No último final de semana, centenas de fotos bombardearam a internet. Finalmente, a tragédia de Mariana-MG alcançava o oceano. Os moradores da vila de Regência-ES – paraíso da fauna e também do surf capixaba – registraram tudo. As imagens estampam o azul do oceano sendo invadido pela turva lama de rejeitos; homem tomando lugar da natureza.
A Samarco é responsável pelos danos? Obviamente. Assumiu os riscos quando decidiu ganhar dinheiro como mineradora – em 2014, foram 2,8 bilhões. Mas sejamos maduros: a culpa é de todos nós. O Rio Doce já vinha sendo assassinado antes da ruptura da barragem e agonizava graças ao assoreamento que sofrera ao longo dos anos.
A Samarco foi a 1ª mineradora do mundo a ter a certificação ISO 14001 e é líder em responsabilidade ambiental. A questão é que os padrões de sustentabilidade reconhecidos mundialmente não são minimamente suficientes para o zelo que requer o meio ambiente. A pressão por produção é sempre maior do que o seguro. Desenvolvimento justifica exploração desequilibrada, e isso no mundo inteiro.
E sabe o que motiva tudo isso? A sociedade de consumo. Aqueles metais acabam, justamente, nos carros caros, nas malas das grifes chiques, naquele celular última geração que todo mundo quer! Os altos preços no Brasil, ao contrário do que se pensa, se dão por uma razão cultural: as pessoas não só aceitam pagar mais, elas querem o preço alto pra se diferenciar.
Ser rico não é pecado! Entretanto, quando o limite da sensatez é excedido na compra, o exagero da exploração é legitimado. Derrogar a culpa pra Samarco é uma forma fácil de não assumir a parte que todos temos. O desafio que nos surge, enquanto humanos, é pensar uma nova consciência executiva mais preocupada com o mal que deixamos no mundo e menos com as futilidades que ostentamos.