Com apenas 13 anos, Raissa Luara de Oliveira, conhecida como Lua, é a fundadora de uma biblioteca comunitária no centro do Morro Tabajaras e Cabritos, em Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro. Mesmo tão nova, a idealizadora do projeto viu a necessidade de levar o acesso à leitura para crianças da comunidade onde mora.
A biblioteca inaugurou em 18 de outubro de 2019 com o nome “Mundo da Lua”. A ideia surgiu quando Lua foi à Bienal do Livro e notou que a literatura não faziam parte da vida de muitas crianças. “Eu fui na Bienal do Livro e vi que várias crianças não tinham acesso em geral a literatura, a cultura, e isso me comoveu bastante, fiquei muito chateada. Voltando para a minha comunidade vi que as crianças só tinham acesso na escola, mas a gente não fica o dia inteiro no colégio. Então eu tive a ideia de montar uma biblioteca aqui”, conta a idealizadora.
O Mundo da Lua é o primeiro projeto voltado à literatura no Tabajaras. Por dia, em média, 8 a 16 crianças e aproximadamente 20 adultos vão à biblioteca. Há cerca de 8 a 10 mil livros disponíveis, o número varia pois frequentemente doam para crianças do Tabajaras e outras favelas, além de bibliotecas populares do Rio e demais estados do Brasil. A dinâmica é bem prática, todos têm direito de pegar um livro emprestado e pode ficar até um mês com o exemplar. Após a devolução, a pessoa pode realizar outro empréstimo.
Sem ajuda governamental, Lua faz vaquinha para conquistar a sede própria
O Mundo da Lua fica localizado na rua Euclides da Rocha, número 507, no centro da comunidade. Nos últimos meses o espaço apresentou problemas de infiltrações provocando goteiras e danos na rede elétrica. Com o propósito de melhorar a biblioteca, Lua resolveu realizar uma vaquinha e em 8 dias bateu sua meta.
Apesar do valor já arrecadado Lua e sua mãe, Fátima, resolveram continuar com a vaquinha para tentar comprar um espaço próprio para a biblioteca. “Eu e minha mãe conversamos bastante e achamos mais responsável a gente comprar uma sede própria, porque é um prédio público e temos medo que a qualquer momento a prefeitura possa chegar aqui e pedir o prédio depois de tudo feito”, explica Lua.
O projeto não tem ajuda governamental, tudo foi construído a partir de doações. Agora a meta é arrecadar 110 mil reais para comprar uma nova sede. O dinheiro está sendo arrecadado através de uma vaquinha virtual disponível no site Voaa.
Literatura e empatia
A biblioteca fechou temporariamente devido a pandemia. Mesmo com alguns planos adiados, Lua se mobilizou para ajudar os moradores em vulnerabilidade.
“Na pandemia a Vânia (vice-presidente da associação de moradores) me ligou falando que algumas pessoas precisavam de alimento porque perderam emprego. A maioria da população aqui trabalha na praia, de camelô, e com o corona tudo parou e eles não poderiam fazer mais nada. Então a gente conseguiu 400 reais de seis pessoas que doaram e eu achei muito inferior, porque só dá para uma cesta básica. Daí eu preferi comprar tecido e fazer máscaras, outros tecidos foram doados e alguns minha avó tinha. Nós fomos para frente dos mercados e trocamos 1.010 máscaras por alimentos”, conta Lua.
Na última segunda-feira (21), Lua realizou uma ação de natal e distribuiu 200 livros e brinquedos para as crianças da comunidade.