FOTO: O corintiano Witzel nos braços de um torcedor rubro-negro: até aqui, nada mudou. (Foto: Juliana Ramos/Governo do Estado do Rio de Janeiro)
O governador eleito sob a lógica da “renovação” recorre a vícios da velha política – e precisa mostrar que sabe trabalhar
Texto: Marcelo David
O governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel (PSC), eleito para o cargo aos 50 anos, era um completo desconhecido de seus eleitores a pouco menos de um mês do primeiro turno. Na primeira pesquisa Ibope, divulgada em 10 de setembro, Witzel sequer apareceu no gráfico: registrou 1% das intenções de voto. Vinte e sete dias depois, alcançou 41% dos votos válidos, o que o levou para o segundo turno contra o ex-prefeito do Rio Eduardo Paes, que concorria pelo partido Democratas (DEM).
Witzel foi ajudado pelo cenário. Nos últimos 21 anos, o único governador do Rio de Janeiro que não foi preso foi uma mulher, Benedita da Silva (PT). Os governadores mais recentes, Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, ambos do MDB quando foram eleitos, estão na cadeia até hoje. Uma situação como essa afasta o eleitor de qualquer debate e causa nele uma sensação de decepção diante da classe política. Muitas pessoas não votam nem participam de nenhuma discussão do tipo porque “é tudo igual” ou porque “todos roubam”, o que, embora o eleitor tenha seus motivos para pensar assim, não é verdade. Dessa forma, políticos que se apresentaram como a “renovação” levaram vantagem na última corrida eleitoral.
Sem nenhuma experiência na política, Witzel, um ex-juiz federal, percebeu que poderia ter maior sucesso nas urnas se colasse a sua imagem a do líder nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República – é um fenômeno eleitoral. A quatro dias do primeiro turno, Witzel declarou apoio a Jair Bolsonaro (PSL) e viu seus eleitores se multiplicarem. Deu certo, apesar de o próprio Bolsonaro ter declarado que não apoiaria nenhum candidato a governador “para não perder votos” em sua disputa contra Fernando Haddad (PT).
Foi nesse cenário que Witzel ganhou, mas agora, passados mais de 30 dias de governo, chama a atenção a quantidade de aparições públicas um tanto inusitadas do governador. Para a posse, Witzel mandou confeccionar uma faixa para vesti-la e não a retirou nem na reunião com seus secretários. O adereço não se trata de um item oficial no RJ e até hoje não se sabe exatamente o que levou o governador a usar a faixa, que lembra a de uma miss.
FOTO: Witzel, a faixa e o sorriso de miss. (Foto: Reprodução/Internet)
Quatro dias depois, Witzel vestiu um colete e um boné da operação Ipanema Presente, que visa melhorar o patrulhamento e aumentar a segurança nos bairros onde atua; no dia seguinte, exibiu um distintivo da Polícia Civil que carregava o seu nome (assim como a faixa, tal adereço não é um item oficial previsto para o governador); uma semana depois, durante a troca de comando no Batalhão de Operações Especiais (BOPE), Witzel vestiu uma camisa da tropa e fez flexões com militares.
Há um esforço do governador em parecer integrado ao Rio de Janeiro, talvez pelo fato de ele, Witzel, ser um paulista nascido em Jundiaí. Mas é importante entender o que de concreto para a população esse tipo de ação traz. No dia 21 de janeiro, Witzel visitou o Hospital Universitário Pedro Ernesto, administrado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), para fazer exames de rotina.
O governador prometeu em sua campanha que usaria a rede pública de saúde do estado – no entanto, Witzel foi criticado por diversos eleitores porque seu “atendimento” foi realizado sem que ele passasse pela fila no Sisreg, que é um dos grandes gargalos da Saúde fluminense. O governador também não foi atendido pelos médicos plantonistas, e sim por profissionais que estavam de folga – o que difere ainda mais o serviço oferecido a Witzel daquele que todos e todas nós temos que enfrentar quando precisamos de atendimento médico.
FOTO: Witzel veste o boné e o colete de policiais que farão parte da operação Ipanema Presente: fantasias e promessas que agora precisam de ações. (Foto: Phelippe Lima/Divulgação)
Um político que se elegeu como a “novidade” adotar práticas tão antigas como essas é, para dizer o mínimo, curioso. É importante que Witzel deixe as fantasias que adora vestir de lado e vista a roupa de governador do estado, respeite a máquina pública, pense em processos melhores e mais transparentes, crie formas de tirar o estado da calamidade financeira em que se encontra, explique melhor sua política de segurança pública (que em um estado onde guarda-chuvas são confundidos com fuzil precisam ser melhores do que “mirar na cabecinha”) e deixe a festa para um momento oportuno e sincero.
Recentemente, Witzel esteve no Maracanã vestido com a camisa do Flamengo e vibrou com a vitória do rubro-negro sobre o Bangu por 2 a 1, na estreia do clube no Campeonato Carioca. O governador tirou fotos com torcedores, foi ao gramado e pulou nos braços da galera em mais um capítulo de fantasias na vida do corintiano Wilson Witzel – agora governador eleito que precisa mostrar que também sabe trabalhar.