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Restaurante criado por família do Morro da Caixa D’água faz sucesso na Penha

O Bela Vista, além de fazer jus ao nome, virou atração na comunidade pela qualidade da comida e sabor

Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

No Morro da Caixa D’água, comunidade do Complexo de Favelas da Penha, um empreendimento vem conquistando o apetite dos moradores. O restaurante familiar Bela Vista, além de fazer jus ao nome, com visão de 180° de uma parte do Rio de Janeiro, virou atração na comunidade pela qualidade das comidas no cardápio e estética.

Surgem cada vez mais opções de locais atrativos para moradores de favela, de dentro para dentro. Um destes espaços pertence à família de Walter da Cruz, de 63 anos, Felipe Cruz, 30 anos, e Maria Anunciada da Cruz, 61 anos, que há quatro anos começaram o Bela Vista. O local aos poucos foi se tornando o que é hoje, de uma forma natural. O que começou como uma lanchonete no quintal de casa, para ajudar Felipe, que ficou desempregado, tornou-se uma das principais atrações para o Complexo da Penha e adjacências. 

Restaurante por “acidente”

O espaço onde é o restaurante atualmente seria, no início, um local de descanso familiar, muito sonhado pela dona Maria Anunciada. Porém, aos poucos, quando a fachada da casa precisou ser reformada para melhorar o atendimento da lanchonete, os clientes foram deslocados para o quintal e não quiseram sair mais. “Eu aceitei isso, o sonho deles se tornou o meu. Os clientes hoje saem daqui felizes, elogiando minha comida, o lugar, e isso pra mim é o que mais importa. E hoje quero deixar aqui (o quintal) do jeito que eu quero. Mas, agora em vez do meu espaço, há um espaço para as pessoas da favela se sentirem bem”, ressalta Maria Anunciada, que é a cozinheira geral do restaurante. 

A família começou o restaurante e teve o sonho abraçado por outros membros da família 
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Pai e filho caíram de cabeça na ideia de investir no sonho de um restaurante turístico. Felipe utilizou os anos de experiência em que trabalhou em restaurantes para pensar a identidade do Bela Vista. Walter botou em prática tudo que era pensado por ele e por sua família. Toda a estrutura da pensão é fruto do seu trabalho.Fomos nos adaptando conforme fomos crescendo, e trabalhando juntos. Meu pai construiu cada coisa aqui, das grades até os detalhes no chão. Foi um processo longo. Estamos assim arrumados bonitos tem apenas 1 ano, mas, por trás disso, tem aqueles anos do início”, conta Felipe.

Por que Bela Vista?

Mesmo que seja fácil identificar um dos motivos da pensão levar o nome Bela Vista, a ideia surgiu a partir de uma cliente que, ao se deparar com aquela visão, deu a sugestão à família. “Conheci o lugar através de um tio meu que é moto táxi e indo almoçar lá já comentava tanto do tratamento dado no local, quanto da vista que era linda”, contou Poliana Silva. Aos poucos, a moradora foi virando cliente das boas refeições e, com a chegada do serviço de delivery do restaurante, batizou de Bela Vista para se referir ao local. “Eu tinha que ir até lá de moto porque não tinha o número deles para contato, foi então que vi que na minha agenda tinha “outros Felipes” (Felipe que é o responsável por responder as mensagens no WhatsApp do restaurante). Então resolvi dar um nome para especificar. Foi aí que, devido aquele lindo lugar e aquela linda vista, eles tinham escolhido colocar Felipe, do Restaurante Bela vista”. 

Comida preferida de Poliana é o frango grelhado
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Estabilidade e novas metas

Com os negócios indo bem, a estabilidade financeira foi um fator muito importante para a família, já que, durante os anos iniciais, a maior parte do dinheiro que entrava era destinado para a estruturação da pensão. Walter muitas vezes tirava do salário do emprego que tinha na época para ajudar a mulher e o filho nas suas rendas. “De um ano e meio para cá que conseguimos nos tornar autossuficientes para todos terem a sua remuneração, e também de contratar e pagar dignamente funcionários para os ajudar. Hoje nossa maior preocupação com esse crescimento é manter a qualidade da comida, não perder essa identidade”, destaca Walter. 

O espaço tem dois andares e em todos é possível aproveitar a vista do Complexo da Penha 
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Atualmente, além do trio familiar, a equipe do restaurante conta com outros 6 funcionários, todos moradores da região do Morro da Caixa D’água. A equipe é preparada para atender a todos os moradores sem distinção. “A ideia é aqui é que seja um local acessível para todos. Do cardápio, com as comidas que as pessoas da favela estão acostumadas a comer, e gostam, ao bom atendimento, para que todos possam ter a experiência de um bom lugar para se alimentar, mas que se sintam confortáveis de estar na sua casa, que é a favela”, explica a família. 

Quero conhecer 

O restaurante fica na Travessa Geraldo n°5, Morro da Caixa D’água, na Penha, e tem como ponto de referência o Mirante da Caixa D’água, alto da Rua Imbuia à direita. Além do serviço de delivery pelo número (21) 98665-1864, o Bela Vista funciona de terça à domingo, de 12h às 15h30.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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