Colunista Convidada: Beatriz Diniz | Revisado por: Gabi Coelho | Foto: Reprodução/Internet
Iniciativas extraordinárias botam valor no ambiente e na sustentabilidade do lugar de morar
Meio ambiente é o lugar em que a gente vive [onde a gente mora, trabalha, transita, se diverte]. É no meio ambiente que tem tudo que a gente depende para viver: ar, água, alimentos, energia. Na ausência comum do poder público, iniciativas que ajudam a gente a cuidar do meio ambiente no lugar de morar são ainda mais extraordinárias, porque o que a gente tem de melhor ou pior do meio ambiente também é um jeito de manter a desigualdade entre ricos e pobres.
O empresário instala sua fábrica que polui ar e água na periferia da cidade e não se importa de prejudicar a saúde dos moradores nem de degradar o lugar em que moram, porque sabe que o lugar de morar dele sem negócios poluentes é garantido pelo consumo da gente. Políticos validam essa distância com isenção de impostos e autorização para poluir e degradar o ambiente longe do “lugar de rico morar”.
Cuidar do ambiente no lugar em que a gente mora tem efeitos diretos na vida cotidiana. Também é uma forma de resistir, de afirmar a existência que supera dificuldades, que faz brotar inovação, tecnologias, na colaboração, em criatividades e talentos contrastando com a cidade que não evolui.
Por isso, aproveito a oportunidade de escrever no Voz para destacar iniciativas em favelas cariocas que botam valor no ambiente e na sustentabilidade do lugar de morar.
Patrulhinha da Limpeza em Rio das Pedras
A iniciativa da Cleusa de criar e bancar a Patrulhinha da Limpeza em Rio das Pedras foi divulgada em O Globo em 2013. Na época trabalhando em salão e barraca de pastel, ela investia 240 reais por mês pra turma de 10 crianças ajudar os vizinhos a não jogar lixo em qualquer lugar. A Comlurb notou o sucesso do projeto, já que tornava a coleta mais eficiente [menos lixo para varrição nas ruas, melhor pra recolher em containers ou pontos de coleta].
A patrulhinha é uma tática potente na gestão local do lixo, replicável, flexível, que envolve vizinhança, mobiliza moradores, junta criançada para espalhar informação e atitude, tem resultados práticos no lugar de morar. Diminui o lixo nas ruas, aumenta a saúde no ambiente, melhor pra gente, reduz risco de doenças [a tampinha da garrafa plástica vira motel de mosquito com uma gotinha de água dengue, Zika, Chikungunya], favorece ações locais de reciclagem e compostagem. Capaz de influir para aprimorar o sistema público de limpeza, ampliar a coleta seletiva além da zona Sul, promover educação ambiental com articulação entre Comlurb e Secretarias Municipais de Educação e Meio Ambiente. Só isso.
Para ler a matéria no site do jornal, clica aqui.
Favela orgânica no Babilônia
Regina Tchelly é hoje uma Chef internacional, que viaja pelo Brasil e pelo mundo ensinando a cozinhar sem desperdício de alimentos, aproveitando tudinho, sem frituras e com muito sabor. Foi com folhas, talhos, cascas e sua cozinha de amor que ela mudou a própria vida e de seus vizinhos no Morro da Babilônia. Fundadora do Favela Orgânica, revolucionou a vizinhança com suas aulas de culinária, suas receitas mirabolantes e as pequenas hortas nos quintais dos moradores. Ela serve saúde na mesa das famílias com essa eficiência de não desperdiçar, ter mais ingredientes, fazer receitas mais nutritivas, sem gastar mais.
A potência da iniciativa da Regina conquista a gente pelo paladar pra mudar hábitos, experimentar novos sabores e texturas, ganhar saúde comendo [nutrir corpo, pele, cabelos], reduzir o lixo orgânico. Pra ter uma provinha, é só clicar aqui e dar play no programa Amor de Cozinha, exibido no Canal Futura.
Rede Favela Sustentável
A Rede Favela Sustentável botou no Google Maps as qualidades sustentáveis das favelas do Rio: projetos e negócios sociais e ambientais mapeados desde 2017 e que a gente localiza com alguns cliques [acesse aqui]. A horta comunitária do Educap no Alemão e Verdejar Socioambiental tão no mapa da Rede Favela Sustentável.
A iniciativa da Comunidades Catalisadoras [ComCat] reconhece favelas como um modelo sustentável [veja aqui o vídeo lançado na Rio+20]. Essa potência toda tá registrada no mapeamento de energia solar, culinária natural, reflorestamento, conservação, reciclagem, compostagem, telhado verde, de soluções em arquitetura, urbanização, tecnologia, educação, cultura, turismo.
O realizar de gentes em movimento, no empenho de dar ao lugar de morar essas qualidades de sustentabilidade [ambiental, social e econômica], é um caminho exemplar da resiliência que toda cidade precisa desenvolver e que só rola junto com seus moradores. O motivo de toda cidade precisa desenvolver resiliência é global, porque o mundo todo tem que aprender a lidar com o maior desafio da humanidade e compartilhar soluções. Apesar de pouco se falar na imprensa convencional no Brasil, um spoiler de final feliz pro desafio é cuidar do meio ambiente.
Beatriz Diniz é Jornalista com Especialização em Gestão Ambiental, marqueteira de conteúdo, social media de propósito, na lida de comunicação e sustentabilidade desde 2009.