Texto: Thaís Cavalcante
Presidente da República Jair Bolsonaro assina decreto em Brasília, dia 15/01/19. Foto: Alan Santos/PR
Jair Bolsonaro prometeu e cumpriu. Em menos de um mês de mandato, assinou uma de suas promessas de campanha mais polêmicas: mais facilidade do cidadão ter a posse de arma de fogo. Ou seja, ter uma ou até quatro armas dentro de casa ou comércio, caso ele afirme a real necessidade.
Anos antes de Jair Bolsonaro alterar o decreto sobre o assunto, tive uma amiga jovem, moradora de favela e muito religiosa. Ela passava por problemas psicológicos nunca percebidos por ninguém: tinha depressão e uma arma em casa. Viveu seus vinte e poucos anos pregando sua fé e morreu apontando uma arma para seu peito. Fiquei por meses me questionando o motivo que a levou a isso. Nunca vou saber. Mas essa situação mudou ainda mais a minha opinião sobre o assunto.
As soluções políticas parecem simples, mas assustam. O governo entregou em nossas mãos o poder de fazermos nossa própria segurança, a mesma que eles não conseguem fazer. E o suicídio é evitável. Diminuindo o acesso a armas de fogo, imagina quantas pessoas não teriam essa opção, que a minha amiga teve?
O laço amarelo é símbolo da prevenção e do combate ao suicídio no país. Foto: Elói Corrêa/GOVBA
Curioso é que diminuir o acesso de armas de fogo já é uma das medidas de prevenção defendidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que considera a questão como saúde pública. Isso deveria mudar o cenário de decisões relacionadas à segurança também, aplicando juntamente políticas públicas para diminuir os índices de suicídio no país, não o seu aumento.
Em média, 11 mil pessoas tiram a própria vida, por ano, segundo o Sistema de Informação sobre Mortalidade, em 2017. Entre as mulheres, é a oitava maior causa de morte.
Por isso, o cuidado deve ser redobrado para famílias que têm pessoas com quadro clínico de problemas psicológicos. Já as mudanças feitas no decreto não têm esse cuidado. Exemplo claro é que, se o interessado na posse informar em seu cadastro ter pessoa com deficiência em casa, deverá ter tranca ou cofre para guardar a arma. Só que não há qualquer informação sobre a maneira como isso será fiscalizado. Me pergunto de quem é o benefício, afinal?
Nesse primeiro momento de mudanças de leis, reformas e – principalmente – de governantes, desejo que ainda possamos ter esperança em reverter medidas como essa, a fim de promover a paz e não mais mortes e suicídios.
O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email e chat 24 horas todos os dias. Disque 188.