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OPINIÃO | Toda cidade precisa. É desafio e solução. Brota nas favelas cariocas

Foto: Reprodução/Facebook
Foto: Reprodução/Facebook

Colunista Convidada: Beatriz Diniz | Revisado por: Gabi Coelho | Foto: Reprodução/Internet

Iniciativas extraordinárias botam valor no ambiente e na sustentabilidade do lugar de morar

Meio ambiente é o lugar em que a gente vive [onde a gente mora, trabalha, transita, se diverte]. É no meio ambiente que tem tudo que a gente depende para viver: ar, água, alimentos, energia. Na ausência comum do poder público, iniciativas que ajudam a gente a cuidar do meio ambiente no lugar de morar são ainda mais extraordinárias, porque o que a gente tem de melhor ou pior do meio ambiente também é um jeito de manter a desigualdade entre ricos e pobres.

O empresário instala sua fábrica que polui ar e água na periferia da cidade e não se importa de prejudicar a saúde dos moradores nem de degradar o lugar em que moram, porque sabe que o lugar de morar dele sem negócios poluentes é garantido pelo consumo da gente. Políticos validam essa distância com isenção de impostos e autorização para poluir e degradar o ambiente longe do “lugar de rico morar”.

Cuidar do ambiente no lugar em que a gente mora tem efeitos diretos na vida cotidiana. Também é uma forma de resistir, de afirmar a existência que supera dificuldades, que faz brotar inovação, tecnologias, na colaboração, em criatividades e talentos contrastando com a cidade que não evolui.

Por isso, aproveito a oportunidade de escrever no Voz para destacar iniciativas em favelas cariocas que botam valor no ambiente e na sustentabilidade do lugar de morar.  

Felipe Hanower / O Globo
Felipe Hanower / O Globo

Patrulhinha da Limpeza em Rio das Pedras

A iniciativa da Cleusa de criar e bancar a Patrulhinha da Limpeza em Rio das Pedras foi divulgada em O Globo em 2013. Na época trabalhando em salão e barraca de pastel, ela investia 240 reais por mês pra turma de 10 crianças ajudar os vizinhos a não jogar lixo em qualquer lugar. A Comlurb notou o sucesso do projeto, já que tornava a coleta mais eficiente [menos lixo para varrição nas ruas, melhor pra recolher em containers ou pontos de coleta].  

A patrulhinha é uma tática potente na gestão local do lixo, replicável, flexível, que envolve vizinhança, mobiliza moradores, junta criançada para espalhar informação e atitude, tem resultados práticos no lugar de morar. Diminui o lixo nas ruas, aumenta a saúde no ambiente, melhor pra gente, reduz risco de doenças [a tampinha da garrafa plástica vira motel de mosquito com uma gotinha de água dengue, Zika, Chikungunya], favorece ações locais de reciclagem e compostagem. Capaz de influir para aprimorar o sistema público de limpeza, ampliar a coleta seletiva além da zona Sul, promover educação ambiental com articulação entre Comlurb e Secretarias Municipais de Educação e Meio Ambiente. Só isso.

Para ler a matéria no site do jornal, clica aqui.

Foto: Reprodução/revistatrip.uol.com.br
Foto: Reprodução/revistatrip.uol.com.br

Favela orgânica no Babilônia 

Regina Tchelly é hoje uma Chef internacional, que viaja pelo Brasil e pelo mundo ensinando a cozinhar sem desperdício de alimentos, aproveitando tudinho, sem frituras e com muito sabor. Foi com folhas, talhos, cascas e sua cozinha de amor que ela mudou a própria vida e de seus vizinhos no Morro da Babilônia. Fundadora do Favela Orgânica, revolucionou a vizinhança com suas aulas de culinária, suas receitas mirabolantes e as pequenas hortas nos quintais dos moradores. Ela serve saúde na mesa das famílias com essa eficiência de não desperdiçar, ter mais ingredientes, fazer receitas mais nutritivas, sem gastar mais.

A potência da iniciativa da Regina conquista a gente pelo paladar pra mudar hábitos, experimentar novos sabores e texturas, ganhar saúde comendo [nutrir corpo, pele, cabelos],  reduzir o lixo orgânico. Pra ter uma provinha, é só clicar aqui e dar play no programa Amor de Cozinha, exibido no Canal Futura.

Rede Favela Sustentável

A Rede Favela Sustentável botou no Google Maps as qualidades sustentáveis das favelas do Rio: projetos e negócios sociais e ambientais mapeados desde 2017 e que a gente localiza com alguns cliques [acesse aqui]. A horta comunitária do Educap no Alemão e Verdejar Socioambiental tão no mapa da Rede Favela Sustentável.

A iniciativa da Comunidades Catalisadoras [ComCat] reconhece favelas como um modelo sustentável [veja aqui o vídeo lançado na Rio+20]. Essa potência toda tá registrada no mapeamento de energia solar, culinária natural, reflorestamento, conservação, reciclagem, compostagem, telhado verde, de soluções em arquitetura, urbanização, tecnologia, educação, cultura, turismo.

O realizar de gentes em movimento, no empenho de dar ao lugar de morar essas qualidades de sustentabilidade [ambiental, social e econômica], é um caminho exemplar da resiliência que toda cidade precisa desenvolver e que só rola junto com seus moradores. O motivo de toda cidade precisa desenvolver resiliência é global, porque o mundo todo tem que aprender a lidar com o maior desafio da humanidade e compartilhar soluções. Apesar de pouco se falar na imprensa convencional no Brasil, um spoiler de final feliz pro desafio é cuidar do meio ambiente.

Beatriz Diniz é Jornalista com Especialização em Gestão Ambiental, marqueteira de conteúdo, social media de propósito, na lida de comunicação e sustentabilidade desde 2009.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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