O calor em minha pele me acorda, abro os olhos, mas está claro demais e prefiro fechar novamente. Os pés se movimentam querendo despertar, sinto pequenos grãos que os massageiam enquanto eles se mexem de um lado para o outro. Os dedos das mãos também iniciam seus movimentos, pequenos grãos são sentidos e os dedos desenham livremente sobre a areia. Os olhos já acostumados com a luz do sol agora miram o mar com o desejo de refrescar o corpo suado. Renovação é a palavra para a minha sensação.
Percebo que o contato com a natureza é algo revigorante, não só para mim mas para muitas outras pessoas também. Alguns preferem o mar, outros a trilha na mata, a escalada em uma pedra, banho de rio, de cachoeira, lagoa e assim vai… São algumas as possibilidades que a natureza nos oferece.
No mundo de hoje é difícil nos conectarmos com a natureza. Diariamente somos convocados a estar com o celular na mão, seguimos um modelo de relações mais superficiais e vivemos com o medo do outro. Nos esquecemos de onde viemos…
Alguns dizem que houve uma grande explosão e a terra se fez, outros dizem que a partir de um som tudo se criou ou que Deus em apenas sete dias tudo fez. Surgiu o dia e a noite, mar e terra, plantas, animais e por último o homem. Alguns também contam que ele foi desenhado no barro e com um sopro ganhou a vida. Mas em todas as histórias contadas, o homem só pôde surgir depois que a natureza se estabeleceu.
A floresta nos alimenta e o rio nos abastece, criamos grupos pois percebemos que sozinhos não sobreviveríamos. Percebemos com o tempo que éramos diferentes dos outros animais, conseguimos criar algumas coisas que facilitavam a nossa vida, éramos diferentes mas não melhores e nem piores. Precisávamos de todos os animais para um bom funcionamento da natureza, cada um com a sua função para a harmonia do ecossistema.
Nossas invenções foram aumentando cada vez mais, aos poucos nossos pés já não pisavam na terra, os olhos já não se olhavam, a compreensão do grupo como comunidade foi se afastando e criamos bombas, o dinheiro, a culpa e muitas outras coisas. Com o tempo fomos esquecendo nossa criação, nossa essência. Escolhemos um caminho de difícil retorno, tivemos que encarar novos obstáculos que não estávamos acostumados, guerras, doenças, fome, dor, tristeza. A homeostase do mundo desandou.
Esquecemos quem somos, vivemos na busca por algo que nos satisfaça, fazemos mil planos para o futuro e esquecemos de viver cada momento de nossa vida. Nossa vida como bicho, como contribuinte para o equilíbrio, como comunidade. Para mim, ir na praia me traz essa consciência que esquecemos no dia a dia, me faz entrar em contato com a essência da vida, com a nossa criação e tudo faz sentido. Por isso é necessário e renovador. Cada um tem a sua forma e o seu tempo de entrar em contato consigo. Mas, nunca adie esse momento.