Daniel Paulino e Gustavo Lopes
Voz das Comunidades Alagoas
A Maternidade Escola Santa Mônica, localizada em Maceió, no bairro do Poço, que é referência em partos e atendimentos de gestante de alto risco, vem enfrentando desde a última quarta-feira (18), sérios problemas estruturais e elétricos. Durante as fortes chuvas que caíram em todo o estado de Alagoas na última quarta-feira (18), parte do teto da sala de pré-parto virou uma verdadeira cachoeira com uma enorme infiltração fazendo com que parte da unidade ficasse inundada de água.
As gestantes logo foram transferidas para enfermarias e outros setores da maternidade. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SESAU), o local onde apresentou a infiltração já teria passado por reforma e a empresa que realizou os reparos foi informada sobre ocorrido para que providências fossem tomadas.
Se o problema da infiltração que foi mostrado foi pequeno, outro de proporção maior veio à tona no final da tarde desta quinta-feira (19). Uma queda de energia que atingiu os bairros do Jacintinho e Poço, devido um acidente em que um veículo atingiu um poste, na Avenida Leste Oeste, tornou a maternidade em um verdadeiro caos.
Segundo a Eletrobrás, Distribuição Alagoas, a energia foi restabelecida logo no início da noite em todos os bairros que foram afetados, mais a maternidade continuou sem energia e a preocupação só aumentava, pois o gerador que deveria estar funcionado para suprir a falta da energia elétrica estava parado.
‘’Foi uma loucura. Enfermeiras, técnicas em enfermagem, nutricionistas, assistentes sociais e médicos se revezavam na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal e na Unidade de Cuidados Intermediários (UCI) para que os recém-nascidos recebessem oxigênio, pois sem energia os aparelhos não funcionavam e tudo tinha que ser feito manualmente por nós funcionários”, relatou uma funcionária que preferiu não se identificar.
Ainda de acordo com a funcionária, muitas mães se desesperaram em ver que todos os recém-nascidos corriam um sério risco de vida. ‘’Muitas delas gritavam e choravam e outras culpavam tudo o que estava acontecendo aos funcionários, mais nós estávamos muito preocupados com a vida daqueles pacientes que lá se encontravam e temíamos que o pior acontecesse”, disse.
Ainda sem energia, a direção da Santa Mônica junto com o reitor da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL), e com a Secretaria de Saúde de Alagoas decidiram realizar a transferência de todos os recém-nascidos e das gestantes para hospitais particulares e uma maternidade da rede Santa Casa de Maceió. A transferência foi realizada por Unidade de Suporte Avançado (USA) do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).
De acordo com o reitor da Uncisal, seis gestantes foram transferidas para o Hospital Universitário e quatro para a maternidade Nossa Senhora de Fátima. Já os recém-nascidos, dez foram encaminhados ao Hospital Geral do Estado (HGE) onde passam bem. No Hospital Arthur Ramos, Hospital do Açúcar e o Hospital Unimed receberam cada um dois recém-nascidos e a Maternidade Nossa Senhora da Guia recebeu um.
A Eletrobrás informou ainda que equipes que estavam de plantão foram deslocadas para a unidade de saúde com intenção de encontrar o problema e solucionar, mais foi descoberto que o problema não mais era de responsabilidade da Eletrobrás e sim da maternidade e só por volta das 23h que a energia foi restabelecida.
Segundo o reitor da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas em exercício, Paulo Medeiros, a situação da maternidade Santa Mônica é muito preocupante e ele deve continuar fechada até uma segunda ordem vinda do Governador do Estado de Alagoas Renan Filho.
‘’Ontem vivenciamos um verdadeiro caos que foi instalado dentro da Maternidade Escola Santa Mônica e graças ao trabalho fantástico que foi desenvolvido pelas equipes de médicos, enfermeiras, técnicos de enfermagem e dentre outros profissionais nós conseguimos evitar o pior”, afirmou Paulo Medeiros
Em entrevista ao Portal Voz das Comunidades Alagoas, o presidente dos sindicatos dos trabalhadores da saúde, Cícero Lourenço, afirmou que é um absurdo a forma que a direção da maternidade vem fazendo com os funcionários que com o fechamento da maternidade não sabem onde vão trabalhar. ‘’Diante do caos e da falta de responsabilidade dos gestores da maternidade Santa Mônica, convocamos uma reunião na segunda-feira pela manhã na porta da unidade de saúde para discutirmos a escala e o novo local de trabalho dos funcionários”, afirmou.
Cícero Lourenço afirmou que tudo o que está acontecendo na Santa Mônica após a transferência para unidade mesmo sem as reformas terem sido terminadas é de responsabilidade do Governo Estadual. ‘’Existe um certo desconforto de você estar em unidade que está passando por reformas”, dispara.
Já sobre quando a maternidade deve ser reaberta, Cícero prefere que ela só seja aberta quando estiver pronto para receber os pacientes. ‘’O governo deu noventa dias para que a maternidade fosse reaberta, mais nós do sindicato preferimos que ela fique fechada o tempo que for necessário para que problemas como esses não venham acontecer e, enquanto isso, o governo pode sim fazer convênios com outros hospitais privados para que a população não fique desassistida”, assegurou.
Com a maternidade Santa Mônica fechada, o Hospital Universitário Professor Alberto Antunes (HUPAA) é o cano de escape para todo este caos, mais que também já está superlotado. Na sala de pré-parto, onde tem capacidade para 12 pacientes, atualmente conta com 22 mais do que a capacidade permitida. Na sala de pós-parto, os 48 leitos estão todos devidamente ocupados. Na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal, que tem capacidade para 10 leitos, está com 18 recém-nascidos. Já na Unidade de Cuidados Intensivos (UCI), tem 20 bebês onde a capacidade e para 19.
De acordo com a direção da unidade, a maternidade do HU iria fechar este final de semana para realizar uma reforma nas tubulações de gazes, mais devido o fechamento da Santa Mônica a reforma foi adiada até que a mesma seja reaberta.
De acordo com uma técnica em enfermagem que preferiu não se identificar, a superlotação vem ocorrendo na unidade desde que a Santa Mônica fechou para reforma. ‘’Estamos trabalhando muito e correndo bastante para dar a devida assistência aos pacientes que aqui estão internos. Nenhum paciente está saindo daqui sem atendimento pois somos a única maternidade para atender gestantes com gravidez de alto risco aberta este final de semana em Maceió”, afirmou.
Durante uma reunião que acabou na noite da última sexta-feira (20), com membros da Sesau e do Ministério Público, a direção do Hospital do Açúcar se prontificou em ceder uma ala administrativa para adaptar em enfermarias de obstetrícia.