Com a chegada de 2025, o Complexo do Alemão renova seus sonhos e expectativas. Para muitos moradores, o Ano Novo representa mais do que apenas um ciclo no calendário; é uma oportunidade de buscar novas possibilidades, fortalecer laços e transformar a realidade ao redor. Em meio a desafios, os moradores compartilham suas resoluções e o que esperam mudar em suas vidas e na comunidade, revelando o espírito de renovação e resiliência que os motiva a seguir em frente.
Ingrid Anjos, de 35 anos, é mãe, empreendedora e fundadora da Doçura de Anjo – empresa de doces que nasceu durante a pandemia e hoje é sua grande aposta para um futuro melhor.
“Meu maior sonho para 2025 é abrir meu próprio espaço, onde eu possa unir o buffet e a fotografia, oferecendo também oportunidades de trabalho para outras pessoas da comunidade,” compartilha.
Para ela, o maior desafio no caminho é o tempo. “Administrar a vida pessoal e profissional é o meu ‘vilão’ atual, mas quando tudo tá dando errado é que uma hora vai dar certo. A gente não pode desistir.”
Dona Alice, mãe de Ingrid e parceira de trabalho, sente orgulho e gratidão ao lado da filha. “Eu me sinto privilegiada por trabalhar com a Ingrid. Ela é uma guerreira, não tem tempo ruim pra ela. Se não der certo de um jeito, ela tenta de outro. Estamos juntas somando forças em todas as áreas,” afirma.
E Ingrid aconselha: “Independente da situação, não desistam da família, do trabalho e sempre agarrem as oportunidades. Quando a oportunidade vem, ela precisa ser agarrada. Confiem e tenham esperanças de um dia melhor, porque Deus faz e realiza sonhos”.
Belisa Maia, de 39 anos, também está focada no crescimento de seu negócio e no autoconhecimento. Empreendedora, sua principal meta para o próximo ano é “prosperar no negócio e em todas as áreas da vida”. Com uma formação em marketing e experiência como gestora de redes sociais, começou a trabalhar com doces e sonha em expandir seu negócio, oferecendo serviço de delivery em 2025.
Ela também quer cuidar mais da saúde. “Preciso dar mais atenção à saúde. Não só minha, mas da minha família. Eu queria que a gente acordasse pra essa necessidade, Não esperar chegar as dificuldades pra poder se cuidar”. Apaixonada pelo aprendizado, Belisa continua investindo em seu conhecimento. “Estou sempre procurando aprender algo novo. Conhecimento nunca é demais,” afirma.
Para o futuro, ela sonha em ensinar gastronomia, atividade que vê como uma forma de inspirar e ajudar outras pessoas a crescerem. “Já fui professora de dança e explicadora; sempre gostei de ensinar. Seria um sonho dar aulas de gastronomia e transmitir o que aprendi”.
Jefferson Rodrigues, 38 anos, conhecido como Urso, é geógrafo. Para o próximo ano, ele tem como metas cuidar da saúde, área que acredita ser historicamente negligenciada por muitos homens. “Quero mudar essa perspectiva e dar mais atenção ao meu corpo e à minha saúde”, conta o Urso.
Outro desejo é o de construir sua própria família e lutar para que ela seja reconhecida. “Minha maior necessidade atualmente é o afeto e desejo encontrar relações verdadeiras que me permitam construir uma vida com mais sentido,” explica.
Do ponto de vista de um profissional da Educação, Jefferson é realista: “Ter esperança é bonito, mas ser realista é melhor. O Estado deveria se apropriar mais das diretrizes da educação e cuidar melhor das estruturas”. Como conselho para a comunidade, ele sugere: “Gostaria que a galera pudesse aproveitar as estruturas que temos no Alemão, que tratam de educação, para que todos tenham mais oportunidades de crescimento e um lugar melhor na sociedade”.
Seja através do desenvolvimento profissional, do autocuidado, do apoio familiar ou da valorização da educação, os moradores do Alemão mostram a força de quem ano após ano acredita em dias melhores. Em 2025, o Complexo do Alemão segue com sonhos e projetos que refletem a união e a determinação de quem acredita que com perseverança, aprendizado e esperança é possível transformar o presente e construir um amanhã mais justo.
A palavra resiliência também define bem dois moradores do Vidigal que esperam que 2025 seja de plenas realizações e de muito amor. Alexander de Souza Brum, um administrador de 38 anos, pai solo do pequeno Noah, de nove anos, aprendeu em 2024 que o que parece ser o fim, apenas sinaliza um recomeço necessário. Já para Lorena França, de 20 anos, estudante de jornalismo que sabe a importância do jornalismo comunitário para a juventude favelada, o ano de 2024 alimentou ainda mais o seu sonho de se realizar na profissão e proporcionar um futuro melhor para aqueles que ama.
Alex teve que se reinventar e prosseguir encarando a vida, mesmo diante de todas adversidades que apareceram. Ele que vivia uma vida estável trabalhando como gerente em um restaurante ficou desempregado e sem condições de arcar com as despesas. Quando estava prestes a desistir, recebeu uma oportunidade inesperada e isso fez tudo mudar.
“Eu cuido sozinho do Noah desde os quatro anos de idade. Em agosto deste ano, o restaurante em que eu trabalhava fechou e eu tive que buscar algo para me manter os mais rapidamente possível. Eu saí botando currículo, mas, como não aparece nada rápido, tive que ir até o colégio do meu filho para avisar que ele não poderia mais continuar lá. Foi quando eles me falaram que havia uma vaga de trabalho lá. Daí eu fiz a entrevista e consegui entrar!”, contou Alex.
O pai do pequeno Noah também falou da importância que tem a sua forma de encarar a vida e de como isso o motiva para continuar firme nos seus objetivos:
“Celebrar pequenas conquistas é importante para manter a motivação. Ser flexível também é preciso, porque a vida com crianças é cheia de imprevistos. É importante saber se adaptar às mudanças. Nunca esqueço de aproveitar os momentos especiais com meu filho, não estou sozinho nessa jornada, pois ele é minha motivação. Eu sei que 2025 poderá ser um ano repleto de crescimento e felicidade para nós dois!”, finalizou.
Lorena escolheu o jornalismo por gostar muito de esportes e de contar histórias, além de gostar de investigar as coisas. Descobriu em 2024 que essa profissão também é uma importante ferramenta para mudar a forma que o mundo vê o seu lugar, a favela. Ela percebeu também que tem uma chance para realizar sonhos e alcançar objetivos através dessa paixão.
Foto: Igor Albuquerque / Voz das Comunidades
“Esse ano o jornalismo me mostrou que dentro dele tenho a oportunidade de questionar, investigar e ir além do óbvio, o que é essencial tanto na profissão quanto na vida. Através do jornalismo comunitário, podemos também ajudar e dar voz às comunidades. Dessa forma, também podemos falar sobre o cotidiano da favela e como o morador se sente”, disse.
A estudante de jornalismo entende que o caminho para ter um futuro melhor é através dos estudos. Ela acredita que para pessoas de favela esse caminho é mais fácil, se investirem em áreas específicas na favela.
“Meu sonho é concluir minha faculdade, seguir com uma pós-graduação, alcançar uma estabilidade que me permita ajudar meus pais e, assim, melhorar a minha vida e a deles. Esse é o caminho que desejo trilhar para construir um futuro melhor. Nós da favela não temos as mesmas oportunidades que uma pessoa do asfalto tem, é preciso acreditar muito no nosso potencial sempre e não desistir nunca. Para que haja mudança nesse cenário é preciso que se invista em projetos sociais e políticas educacionais para todos”, finalizou.