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Morador do Alemão viralizou nas redes sociais ao falar sobre sua transição de gênero

Ao completar 1 ano da transição, Bryan Oliveira postou no Twitter sobre a importância de sentir bem consigo mesmo

Foto: Reprodução

No mês de fevereiro, o morador do Complexo do Alemão ganhou notoriedade nas redes sociais ao relatar em um post sobre sua trajetória até a transição de gênero. Bryan Oliveira, de 23 anos, da localidade da Sem Saída, usou a internet como ferramenta para encorajar outras pessoas que se identificam com a sua história.

Ao não se sentir mais bem consigo, o que refletiu no modo se vestir, em um determinado momento Bryan passou a usar roupas que tapavam seu corpo. “Nunca nada decotado, pois eu não gostava, não me sentia bem. Mas, mesmo sem gostar, usava saia, tentava viver igual as outras meninas e não me sentir “diferente”. Assim ninguém ia me “zoar”, pois já haviam piadinhas das quais não eram nada legais”, relatou ele, que tinha muito receio de ser julgado e reprimido pela família por ser quem é.

Acontecimentos familiares

Após a morte do pai, em 2010, tudo mudou em sua vida. A perda paterna fez com que ele perdesse o medo dos julgamentos. Dessa forma, reformulou seus pensamentos. “Comecei a mudar aos poucos meu modo de me vestir, de falar, de me comportar, mas sempre muito calado, sempre me escondendo, mas minha mãe sempre notando a minha mudança. E, nunca falou nada”.

A mãe dele teve papel fundamental neste processo. Ao assumir sua sexualidade na época, foi muito acolhido por ela. “Para minha surpresa, ela só me respondeu com a seguinte frase ‘seja quem você quer ser, nada mais importa do que a sua felicidade, te amarei igualmente’. Isso foi decisivo para eu realmente mostrar quem eu sou. Foi minha mãe sempre ter demonstrado que, independente de qualquer coisa, vai estar ao meu lado”.

Transição

Os anos foram se passando. Em 2019, o interesse pela transição cresceu. Ao conhecer uma pessoa transgênera, essa o ajudou neste processo com a indicação de uma procura psicológica. “Não me via mais naquele corpo, minha autoestima estava no chão. Eu não me sentia completo. Precisava me reencontrar. E, ir à psicóloga, me fez descobrir ser trans. Me fez reacender a luz que eu mesmo apaguei um dia. Me fez enxergar um caminho de amor nesse mundo de tantas injustiças”, comentou.

Nesta busca de se encontrar, Bryan começou a tomar hormônios por conta própria, porém em determinado momento viu que começou a prejudicar sua saúde, devido à ausência de orientação médica.

transição de gênero
Bryan antes e depois da transição
Foto: Acervo Pessoal

Respeito acima de tudo

“A transfobia assola o mundo lá fora, mas vivo na ousadia de não deixar que o mundo passe por cima de mim, sou resistente. Hoje vivo sem roteiros, não escolhi ser trans, apenas nasci pelo avesso e escolhi ser feliz. Hoje sou feliz por ter conseguido chegar até aqui”, desabafou Bryan Oliveira.

Em 2019 o Supremo Tribunal Federal decidiu tratar os casos de transfobia com base na Lei nº 7.716/1989, na qual são tipificados os crimes de preconceito contra raça e cor. Foi um passo importante mas ainda pequeno comparado aos altos números de pessoas que morrem no Brasil, simplesmente por serem quem são.  

No último levantamento divulgado pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), foi apontado que a ocorrência de 329 mortes violentas de LGBTs no Brasil em 2019, sendo 297 homicídios e 32 suicídios. A entidade, anualmente, faz o levantamento dessas mortes desde 1980. Em um outro levantamento feito pela ONG Transgender Europe, aproximadamente 175 pessoas trans foram assassinadas em 2020.

Os índices de mortalidade e violência não trazem apenas o medo de assumir a identidade de gênero, mas também de poder provocar transtornos de ansiedade, depressão e, até mesmo, pensamentos suicidas. Segundo dados do Grupo de Ação e Pesquisa em Diversidade Sexual e de Gênero (Videverso) da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP, apesar de não existirem dados oficiais, índices apontam taxas de 31% a 50% de suicídio entre essa população.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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