No meio da pandemia do Covid-19, que já fez mais de 21 mil vítimas por todo o Brasil, as favelas do Acari, Cidade de Deus e Providência, no município do Rio de Janeiro, e Salgueiro, em São Gonçalo, choraram perdas de jovens que foram vítimas de tiro nesta última semana. As balas que fizeram mais corpos nessas favelas são do confronto entre traficantes e policiais, devido às operações militares que continuam acontecendo mesmo durante o isolamento social.
Segundo o Observatório da Segurança RJ, projeto do CESeC, foram 120 operações monitoradas entre 15 de março e 19 de maio, fazendo 69 mortos. Em oito delas, o confronto armado impediu a distribuição de cestas básicas – deixando oito pessoas feridas e quatro vítimas fatais, segundo a plataforma Fogo Cruzado. No mesmo período, a Polícia Militar do Rio de Janeiro realizou apenas 36 ações de combate ao coronavírus.
As ações beneficentes foram interrompidas três vezes em Acari, Zona Norte do Rio, por operações com caveirão. A socióloga Buba Aguiar conta que nas ocasiões, além da interrupção da distribuição de cestas básicas, houve invasão em uma creche pública por parte dos policiais e paralisação da sanitização da região.
“É muito difícil lidar, é uma espécie de ronda da morte. Estamos tentando que as pessoas se mantenham alimentadas e prevenidas, que na estrutura política da nossa sociedade é papel do Estado fazer, mas o Estado está mais empenhado em nos deixar morrer e nos matar. O certo é direcionar atenção para as políticas básicas, como saúde e educação. O investimento correto nisso é a via mais segura para combater e diminuir números de crimes“, disse Buba, integrante do Coletivo Fala Akari.
As consequências das operações durante a pandemia são fortes. Visando diminuir os riscos para os moradores das favelas do Rio de Janeiro, o governador Wilson Witzel determinou, nesta sexta-feira (22), que as operações de busca e apreensão ou ações de inteligência da polícia não sejam realizadas nos momentos em que ativistas sociais promovam serviços humanitários.
Sem alteração de planejamento
Procurada, a Polícia Militar do Rio de Janeiro afirmou que as operações de enfrentamento ao crime organizado não sofreram alterações por causa da pandemia, sendo realizadas todas que foram planejadas pela área de inteligência da corporação para o primeiro quadrimestre de 2020. A corporação afirma, ainda, que ampliou a área operacional, incluindo atuação em bloqueios urbanos e rodoviários.
Confira a nota na íntegra:
“A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar esclarece que, antes e durante a pandemia provocada pelo novo coronavírus, as atividades operacionais da Corporação de enfrentamento ao crime organizado não sofreram alterações.
O número de operações mensais no primeiro quadrimestre deste ano, sempre planejadas com informações da área de inteligência, manteve-se no mesmo patamar.
O saldo operacional demonstra a dimensão do desafio: até o dia 20 de maio, somente a Polícia Militar apreendeu mais de 2.800 armas de fogo, entre as quais 145 fuzis. Nesse mesmo período, mais de 13 mil pessoas envolvidas com atividade criminosa foram encaminhadas às unidades da Polícia Civil por policiais militares.
Vale ressaltar que, com a chegada da pandemia em nosso estado e o consequente decreto governamental para conter o avanço da contaminação pelo Covid-19, a Corporação precisou ampliar seu planejamento da área operacional.