENDA para alunos da rede municipal de ensino. Assim, desde o início da pandemia, a SME já entregou mais de 400 mil cartões e cestas básicas. E mais 50 mil cestas devem ser entregues para responsáveis de estudantes na semana que vem. Mas na prática será que realmente esse número apresentado pela prefeitura chega até as mães de alunos que moram na região do Complexo do Alemão

Esse é o caso da Vanessa, de 35 anos, moradora do Adeus, localidade do Complexo do Alemão, que tem uma filha de 8 anos e atualmente está desempregada. Mãe solo, Vanessa já até desistiu de esperar por algo da prefeitura: “Minha filha estuda na escola municipal João Barbalho e nunca recebeu esse cartão, na realidade nunca recebeu nada, eu já desisti de ir atrás”, diz Vanessa, que teve o auxílio emergencial negado e não recebe o bolsa família. 

Vanessa que está sem trabalho de carteira assinada, tenta fazer bicos para comprar alimentos, ela já perdeu as esperanças de receber algo da prefeitura.
Vanessa que está sem trabalho de carteira assinada, tenta fazer bicos para comprar alimentos, ela já perdeu as esperanças de receber algo da prefeitura. Foto: acervo pessoal

Já a Rosangela, moradora da Alvorada, outra parte do Complexo do Alemão, tem 4 filhos, 3 estão matriculados na rede municipal, e até agora a moradora não recebeu nada: “Eu já procurei, já fui atrás, mas pediram para eu aguardar ser chamada, é difícil esse tempo todo aguardando. Falta as coisas dentro de casa, estou desempregada, eu tento correr atrás e nada, não sei mais se eu falar, reclamar resolve alguma coisa. Minha conhecida pegou uma cesta da prefeitura, a cesta só vinha um kilo de arroz, um de feijão, uma lata de óleo, um leite, e um kilo de macarrão. No meu caso, como uma família de 5 pessoas passa o mês com essa cesta?”

Já a Dona Marcia, também moradora do Adeus, cria seus dois netos, que também estão matriculados na rede municipal. Ela já tentou de todas as formas e também não recebeu nem o cartão e nem a cesta básica que a prefeitura informa em seu portal que doou: “Eu já corri atrás, me cadastrei e nada, se não fosse meu filho que conseguiu uma cesta para mim, eu nem sei o que seria”.

E não diferente dos outros casos, a Paula, que mora na Canitar, no Complexo do Alemão, também está passando pela mesma situação. Com três filhos matriculados na rede municipal, ela só recebeu um mês o cartão alimentação no valor de 100,00 (cem reais), e não houve recarga, e nem recebeu a cesta básica durante esse período de 4 meses: “Me sinto Lesada! Sabendo que é mentira, eu não recebi nada e ainda assim as cestas que foram distribuídas para aqueles que conseguiram pegar, foram cestas de baixa qualidade e sem valor nutricional algum”. 

Na segunda-feira (27), o prefeito do Rio Marcelo Crivella anunciou a volta ao trabalho de 228 merendeiras de escolas municipais. O objetivo do prefeito é que a alimentação de alunos das escolas municipais seja servida em escalas de segunda a sábado, respeitando as medidas de higiene determinadas pela Vigilância Sanitária. Mas o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do RJ (Sepe) entrou com pedido na Justiça contra a decisão da prefeitura do Rio de reabrir os refeitórios das escolas municipais.

O sindicato pleiteou ainda que o Judiciário não permita a volta às aulas nas escolas municipais a partir de 16 de agosto. Entre os argumentos, o Sepe diz que a reabertura dos refeitórios é irresponsável e que não é possível manter o distanciamento necessário entre crianças e adolescentes durante toda a permanência nas unidades escolares.

A Paula deixa bem claro sua posição quanto à abertura dos refeitórios: “Estamos em casa desde março, pois tenho bronquite asmática e meu filho sequelas pulmonares, jamais os levaria simplesmente pra almoçar.”

Desde que a pandemia foi anunciada, e diversas famílias tiveram que ficar em isolamento social, esperava-se que fossem assistidas de alguma forma. Num primeiro momento, a prefeitura declarou que as escolas permaneceriam abertas para que alunos pudessem fazer a sua refeição, mas com o avanço do coronavírus não foi possível manter essa promessa. Logo, a solução foi a doação das cestas e cartões, só que a demora está sendo tão grande que a fome não espera!

Será que o prefeito passaria um mês com os alimentos da cesta básica da prefeitura? Ou esperaria 4 meses para receber o cartão alimentação? Ou no meio de uma pandemia, Crivella almoçaria todos os dias na escola municipal, se expondo ao vírus e não tendo as outras refeições, inclusive aos domingos

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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