No dicionário, a palavra mobilidade significa a capacidade de movimentar, de se mexer. Outra definição explica que é a possibilidade de se mover rápido. Não é o que acontece na cidade do Rio de Janeiro. Andar pelas ruas com buracos, calçadas desniveladas se torna um desafio muitas vezes desgastante. Mas essa realidade é ainda pior para quem tem dificuldades de locomoção e vive em favelas. Idosos e dificientes físicos precisam se adaptar à falta de transporte adequado, grandes escadas, falta de rampas e asfalto mal feito.
Robson dos Santos vive no morro do Sereno, no Complexo da Penha, desde os quatro anos. Acostumado a descer e subir as ladeiras da localidade, viu sua vida ser transformada no final da década de 90. Pois, foi atingido por uma bala perdida em outra favela, enquanto saia da casa da ex-namorada. Ficou paraplégico e precisou se adaptar à nova realidade. Com isso, a locomoção dentro da comunidade se tornou um desafio ainda maior.
“É bem ruim porque carro e moto chegam em determinada parte da comunidade. E, depois, tem a escada. Eu subo de muletas, andando do jeito que dá, com muito cuidado. Mas é muito ruim, principalmente quando chove”, afirma Robson.
Robson anda de cadeira de rodas somente em longas distâncias. Ele afirma que tem paraplegia parcial, ou seja, consegue fazer a maior parte das atividades com muletas. No entanto, o esforço físico piora as dores crônicas, com as quais ele têm de conviver frequentemente. Segundo ele, andar de cadeira na comunidade seria impossível.
“Na verdade, na comunidade não tem acessibilidade nenhuma. Nem para mim, nem para idoso. E também tem outro lado que ninguém olha. Pessoas que se acidentam temporariamente, quebram uma perna, e não podem descer pra fazer uma fisioterapia”.
O morador relata que o local precisaria de um elevador ou de um teleférico para as pessoas frequentarem os compromissos delas com menos sacrifício. Porém, poucas favelas tiveram projetos de teleféricos e elevadores adaptados a esse contexto. No Complexo do Alemão, os teleféricos chegaram em 2011, mas desde 2016 não funcionam. No Complexo da Penha, não houve sequer um tipo de projeto parecido na região.
A vida longe das ladeiras e escadas
A mãe de Robson, Yedda Tupiniquim, de 84 anos, relata que, antes, a situação na região era pior. “Eu vim para cá quando eu tinha 26 anos. Não tinha escada, não tinha nada. Eu descia e subia, segurando o que eu visse na minha frente”.
Apesar da região ter melhorado devido às obras do Favela Bairro, as condições ainda estão longe de serem as ideais, segundo Yedda. Por isso, diferentemente do filho, a idosa precisou sair da comunidade, pois anda somente com ajuda dos familiares. Atualmente, mora em um apartamento na Vila da Penha, alugado pelos netos, o que trouxe à ela um pouco mais de conforto. “Eu não conseguia ir ao médico, não conseguia fazer nada. Só vivia trancada em casa. Como eu ia subir as escadas?”, destaca a senhora.
Contudo, revela que, apesar de todos os problemas, tem um carinho muito grande pela localidade. “Foi ali que criei meus filhos e meus netos. Sempre gostei muito dali, mas eu tive que sair, né?”.