A cultural da favela como ferramenta de transformação social

Por: Layane Coelho

O antropólogo brasileiro Roque Laraia define cultura como: o modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são assim produtos de uma herança cultural, ou seja, resultado da operação de uma determinada cultura.

O Brasil, que é um país com dimensões continentais, possui culturas diversas, regionais, e todas juntas, constituem a nacional. Porém, por sermos uma sociedade desigual, há uma classificação entre boa e ruim, certa ou errada e, muitas vezes, a cultura da favela é vista de forma distorcida e criminalizada.

Grafite, passinho, rap, funk, teatro, rodas de samba, são algumas das manifestações culturais que afirmam as características de um grupo que, através da arte, sobrevive, ajuda suas famílias, educa e mostra ao mundo que a favela, mesmo não sendo reconhecida pelo estado, produz conteúdos importantíssimos para a reflexão humana, além do potencial como produtora cultural.

A Lei Rouanet, promulgada em 1991, é a principal lei de incentivo à cultura no país. O incentivo é dado através de três instrumentos: o primeiro é o FNC (Fundo Nacional da Cultura) que atende a projetos com menor chance de captarem recursos próprios ou do mercado, o segundo, é o incentivo fiscal que empresas ou pessoas físicas podem doar ou patrocinar projetos artístico-culturais e, por último, os Ficarts (Fundos de Investimento Cultural e Artístico) que desde sua aprovação não foram utilizados.

Entretanto, poucos são os projetos nas favelas que recebem esse tipo de auxílio, além da burocracia, a maioria dos grandes patrocinadores prefere doar para aqueles que consideram dar mais visibilidade à marca. Mas, mesmo diante de todas as dificuldades financeiras e das violações de direitos, milhares de projetos sobrevivem com a ajuda dos moradores, de pequenos empreendedores, colaboradores individuais que acreditam na cultura e na educação como ferramenta para transformação social.

Conheça alguns projetos que vem transformando a vida de diversas pessoas nas favelas do Rio:

FAVELAGRAFIA

O Favelagrafia é um projeto idealizado pelo diretor de arte, André Havt, e pela designer Karina Abicalil e tem como objetivo mostrar ao mundo uma visão real de nove favelas do Rio através do olhar de fotógrafos que moram nas comunidades.

BALLET MANGUINHOS

Criado em 2012 por Daiana Ferreira, nascida e criada em Manguinhos, o projeto tem como objetivo dar aulas de ballet para crianças e jovens, além de oferecer passeios à teatros, museus, eventos culturais e excursões. Hoje, 213 crianças têm suas vidas modificadas através da arte.

SLAM LAJE

O Slam Laje que acontece no Complexo do Alemão é a primeira batalha de poesia realizada pelos moradores locais. Cada participante recita sua poesia e, todas elas, falam sobre algum aspecto da nossa realidade, como: educação, saúde, segurança pública, o cotidiano do morador de favela, etc.

ORQUESTRA MARÉ DO AMANHÃ

A Orquestra Maré do Amanhã foi idealizada, em 2010, por Carlos Eduardo Prazeres, filho do maestro Armando Prazeres, e tem como missão ensinar música clássica às crianças e adolescentes da favela, oferecendo conhecimento e oportunidades aos alunos do projeto.

OS ARTEIROS

Os Arteiros é um grupo de teatro para crianças, entre 7 e 15 anos, na Cidade de Deus, onde todos os integrantes participam das etapas de produção dos espetáculos, além de oferecer aulas de canto, violino, flauta e teclado. O projeto foi idealizado pelo cineasta Rodrigo Felha, pelo diretor Fernando Barcellos e pelo ator Ricardo Fernandes.

ORQUESTRA BELA OESTE

O Projeto Orquestra Bela Oeste, que acontece no Teatro Mário Lago, em Vila Kennedy, atende crianças, jovens e adultos que moram em favelas da Zona Oeste. As aulas são dadas por professores músicos policiais militares.

BANDO TEATRO FAVELA

O Bando Teatro Favela é um grupo teatral, no Morro da Providência, criado em 2015, pelas atrizes e produtoras Mônica Saturnino e Cintia Santanna. Os espetáculos abordam temas relevantes para a comunidade e utilizam linguagem simples.

ONG ATITUDE SOCIAL

A ONG Atitude Social promove ações como oficinas de leitura, audiovisual, artes e músicas para crianças e adolescentes, no Santa Marta. Sua principal meta é criar oportunidades para o desenvolvimento de pessoas em vulnerabilidade social.

MUSEU DE FAVELA

O Museu de Favela foi fundado em 2008 por moradores do Pavão, Pavãozinho e Cantagalo. O acervo do museu narra a história de, aproximadamente, 20 mil moradores, seus hábitos, eta e fica localizado nas encostas íngremes no Maciço do Cantagalo, entre Ipanema, Copacabana e Lagoa.

CENTRO CULTURAL CARTOLA

O Centro Cultural Cartola, localizado na Mangueira, tem como meta oferecer atividades de capacitação profissional, oficinas de música, dança e teatro. Além disso, o Centro faz pesquisas de documentação do samba.  

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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