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Pipa na favela: perigos em meio a diversão

Em 2018, Elias estava tirando o brinquedo de um poste quando foi atingido por um tiro

Os perigos de empinar pipa podem ir além de cortes causados por cerol e linha chilena. Quedas, para quem brinca em lajes, e choques, nos que sobem em postes da rede elétrica, também podem ocorrer. Mas, para quem mora em espaços onde confrontos armados podem acontecer a qualquer momento do dia ou da noite, os cuidados devem de ser ainda maiores. Foi esse último, um incidente que pode ocorrer com qualquer morador de favela, que faz parte da história do adolescente Elias da Silva. Há dois anos, ele foi atingido por três tiros enquanto tentava resgatar uma pipa que havia ficado presa em um poste. Tudo isso na frente de sua casa, no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio.

O caso aconteceu em 2018, Elias, que na época estava prestes a completar 13 anos de idade, estava empinando sua pipa na varanda de casa quando o brinquedo ficou preso na fiação de um poste de energia. Nesse momento, o jovem foi até a frente de casa, na tentativa de recuperar o objeto. “Ele não subiu no poste, estava puxando a linha da pipa com outro pedaço de linha. E os tiros começaram. O Elias correu para o quintal do vizinho mas já tinha sido baleado. Na hora, ele nem percebeu que havia sido atingido”, conta Luciana da Silva, mãe de Elias.

Três tiros pegaram no corpo do menino, um não perfurou mas os outros dois sim. “Um projétil pegou nas nádegas dele, outro atingiu a perna e o escroto e o último atravessou um carro antes de pegar de raspão no meu filho, queimando a barriga dele e deixando uma cicatriz. Não estava tendo operação. Foi um encontro entre policiais e traficantes, os tiros começaram de repente. Nós morávamos na localidade Quiri, na época”. Felizmente, o Elias não teve nenhuma sequela, os tiros não atingiram nenhum órgão vital.

Atualmente Luciana e seu filho moram no Morro do Adeus, no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio de Janeiro. Elias vai fazer 15 anos, no fim deste ano e ainda solta pipa, ele é apaixonado pela brincadeira, o que não agrada muito sua mãe. “No dia do acidente, eu havia dito para ele não soltar pipa antes de eu chegar em casa. Naquela época estava tendo um festival de pipa na comunidade e ele estava muito animado, por isso, mesmo eu tendo dito para ele não empinar pipa, meu filho foi brincar na varanda de casa. Tentou tirar pipa de poste de alta tensão de energia, só isso já era perigoso. Mas tudo isso já passou, ele está bem, graças a Deus. Não proíbo ele de soltar pipa porém, peço que tenha cuidado sempre”.

Elias da Silva soltando pipa em casa

Adolescente viu acidente com amigo

Elias da Silva admite que não toma todos os cuidados necessários quando solta pipa e o fato de ter sofrido o acidente não mudou em nada seu gosto pelo brinquedo. “Minha mãe não gosta muito de pipas mais eu amooo! Ela fica muito nervosa quando vou empinar mas eu não. Quando estamos brincando, a gente acaba se distraindo e esquecendo da segurança, de tomar cuidado. O que é errado. Mesmo depois do que aconteceu comigo não tenho medo algum nem trauma mas sei e reconheço que é uma brincadeira perigosa”, conta o adolescente.

O jovem deixa ainda uma mensagem para outros adolescentes. “Vi um amigo meu cair da laje uma vez, o Lucas. Ele abriu a cabeça, a coisa foi feia. Temos de tomar cuidado mesmo. Eu, quando sofri o acidente, quiz voltar a soltar pipa no mesmo dia, ainda com os pontos na perna já estava empinando de novo, brincando. Gosto de ver a pipa voando bem alto, de ver ela lá longe. Me dá muita alegria, fico muito feliz. Mas quero deixar uma mensagem para aqueles que, assim como eu, amam pipa. Solte com responsabilidade, atenção, cuidado e respeito, principalmente com os outros colegas que estão soltando também. E se cuidem de uma forma geral. Temos de ter atenção”.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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