O Morro do Sereno é uma comunidade localizada dentro do Complexo da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro. Ainda que se caracterize como uma pequena região do complexo, chegar à comunidade é como se encontrar com um gigante e sua verticalidade impressiona. Dos pontos mais altos do Sereno, é possível ter uma visão rica de, praticamente, toda a baixada fluminense e da cordilheira de montanhas que termina no Dedo de Deus. Mas, ainda que seja dono de toda essa beleza vista do mirante, moradores da localidade enfrentam grandes dificuldades de mobilidade e habitação na comunidade.
O Morro do Sereno é uma região muito íngreme e, por ter mata densa na parte alta, a chuva se concretiza como principal motivo de preocupação para alguns moradores. Com a força da água, deslizamentos de terra acabam caindo por cima de casas e, algumas vezes, prejudicando até acessos para algumas áreas da comunidade.
Thelma de Oliveira, de 65 anos, é nascida e criada no Morro do Sereno. Aposentada, ela mora numa casa de madeira que já foi atingida por deslizamentos devido às chuvas. “Eu moro aqui esse tempo todo. A ribanceira tava caindo e já caiu pra cima da minha casa. Meu marido recebe só um salário. Aí tivemos que parar tudo pra ajeitar em casa porque tava molhando tudo.” Thelma relata que tem elefantíase nas pernas e úlcera e critica a escada de concreto quebrada bem na frente do seu portão. “Eu já não aguento ficar subindo e descendo isso tudo. Só saio de casa quando eu preciso mesmo, caso contrário nem saio. É muito difícil”. Thelma também fala que os dias chuvosos são preocupantes. “Fico com muito medo. Eu tinha um puxadinho ali em cima que acabou caindo pra cima da minha casa. Tive que chamar um menino pra ajeitar pra mim”.
Quem também sofre com a força das águas é uma família que mora bem próximo à mata, no alto da comunidade. “Pra subir é difícil!”, alerta sorrindo Alexandre de Oliveira, 23 anos, que nos recebe em sua casa. Ele diz que já está acostumado com a subida, mas relata que às vezes encontra dificuldades algumas vezes com alguma sacola de mercado ou bolsa pesada. Quem complementa a fala de Alexandre é sua esposa Joice Silva, de 26 anos. Grávida de quatro meses, a jovem relata que adianta porque tem que subir com as coisas para casa de qualquer jeito. “Já subimos com colchão, sofá. Nós somos quatro pessoas. A união faz a força”, sorri ela. Joyce também fala que o auxílio médico da Clínica da Família próxima na região faz o acompanhamento da família. “Eles vêm aqui, dão vacina, perguntam como nós estamos. Dão toda a assistência pra gente. Já da prefeitura, não dá pra falar o mesmo. O lixo, por exemplo, a gente tem que levar lá embaixo.” Em dias de chuva, a família se organiza com ferramentas, como enxadas e foices para fazer desvios de água e baixar a mata. Questionados se já passaram por alguma situação difícil diante da força da chuva, Joyce relata que esteve perto de acontecer, mas não passou pela experiência. “A casa era de madeira catada na época e ficou bem perto de cair. Mas, depois que a gente construiu essa, nós nos mudamos. Mas estamos com planos de montar de novo nesse mesmo ponto, mas com condições melhores”, projeta ela.
Contatada, a Prefeitura do Rio de Janeiro informou que a Geo-Rio realizou uma vistoria no local e, no momento, está desenvolvendo um projeto com seu devido orçamento para, depois, colocar em trâmite licitatório.