A violência doméstica tem feito parte dos noticiários nos últimos anos, principalmente contra as mulheres, porque o índice de feminicídio (crime que mata mulheres só por serem mulheres) cresce a cada ano. Opressão, violência e morte caracterizam essa realidade de violência de gênero.Durante o período de isolamento social por conta do Coronavírus, a maior parte das famílias tem passado mais tempo juntas e isso tem resultado em um crescimento assustador da violência contra a mulher. O convívio maior dentro de casa com seus agressores, o stress econômico que a pandemia e o isolamento têm causado e o próprio medo do vírus contribuem para esse aumento. M.A., casada há 20 anos e que prefere não ser identificada, confirma: “Ele não sai mais pra trabalhar, era o tempo de paz que eu tinha”.
Em São Paulo, por exemplo, dados do Núcleo de Gênero e do Centro de Apoio Operacional Criminal (CAOCrim) do Ministério Público de São Paulo registraram 2.500 medidas protetivas em caráter de urgência só em março, no mês anterior foram 1.934. A Secretaria de Segurança de São Paulo de 24 de março a 13 de abril detectou que o número de mulheres assassinadas em casa dobrou comparado ao mesmo período do ano passado. E aqui no Rio não tem sido diferente, a Justiça registrou em março um aumento de 50% nesses casos.
Esse aumento não é isolado ou característico do Rio e São Paulo, a ONU (Organização das Nações Unidas) já alertou e pediu medidas para combater o que eles chamam de “aumento global de violência doméstica” durante esse período. Líbano e Malásia, por exemplo, viram dobrar o número de chamadas para as linhas de ajuda, em comparação com o mesmo mês do ano passado, já na China triplicaram. Na Austrália, o Google registrou o maior número de buscas pelo termo “violência doméstica” dos últimos cinco anos.
É no lugar que deveria ser o mais seguro que mulheres são mais ameaçadas, a quarentena intensifica as ameaças, que inclusive estão muito perto. Reportagens, com dados comprovados, mostram que a América Latina é o lugar mais perigoso para ser mulher, são registradas taxas recordes de violência de gênero todo os anos. O Brasil é o país onde mais mulheres morrem na América Latina, de acordo com dados do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. As denúncias por telefone aumentaram 17,97% nos nove dias seguintes à data em que o confinamento entrou em vigor; Argentina e Colômbia também registraram esse aumento. E esses números podem ser até maiores, já que é comum muitas mulheres sofrerem no silêncio.
Um relacionamento abusivo, em que alguém tem o poder sobre outro alguém, é o primeiro sinal de que as coisas já não estão boas, e falar sobre isso é necessário. Culturalmente, é ensinado ao homem o autoritarismo e o machismo, já a mulher ainda é ensinada a não ter voz.
É preciso muita informação, empatia e ajuda para saber identificar um agressor. No Brasil, existe o 180, uma central de atendimento por telefone que funciona como um disque-denúncia, e que é um programa nacional que recebe denúncias de assédio e violência contra a mulher e as encaminha para os órgãos competentes. Gratuito e confidencial, funciona 24 horas, todos os dias da semana, inclusive nos feriados, e com o anonimato garantido. Não tenha medo, a culpa não é sua, denuncie.