Danillo Felix Vicente de Oliveira, de 24 anos, foi preso no dia 6 de agosto, no Centro de Niterói, por policiais à paisana, em um carro descaracterizado. “Já chegaram algemando ele e levando para a delegacia. Lá, no momento da prisão, foi o único dia que eu tive contato com ele e a última vez que o vi”, conta Ana Beatriz Faria, companheira de Danillo. O rapaz mora, com a mulher o filho de um ano, no Morro da Chácara, que também fica no Centro de Niterói.
O jovem está sendo acusado de assalto a mão armada mas não há prova alguma de seu envolvimento no crime. O que liga Danillo ao delito é a palavra da vítima, que fez reconhecimento por foto. Imagem essa que foi retirada do perfil no Facebook do rapaz e que data de 2017. “Como ele não tem antecedentes criminais, pegaram foto dele em rede social, de 2017, quando a aparência dele era outra, ele tinha o cabelo curto na época”, conta Beatriz. A vítima relata que o assaltante era pardo e tinha um bigode fino.
Detalhes do caso
Danilo é negro retinto e usa cavanhaque. Além disso, as fotos que foram retiradas de sua rede social não condizem com a aparência atual do rapaz. O creme ocorreu em 2 de junho deste ano por volta das 22h, na Avenida Visconde do Rio Branco, em Niterói. “Primeiro a vítima vai a delegacia e reconhece uma pessoa e, depois reconhece o Danillo”, relata a companheira do jovem. As imagens utilizadas para reconhecimento do rapaz são de três anos atrás, ocasião em que seu cabelo era curto e seu cavanhaque menos aparente.
Há câmeras no local do assalto, o que facilitaria a identificação do autor do crime. Entretanto, essas imagens não foram solicitadas pela polícia. Ana Beatriz conta que chegaram a pedir, depois de uma solicitação de sua advogada mas as datas estavam incorretas. “Pediram as imagens da data errada e depois, quando a nossa advogada argumentou que era o dia errado, solicitando as filmagens no dia correto, disseram que não haviam câmeras no local e a gente sabe que tem, conhecemos o local”.
Trabalho e saudades do filho
Danillo Felix trabalhava como mensageiro na Universidade Federal Fluminense (UFF). Porém, devido à pandemia, fato pelo qual as faculdades ainda se encontram fechadas, o jovem estava trabalhando em casa, ajudando sua companheira em seu negócio de vendas de roupas pela internet. “Ele começou na UFF no bandejão, depois foi para o gabinete, para entregar documentos. Fizeram até um Chá de Bebê para a gente, quando fiquei grávida, no gabinete do reitor da universidade. Danillo trabalha lá há cerca de três anos mas como é serviço terceirizado, chegou a trocar de empresa”, conta Beatriz.
“Ele estava em casa no dia do crime. Infelizmente, não temos fotos ou vídeos dele neste dia para comprovar. Afinal de contas, realmente ninguém tira fotos dentro de casa todos os dias. Além disso, ele estava sem celular, usava o meu, inclusive, quando ele foi preso estava com o meu celular. Os últimos dias têm sido muito complicados. Nosso filho chama por ele o tempo inteiro. Fica falando ‘papai’ e pega o telefone para ligar”, relata companheira de Danillo.
Situação do caso Danillo
O julgamento do caso de Danillo está marcado para o dia 28 de setembro, véspera do aniversário de 25 anos do rapaz. Mas advogada do jovem, Cristiane Lemos, vai entrar com o pedido de habeas corpus ainda esta semana. “Na verdade, o processo dele rege em torno da falha no reconhecimento fotográfico em sede policial. Não há nada contra ele”, conta a defensora. Quando perguntada sobre a legalidade do reconhecimento por foto retirada de rede social a advogada é direta. “Legal não. Mas no ambiente policial é prática isso. Nos nossos pedidos falamos sobre a ilegalidade desse reconhecimento”.
O fato é que Danillo está há trinta dias preso por um crime sem prova alguma, longe de sua família. “Detalhe que em um mês que ele está lá dentro, o Danillo não passou o meu aniversário comigo e nem o aniversário do meu sogro, fazemos no mesmo dia. Também deixou de passar o Dia dos Pais com o filho e o pai dele. Mesmo que o Estado pague pelo que fez isso não será retomado, não será devolvido a ele”. A injustiça já está feita, cabe ao Estado de direto rever seus erros e reparar os danos. A petição que on-line que pede a liberação de Danillo já conta com mais de 3 mil assinaturas.