Um relatório divulgado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) na última segunda-feira (27) expõe um cenário alarmante: 122 pessoas trans e travestis foram assassinadas no Brasil em 2024. Apesar de representar uma leve redução em relação a 2023, quando 145 mortes foram registradas, o país segue como o mais letal para essa população pelo 16º ano consecutivo.
A Antra destaca que a vítima tinha apenas 15 anos e que a maioria dos assassinatos aconteceu em espaços públicos. O perfil das vítimas reflete um padrão recorrente: jovens trans negras, pobres e, em grande parte, nordestinas. O estado com o maior número de casos foi São Paulo.
O dossiê reforça que a violência tem um recorte racial e social bem definido. Entre os casos em que foi possível determinar a raça, 78% das vítimas eram negras – sendo 45 identificadas como pardas e 22 como pretas. Além disso, a média de idade das vítimas foi de 32 anos, o que reflete a baixa expectativa de vida da população trans no Brasil, que é de apenas 35 anos.
Outro dado preocupante é que jovens trans entre 15 e 29 anos têm um risco de assassinato cinco vezes maior do que outras faixas etárias. As mulheres trans e travestis seguem como as maiores vítimas desse tipo de violência.
A jornalista e graduanda em ciências sociais Lia Reis, cria do Complexo do Alemão, refletiu em uma conversa com o Voz das Comunidades sobre a divulgação dos dados, que representam um cenário de insegurança e violência para corpos trans. “Sempre trago muito essa indagação sobre o quão confortável é, para a sociedade em geral, lidar com a informação de que o Brasil configura a cada novo ano nesse ranking de países que mais matam a população [trans]”.
A população trans vive em constante alerta sobre cenários de insegurança nas ruas. De acordo com Lia Reis, o sentimento é resultado da falta de políticas públicas para a população. “É só um reflexo mesmo do fato da gente saber que é um país que segue matando e que as políticas ainda não foram construídas para preservação.”
“Desejo que a gente tenha futuro. É que a sociedade consiga cada vez mais nos enxergar enquanto humanos, que sinta que a nossa luta é uma luta de todos.”